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Plinio Corrêa de Oliveira
IPCO em Ação

Semana Santa unidos ao sofrimento de Nosso Senhor e Nossa Senhora


Reproduzimos os comentários do Prof. Plinio, a um grupo de jovens, que desejava saber como a Igreja comemora a Semana Santa.

O texto datilografado, sem revisão do autor, é de 1989.

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Como estar unido a Nosso Senhor e à Nossa Senhora na Semana Santa?

“Nosso Senhor Jesus Cristo é a Cabeça do Corpo Místico da Igreja.  Isso quer dizer em concreto o seguinte.   A Igreja constitui uma sociedade.  Essa sociedade é uma sociedade hierárquica que Ele fundou, São Pedro é o chefe, os bispos são os príncipes locais da Igreja, enquanto o Papa é o monarca da Igreja Católica, manda nos príncipes, manda nos seus súditos diretos.  É até um ponto muito importante da Doutrina Católica.

Ele fundou a Igreja assim, e é um ponto muito importante da Doutrina Católica para saber, é o seguinte.  O Papa tem uma autoridade completa sobre todos os bispos, e também sobre cada fiel, direta!  Não é assim: o Papa manda nos bispos, e por meios dos bispos nos fiéis.  Não, não é verdade.  A autoridade do Papa é direta sobre todos os fiéis.  Se fosse indireta, o Papa dando uma ordem, o bispo não querendo, ele recusava e os fiéis não ficavam obrigados a seguir a ordem do Papa.

Isso não é verdade.  O Papa dando uma ordem, o bispo deve executar.  Se ele não executar, do mesmo modo, o fiel sabendo que ele mandou aquilo, deve fazer.  A autoridade do Papa é, portanto, direta sobre os bispos, e direta sobre cada fiel, sobre cada um de nós.  Essa é a estrutura jurídica da Igreja.  Mas além da estrutura jurídica da Igreja, constituindo um todo com ela, existe o Corpo Místico da Igreja. 

* O Corpo Místico da Igreja

O que é o Corpo Místico da Igreja?  É o seguinte.  Nosso Senhor Jesus Cristo na cruz morreu, e o sacrifício que Ele ofereceu da vida d’Ele foi um tesouro de graças infinito, que não se pode calcular.  E que se destina a todos os fiéis.  E em todos os tempos, em todos os lugares, até o fim do mundo.  Essas graças são, portanto, para salvar todos os fiéis.  Mais ainda:  para atrair à Igreja aqueles que não pertencem ao grêmio dela – portanto, heréticos, cismáticos, judeus, maometanos e tudo o mais que há por aí, ateus – atraí-los para a Igreja em virtude das graças que Nosso Senhor Jesus Cristo mereceu no alto da cruz.

* As lágrimas de Maria e os sofrimentos individuais dos  homens no tesouro da Igreja para a salvação das almas

Ele foi o Redentor.  A co-Redentora é Nossa Senhora.  Pelas lágrimas d’Ela, Ela concorreu para redimir o gênero humano.  Então, é o sangue de Cristo, fundamentalmente.  E porque Ele quis dar a Ela essa função nobilíssima, Ele quis que as lágrimas dEla também fossem tomadas em consideração pelo Padre Eterno para remir o gênero humano, e como tesouro para o gênero humano.

Mas Ele quis também que os nossos sofrimentos individuais, bem sofridos por amor a Ele, esses sofrimentos também fizessem parte desse tesouro da Igreja.  Então, é por isso que nós vemos que os santos sofreram tanto.  É porque eles com o sofrimento deles também representavam algo, e representam algo para o tesouro da Igreja.

Isso se simboliza de modo muito bonito na missa.  Os Srs. já viram, quando chega na hora da consagração, um pouco antes da consagração o Padre recebe uma gota de água dentro do vinho que vai ser consagrado.  Aquela água não pode ser consagrada, porque Nosso Senhor Jesus Cristo estabeleceu que a consagração é só com o pão e vinho.  Se quiser consagrar a água não sai a consagração.  Mas aquela  água misturada com o vinho forma um só líquido com o vinho.  E na hora da consagração ela é consagrada também.  De maneira que aquela gota d’água incapaz de ser transubstanciada no Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, ela é entretanto transubstanciada enquanto misturada naquele vinho.  É o símbolo do sacrifício dos fiéis.

Nosso sacrifício não vale nada.  Mas unido ao de Cristo Nosso Senhor e às lágrimas de Maria, também ele vale alguma coisa.  E é um lindo símbolo para nos animar a sofrer nas nossas lutas, perseguições, trabalhos, incompreensões e dificuldades, etc., sofremos e vamos para frente.  Aumenta a gota d’água, simbolicamente, quer dizer, aumenta a contribuição que Nosso Senhor Jesus Cristo quis que fosse indispensável também para a salvação dos homens.  Quer dizer, pelo critério, pelo gosto d’Ele – Ele podia dispensar isso – mas Ele quis dar-nos essa glória de nos associar a esse tesouro.

* Não há melhor coisa que alguém possa fazer  pela Igreja do que sofrer por ela

Então, quando algum dos Srs. estiver sofrendo, lembre-se  disso:  O sofrimento dos Srs. é a gota d’água, mas essa gota d’água certamente vai ser misturada aos sofrimentos indizíveis d’Ele, infinitos dEle, e os sofrimentos preciosíssimos de Nossa Senhora;  E vai servir para redimir todo o gênero humano.

E por isso eu costumo dizer que não sei que alguém possa fazer melhor coisa pela Igreja do que sofrer por ela.  Porque quase ninguém quer sofrer.  Eu falo debaixo desse ponto de vista, quase ninguém quer sofrer.  Existem alguns que rezam e alguns que trabalham;  sofrer todo mundo tem medo.

Então, se Nossa Senhora nos manda um sofrimento, nós devemos aceitar com contentamento.  Vamos ser mais úteis à Igreja do que se fizéssemos um lindo discurso, montássemos uma grande asso­ciação ou qualquer outra coisa:  nós estamos sofrendo.

***

O conjunto desse tesouro é o tesouro que tem um conjunto de almas, portanto, que sofrem;  Nosso Senhor Jesus Cristo com o santo sacrifício da Missa renova sempre a sua Paixão de modo incruento, não derrama mais sangue, mas renova a sua Paixão, e nós, em última análise, bem embaixo, nós também aumentamos isso.  Forma uma espécie de Banco do Sobrenatural.

Mas Nosso Senhor Jesus Cristo é tanto mais do que todo mundo, que Ele se chama a Cabeça desse tesouro, e os outros são o corpo desse tesouro.  Esse é Nosso Senhor, isso é o Corpo Místico de Cristo.

* A arqui generosidade do Homem-Deus, sofrendo sua Paixão para a salvação dos homens

Agora, Nosso Senhor, Ele é Homem-Deus.  Enquanto Deus, para  Ele não há presente, nem passado nem futuro, tudo é simultâneo.  Presente, passado e futuro são próprios para nós que estamos metidos na matéria, temos um corpo material, a matéria tem presente, passado e futuro.  Mas para as coisas do espírito não tem.  E  Ele viu tudo quanto haveria de pecado até o fim do mundo.  E Ele sofreu com esses pecados.  Ele conheceu cada homem, conheceu cada alma.  E durante a Paixão dEle, Ele rezou por cada homem que haveria de haver e cada alma até o fim do mundo.  Inclu­sive pelas almas que recusaram a graça, e que depois foram para o inferno.  Ele rezou.

É uma coisa de uma generosidade, de uma abundância, uma coisa extraordinária, maravilhosa, naturalmente.  Uma coisa maravilhosa.

* As cerimônias da Semana Santa

Agora, acontece o seguinte.  Durante a Semana Santa nós revivemos com Ele a Paixão d’Ele.  Quer dizer, a Semana Santa celebra a Paixão d’Ele.  Então, Quarta-feira Santa começa propriamente a parte mais densa da Semana Santa.  Rezava-se na Igreja, não sei se ainda rezam, o Ofício de Trevas, que é o Ofício que canta as trevas que vão enchendo o mundo, porque Nosso Senhor está sendo perseguido.

Depois, Quinta-feira tem a Missa que se reza, que celebra a instituição da Sagrada Eucaristia.  E depois o padre conduz o Santíssimo Sacramento até uma caixa bonita de madeira, dourada, etc., que é chamada “o sepulcro” [Monumento].  Porque assim como Ele depois da Ceia sofreu a Paixão e depois morreu, então depois da Missa que celebra a Ceia, as igrejas não tocam mais os sinos, faz-se a cerimônia tocante da desnudação dos altares:  o padre vai de altar por altar, tira as flores, tira os vasos, apaga as velas, os altares ficam nus, como se o culto tivesse cessado, porque Nosso Senhor está “morto” naquela caixa.  E todos os sinais de alegria da Igreja cessam.  Nosso Senhor está morto.

Na Sexta-feira Santa se celebrava a morte d’Ele.  (…).  Adorava-se o sepulcro.  Era o dia em que se osculava a cruz.  Os padres colocavam junto ao altar, mas na parte onde estão os fiéis – junto ao presbi­tério, portanto – colocavam uma cruz enorme, e os fiéis com uma música cantando coisas de dor, iam um por um oscular as chagas das mãos e dos pés dEle, os que queriam osculavam também a chaga do santo lado, aqui, onde a lança de Longinus entrou.  E se retiravam.

Quando chegava o bispo, tudo parava.  O bispo descia, com um revestimento todo roxo, com uma capa roxa, descalço em sinal de penitência, e percorria a igreja inteira descalço, com meias, naturalmente.  Chegava até o crucifixo, osculava também.  Depois saía pelo fundo da igreja.  E ficava tudo quieto, parado, etc.

No Sábado de Aleluia, era o Sábado que comemorava…  já começa a Igreja com as alegrias da Ressurreição.  E ao meio dia começava a bimbalhar, Cristo tinha ressuscitado.

E havia aqui no Brasil, não sei se nos países dos Srs. é a mesma coisa, havia um costume muito bonito.  Os moleques produ­ziam uns bonecos grotescos que eles chamavam de “Judas”.  E nessa hora era a hora de malhar o Judas.  Eles espancavam o Judas, etc., e todos os sinos das igrejas tocavam, tocavam, era a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo!

No domingo a Igreja estava toda florida e vitoriosa:  Cristo tinha ressuscitado, celebrava-se a Missa!

* Como viver cada dia da Semana Santa

A gente deve viver cada um desses dias.  No dia de trevas, a gente deve amar a Igreja enquanto sofrendo hoje em dia, deve-se aplicar para nossos dias, as trevas que vão enchendo o mundo.  A escuridão do pecado, da desordem, a abominação que vai enchendo o mundo em todos os sentidos: é trevas.

Depois, na Quinta-feira Santa nós devemos comemorar a resistência de Nosso Senhor diante de todas essas trevas.  Ele institui a Sagrada Eucaristia para estar conosco em todas as ocasiões.  Então, devemos comungar com especial devoção, mas devemos começar a prantear a morte d’Ele.  Mas prantear como pecadores, que sabemos que nós O ofendemos no passado, e que nós choramos os nossos pecados a vida inteira.  São Pedro, por exemplo, chorou a negação dele a vida inteira.  Conta a tradição que quando ele morreu – ele foi como os Srs. sabem crucificado de cabeça para baixo pelos romanos – ele tinha chorado a vida inteira tanto de ter negado Nosso Senhor, que ele tinha dois sulcos no rosto, que eram das lágrimas que corriam…

* Devemos ter a tristeza do varão: a indignação

Também nós devemos ter na nossa alma dois sulcos:  a triste­za dos pecados que cometemos, a tristeza dos pecados que os outros cometem.  Mas não é uma tristeza de velha chorona, não:  É uma tristeza de varão!  Quer dizer, a indignação contra nossos pecados.  Não me adianta eu me indignar com o pecado dos outros e não me indignar com o meu!  Primeiro é com o meu, quem pecou fui eu!  E eu fui o autor do meu pecado!  “Quia peccávi nimis cogitatióne, verbo et ópere“, está dito no Confiteor.  Quer dizer, porque eu pequei muitíssimo pelos pensamentos, pelas palavras e pelas ações;  por minha culpa, por minha culpa, por minha máxima culpa!  Portanto, peço e rogo à Bem-aventurada Virgem Maria, etc., vem o Confiteor todo.

Deve nos encher essa idéia dos nossos pecados e dos pecados dos outros.

No sábado, nós devemos malhar Judas!  Devemos oferecer a Nossa Senhora todos os nossos trabalhos para apresentar a Ele, todos os nossos trabalhos para malhar a Revolução gnóstica e igualitária!  No domingo, é a esperança do Reino de Maria!

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Plinio Corrêa de Oliveira

Plinio Corrêa de Oliveira

551 artigos

Homem de fé, de pensamento, de luta e de ação, Plinio Corrêa de Oliveira (1908-1995) foi o fundador da TFP brasileira. Nele se inspiraram diversas organizações em dezenas de países, nos cinco continentes, principalmente as Associações em Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), que formam hoje a mais vasta rede de associações de inspiração católica dedicadas a combater o processo revolucionário que investe contra a Civilização Cristã. Ao longo de quase todo o século XX, Plinio Corrêa de Oliveira defendeu o Papado, a Igreja e o Ocidente Cristão contra os totalitarismos nazista e comunista, contra a influência deletéria do "american way of life", contra o processo de "autodemolição" da Igreja e tantas outras tentativas de destruição da Civilização Cristã. Considerado um dos maiores pensadores católicos da atualidade, foi descrito pelo renomado professor italiano Roberto de Mattei como o "Cruzado do Século XX".

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