Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
6 min — há 10 anos — Atualizado em: 9/1/2017, 8:53:00 PM
Frei Betto declarou voto em Dilma. Em linguagem por vezes velada justificou sua posição, alinhando motivos pelos quais muita gente no Brasil será orientada pelo esquerdismo católico a sufragar a atual presidente em 26 de outubro. O ex-frei Boff reforçou o apoio e também Dom Demétrio, bispo de Jales que, com petulância, aproveitou para avisar: ─ Dilma, ao chegar aqui, viu o retrato do Papa Francisco e falou: Agora temos um papa que nos apoia.
Vamos às razões apresentadas pelo religioso dominicano: ─ Darei meu voto à Dilma para preservar a política externa do Brasil, soberana e independente, e aprimorar os programas sociais que, nos últimos anos, livraram da miséria 36 milhões de brasileiros(as). Embora o governo do PT tenha defeitos e contradições, não troco o conhecido pelo desconhecido. Quero um governo com política de participação social, comprometido com a agricultura familiar e a preservação da Amazônia. Louvo o Programa Mais Médicos que, graças à ação preventiva, reduz significativamente a mortalidade infantil. E voto em um governo que não criminaliza movimentos sociais, esteios da democracia. ─ É isso.
Agora, desvelar algumas delas.
1º) Preservar a política externa do Brasil, soberana e independente. Está aqui o primeiro e, ao que parece, mais relevante motivo. Na novilíngua companheira política externa soberana quer dizer agir contra os Estados Unidos. Independente quer dizer subserviente aos interesses das ditaduras cubana e venezuelana; fora o resto.
Em resumo, o governo Dilma agride interesses vitais dos Estados Unidos e bafeja ditaduras socialistas; isso deixa frei Betto eufórico. Na linguagem rançosa bolchevista, os Estados Unidos são o “inimigo principal”, e vale tudo para prejudicá-lo. Foram exemplo as estarrecedoras declarações da presidente brasileira em Nova York propondo diálogo com terroristas do Estado islâmico, de outro jeito, com o incipiente califado jihadista que decapita turistas, jornalistas e crucifica cristãos, bem como sonha com tirania mundial enquadrada pela aplicação linear da sharia. Um jornalista fez a pergunta: ─ Os Estados Unidos começaram os ataques aéreos na Síria, qual a posição do governo? A presidente emendou de primeira: ─ Eu lamento enormemente isso. O Brasil sempre vai acreditar que a melhor forma é o diálogo. ─ Mas era o mundo civilizado que não queria acreditar no que ouvia.
A proposta estava rombudamente clara: começar o diálogo entre a imensa coligação chefiada pelos Estados Unidos e um bando de terroristas corta-cabeças. Nem é necessário comentar. Já em Brasília, a presidente tentou consertar e balbuciou confusos desmentidos ao que tinha proclamado em Nova York. Adiantaram nada, era óbvio o sentido das palavras. O presidente Barack Obama, discursando na ONU, teve resposta perfeita às aterradoras palavras da presidente: ─ A única linguagem compreendida por assassinos como esses é a da força. ─ E assim o Brasil continuaria trotando na trilha em que o frei Betto trabalha para mantê-lo: enfraquecer os Estados Unidos. Na Europa, tal política, ao debilitar o maior adversário, ajuda o expansionismo autoritário do autocrata russo Vladimir Putin.
2º) Aprimorar os programas sociais. No exato, os programas sociais do governo, como estão sendo postos em prática, em numerosos casos perenizam a dependência e a subserviência; de outro modo, no longo prazo, favorecem o empobrecimento e dificultam o crescimento pessoal.
3º) O frei dominicano, corifeu do esquerdismo católico, não podia deixar passar a ocasião de, mais uma vez, apadroar o totalitarismo comunista dos irmãos Castro que rouba a maior parte do salário dos médicos-escravos cubanos no Brasil: ─ Louvo o programa Mais Médicos.
Agora, vamos sair da cerração e respirar ar limpo. Ponho meu foco na boicotada tomada de posição de destacado órgão católico, obediente à doutrina ensinada pela Igreja. Em 23 de agosto próximo passado a Comissão de Defesa da Vida do Regional Sul 1 – CNBB, que agrupa 41 arquidioceses e dioceses, aprovou texto que faz a defesa da vida inocente desde a concepção e enuncia com nitidez a congruente oposição ao aborto voluntário.
Fundamenta a posição sobretudo em palavras do papa Francisco e contundentes ensinamentos dos dois papas anteriores, Bento XVI e João Paulo II. E ainda reproduz advertência do bispo de Guarulhos, dom Edmilson Amador: ─ Se um candidato escolheu um partido que tem posições contrárias à defesa da vida, desde a sua concepção até a morte natural, e vincula e obriga a esta posição, seria imoral para o cristão fazer tal opção política.
O documento elenca graves e incontestáveis fatos que provam a contumaz política do governo atual de favorecer a prática do aborto. E deixa evidente que um católico não pode votar pela continuação de um governo que promove o assassinato de inocentes; seria imoral. O texto foi assinado pelos coordenadores da Comissão em Defesa da Vida do Regional Sul-1 da CNBB das arquidioceses e dioceses de Campinas, Guarulhos Itapetininga, Santo André, São José dos Campos e ainda pelo pe. Berardo Graz. Os signatários recordam que exercem o papel profético da denúncia e que calar-se constituiria omissão grave. Autorizaram sua difusão dom Benedito Simão, bispo de Assis, e dom Emílio Pignoli, bispo referencial da Pastoral Familiar.
Em São Paulo, arquidiocese que faz parte da Regional Sul-1, a assessoria de dom Odilo Scherer informou que a comissão é autônoma e que ele não tem vinculação com o documento. Pulou fora, como se vê. Tem mais. O corajoso testemunho não consta de nenhum site oficial da CNBB. Em português claro, a ocultação minuciosa e intolerante do importante pronunciamento pela censura, além de obstáculo iníquo à alardeada participação de leigos, sacerdotes e bispos no legítimo esclarecimento dos fieis, lesiona o próprio direito à informação.
E quem não enxerga na inclemente atitude, na prática, escandaloso favorecimento da candidatura petista? Contudo, convém notar, em áreas eclesiásticas, pelo que sei, ainda não apareceu nenhuma crítica doutrinária, nem reparo quanto à oportunidade. O máximo a que esses infelizes êmulos de Goebbels conseguiram chegar (quero crer na minha espessa ingenuidade, ego autem in innocentia mea ingressus sum, que nenhum bispo participou do feroz abafa no interior da CNBB) foi ao silêncio contrafeito. De fato, nem seriam concebíveis repreensões iradas; a peça é a pura expressão do que afirma a moral católica sobre a vida humana e ali só existe sua aplicação lógica a fatos atuais. Seus autores falaram direito em português claro.
Sinais dos tempos em que vivemos: no meio de trevas que podem ser cortadas com faca, aqui e ali fachos de luz pura que nos orientam.
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