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Entrevista: “Se a doutrina católica não é esta, condenem-me. Se a doutrina católica é esta, condenem-se.”

Por Revista Catolicismo

12 minhá 7 anos — Atualizado em: 9/1/2017, 8:46:56 PM


Revista Catolicismo – Junho de 2017

Com a obra Em Defesa da Ação Católica (1943), Plinio Corrêa de Oliveira denunciou uma verdadeira “revolução progressista” na Igreja que começava a grassar no mundo. Os erros de tal revolução se expande infelizmente nos presentes dias, por meio do clero progressista ou neomodernista.

Nossa edição anterior estampou anúncio da obra Plinio Corrêa de Oliveira denuncia no seu nascedouro a revolução progressista, no livro EM DEFESA DA AÇÃO CATÓLICA – Atualidade, eficácia e influência na História da Igreja.(1) Dado o interesse suscitado nos leitores, Catolicismo desejou entrevistar o autor, Juan Gonzalo Larrain Campbell, agrônomo formado pela Universidade Católica de Santiago e pertencente a uma das famílias mais tradicionais do Chile, de cuja atuante TFP foi um dos sócios fundadores.

Ele percorreu com Fábio Xavier da Silveira vários países da América Latina, para divulgar a obra Frei: o Kerensky chileno, no qual Fábio Xavier previu, com três anos de antecipação, a ascensão de um regime comunista naquele país irmão. Em 1967, Gonzalo Larrain veio pela primeira vez ao Brasil, quando conheceu Plinio Corrêa de Oliveira. Três anos depois se estabeleceu em São Paulo, onde reside até hoje.

Como discípulo do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, Gonzalo Larrain teve contato muito assíduo com o mestre da Contra-Revolução — o qual perdurou até o seu falecimento, em 3 de outubro de 1995 —, e participou de inúmeras de suas reuniões, tanto públicas quanto internas, conhecendo e assimilando muito de perto o seu pensamento.

Em 2001, publicou o livro Plinio Corrêa de Oliveira: Denúncias e previsões em defesa da Igreja e da Civilização Cristã, o qual teve em 2009 uma edição ampliada em espanhol, sob o mesmo título. Ao longo de todos esses anos Gonzalo vem colaborando com Catolicismo, além de fazer conferências no Brasil e no exterior sobre a personalidade, a vida e a guerra ideológica travada a partir de 1928 pelo fundador da TFP brasileira.

*       *       *

Catolicismo Qual foi o objetivo que o senhor teve em vista ao publicar este livro, e por que utilizou no título o termo “revolução progressista”?

Gonzalo Larrain Falar de crise na Igreja infelizmente tornou-se banal. Isso, por vezes, mais confunde que esclarece. Ninguém ou quase ninguém sabe explicar no que consiste essa crise, qual a sua origem, a sua profundidade, quem são os responsáveis por ela, qual é o ódio e a perseguição desencadeados contra aqueles que se opõem a ela. Preferi utilizar o termo “revolução progressista” na Igreja, pois ela se insere no processo revolucionário descrito pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em sua obra-prima Revolução e Contra-Revolução. Revolução no sentido do processo que se iniciou com o Humanismo com o objetivo de destruir a Igreja e a Cristandade.

A fim de se compreender a referida “revolução progressista” que hoje assola o mundo, e que talvez não tenha ainda atingido o seu auge, nada me pareceu mais útil do que deixar consignado para a História o que se passou com o livro Em Defesa da Ação Católica, redigido por Dr. Plinio em 1943.

Catolicismo Uma de suas primeiras afirmações é que o livro Em Defesa da Ação Católica, escrito há mais de 70 anos, continua atual. Gostaríamos que o senhor esclarecesse este ponto para os nossos leitores. Atual por quê?

Gonzalo Larrain A pergunta me dá ocasião de completar a resposta anterior. Estou convencido — especialmente diante da confusão criada nesse pontificado do Papa Francisco — de que todos os erros denunciados naqueles idos de 1940, no livro Em Defesa da Ação Católica, pululam hoje abertamente no mundo católico. Erros esses que de início se manifestavam de modo sutil e sub-reptício, mas hoje afloram de modo incontestável.

O que considero de suma importância foi o fato de Dr. Plinio ter discernido tais erros na origem, tê-los concatenado, denunciado, além de ter previsto todas as suas consequências no campo espiritual e temporal, caso as autoridades religiosas não lhes cortassem o passo. Infelizmente o passo não lhes foi cortado… E membros da Hierarquia, colocados em postos-chaves, abriram as portas da cidadela dando impulso e emprestando o seu apoio aos erros que os agentes da Revolução mundial queriam incutir nos meios católicos. Tratava-se do clero progressista ou neomodernista, que não apenas acolheu os agentes desses erros, mas se tornou protagonista na difusão deles mundo afora.

Nesse sentido é que eu considero Em Defesa da Ação Católica como tendo sido e continua a ser um livro profético, conforme espero ter deixado claro no meu trabalho Previsões e denúncias em defesa da Igreja e da Civilização Cristã.

Catolicismo — A seu ver, como poderiam ser qualificados esses erros?

Gonzalo Larrain Podemos qualificá-los como a volta — isto é, o ressurgimento —, ainda com mais força, da heresia modernista, resumo, superação e requinte de todas as heresias anteriores, segundo palavras de São Pio X. Com efeito, o grande Papa santo do século XX condenou enérgica e cabalmente o modernismo em sua encíclica Pascendi Dominici Gregis, pois o mesmo tinha como objetivo a completa transformação da Igreja e da sociedade temporal num sentido radicalmente revolucionário, igualitário e liberal. O modernismo tendia veladamente para a meta socialista e anárquica. Condenado em 1907, ele renasceu no Brasil em fins da década de 1930, infiltrado em elementos-chaves — eclesiásticos e leigos — da Ação Católica e do Movimento Litúrgico.

Catolicismo O senhor sustenta no seu estudo que, além de atual, o livro Em Defesa da Ação Católica foi e continua sendo eficaz. Poderia explicar no que consiste tal eficácia?

Gonzalo Larrain Ao demonstrar essa tese, tomei o cuidado de evitar qualquer parcialidade. Para isso não me ative à opinião pessoal, mas fui procurá-la em autores que, em sua grande maioria, são adversários ideológicos de Dr. Plinio. Com a publicação e difusão de seu livro, ele esclareceu incontáveis espíritos que estavam confusos com as ideias novas — sublinho esta expressão — dos neomodernistas que começavam a grassar no movimento católico, além de desmascarar os progressistas. Assim, ele dividiu os campos, pois de fato o ambiente católico do Brasil ficou dividido de alto a baixo. Divisão esta que causou grande prejuízo à revolução progressista eclesiástica, pois freou sobremaneira o seu impulso inicial. A meu ver, foi esse o objetivo que Dr. Plinio teve em vista ao publicar o Em Defesa.

É por isso que toda a Parte VI de meu livro foi dedicada à transcrição de textos de autores que reconhecem a existência dessa divisão até nossos dias entre progressistas e antiprogressistas no Brasil, além de reconhecerem também a estagnação e deterioração da Ação Católica como resultado do Em Defesa. Aí se encontra a prova da eficácia da obra de Dr. Plinio, pois os recibos foram passados pelos próprios adversários que ele combatia.

Catolicismo O senhor teria uma consideração a fazer sobre o fato de a divisão dos católicos não ter sido suficiente para eliminar o progressismo?

Gonzalo Larrain De fato não o eliminou, mas obrigou os bispos progressistas a caminharem bem mais devagar na propulsão da Revolução até o Concílio Vaticano II, pois do contrário eles acabariam por perder sua influência sobre as bases escandalizadas. Tenho como certo que o Dr. Plinio sabia — ressalvando algumas exceções — que o Episcopado Nacional não o apoiaria naquele lance, mas que toda a responsabilidade da devastação post-conciliar cairia sobre o grosso do clero. Mesmo assim, a divisão nas bases católicas continua até hoje, o que tem impedido o Brasil de cair no comunismo. O que afirmo creio estar bem documentado no meu trabalho com textos de autores alheios às nossas fileiras.

Catolicismo Afinal, que apoio eclesiástico obteve o livro Em Defesa da Ação Católica, sobretudo se considerarmos que Dr. Plinio, à época, era o Presidente da Junta Arquidiocesana da Ação Católica de São Paulo?

Gonzalo Larrain Entre os apoios recebidos, o mais importante foi a carta de encômio enviada em 1949 ao autor em nome de Pio XII por Mons. Montini, futuro Paulo VI, então Substituto da Secretaria de Estado de Sua Santidade. Além disso, o Em Defesa foi prefaciado por ninguém menos que o então Núncio Apostólico no Brasil, Mons. Bento Aloisi Masella. Contou ele ainda com aprovações e encômios de 23 Arcebispos e Bispos do Brasil.

Outros apoios dignos de nota foram as Encíclicas Mystici Corporis (1943), Mediator Dei (1947) e a Constituição Apostólica Bis Saeculai Die (1948), que no seu conjunto enunciavam, refutavam e condenavam os principais erros apontados no Em Defesa da Ação Católica. Merece especial menção a “Carta da Sagrada Congregação dos Seminários ao Venerando Episcopado Brasileiro”, de 1950, na qual a Santa Sé condenou os mesmos erros, também causando grave prejuízo à Revolução no Brasil. Aliás, a documentação sobre o que acabo de dizer encontra-se registrada em meu livro através da pena de adversários ideológicos do Dr. Plinio.

Catolicismo Gostaríamos de saber se Em Defesa da Ação Católica chegou a influenciar a História da Igreja fora do Brasil. Caso afirmativo, em que medida?

Gonzalo Larrain Não há dúvida que influenciou, e em larga medida. Em primeiro lugar, porque desmascarando o progressismo, o livro impediu que o clero brasileiro se declarasse comunista. A isso se soma a campanha promovida pela TFP brasileira contra a Reforma Agrária socialista e confiscatória através da difusão do livro Reforma Agrária – Questão de Consciência, que Dr. Plinio escreveu em colaboração de Dom Sigaud, Dom Mayer e do economista Luiz Mendonça de Freitas.

A ampla campanha realizada pela TFP para a divulgação desse livro causou grande impacto na opinião pública, reavivando a fibra anticomunista dos brasileiros e evitando que em meados da década de 1960 a nação se tornasse comunista. Caso o Brasil tivesse caído no comunismo, provavelmente toda a América do Sul teria seguido o mesmo caminho, dando enorme força política e econômica à URSS e evitando o seu posterior colapso a partir da queda do Muro de Berlim. Basta considerar o proveito que a Rússia tirou e continua tirando de uma pequena Cuba, para se compreender qual teria sido a sua força com toda a América do Sul comunista. Essa imensa tragédia foi em grande medida afastada graças às denúncias feitas nos livros Em Defesa da Ação Católica e Reforma Agrária – Questão de Consciência.

Em segundo lugar, a ação das 25 TFPs e bureaux TFPs em 25 países dos cinco continentes representou uma luta ideológica contínua contra o progressismo, fundamentada no espírito e nos princípios sustentados no Em Defesa da Ação Católica, posteriormente consubstanciados em Revolução e Contra-Revolução, causando não pequenos danos ao processo revolucionário mundial. Também sobre isso dispomos de farta documentação.

Catolicismo Qual é a conclusão de seu livro?

Gonzalo Larrain De um lado, a causa essencial da confusão na qual se encontram a Igreja e a sociedade civil em âmbito mundial se deve em grande medida ao clero que, salvo honrosas exceções, aderiu ao progressismo. Será ele o grande responsável pelos terríveis castigos anunciados por Nossa Senhora em Fátima? Para ilustrar o que digo, recordo-me de um artigo de Dr. Plinio intitulado “Quem é ainda católico na Igreja Católica?”(2) publicado na “Folha de S. Paulo”, em 5 de janeiro de 1975, sobre a apostasia da quase totalidade do clero mundial.

De outro lado, se na massa católica do mundo de hoje há sadias reações, isto se deve em larga medida à fé inquebrantável de Plinio Corrêa de Oliveira que, sofrendo atroz e ininterrupta perseguição do clero progressista, declarou — como fica atestado no meu trabalho — a partir de 1943 a contra a revolução na Igreja, combatendo sem trégua a revolução progressista e ensinando até os seus últimos dias de modo profético e militante a verdadeira doutrina católica.

Com a autoridade moral que lhe deu a autenticidade de sua fé na Santa Igreja Católica Apostólica Romana, durante 70 anos de luta ele pôde proclamar: “Se a doutrina católica não é esta (a contida no livro Em Defesa da Ação Católica), condenem-me, e se a doutrina católica é esta, condenem-se”.

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Notas:

  1. Pode ser adquirido clicando aqui
  2. A íntegra desse artigo no link: http://www.pliniocorreadeoliveira.info/FSP_75-01-05_Quem_ainda.htm#.WRcsGOXyu1g

 

1 — “Olho interno” da 1ª página (180 caracteres):

“Estou convencido de que todos os erros denunciados naqueles idos de 1940, no livro Em Defesa, pululam hoje abertamente no mundo católico. Erros que de início se manifestavam de modo sutil”

2 — “Olho interno” da 2ª página (180 caracteres):

“Podemos qualificar os citados erros como a volta — isto é, o ressurgimento —, ainda com mais força, da heresia modernista, resumo, superação e requinte de todas as heresias anteriores”

3 — “Olho interno” da 3ª página (180 caracteres):

“Com a publicação e difusão de seu livro, Dr. Plinio esclareceu incontáveis espíritos que estavam confusos com as ideias novas dos neomodernistas que começavam a grassar no movimento católico”

4 — “Olho interno” da 4ª página (180 caracteres):

“Caso o Brasil tivesse caído no comunismo, provavelmente toda a América do Sul teria seguido o mesmo caminho, dando enorme força política e econômica à URSS e evitando o seu posterior colapso”

A obra pode ser adquirida clicando aqui

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Catolicismo é uma revista mensal de cultura que, desde sua fundação, há mais de meio século, defende os valores da Civilização Cristã no Brasil. A publicação apresenta a seus leitores temas de caráter cultural, em seus mais diversos aspectos, e de atualidade, sob o prisma da doutrina católica. Teve ela inicio em janeiro de 1951, por inspiração do insigne líder católico Plinio Corrêa de Oliveira. Assine já a revista e também ajude as atividades do IPCO! Acesse: ipco.org.br/revistacatolicismo

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