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Plinio Corrêa de Oliveira
IPCO em Ação

Arte moderna e os entendidos


arte moderna 2

Muito bom pintor, o meu amigo. Mas descambou para a arte moderna, e parei de elogiar os seus quadros. Como o caro leitor sabe, minha verrina se limita a esbordoar quem o merece. Quanto a elogios, também limitam-se ao que merece. Se parei de elogiar os quadros do meu amigo, é porque os novos não merecem elogios.

São feios? Sim, são muito feios. Horríveis, como toda a arte moderna.

(Certamente ele também não entende a pintura moderna)

Confesso candidamente que não entendo a pintura moderna, caro leitor. Mas você já viu alguma que seja bonita? Não precisa empenhar a sua coragem para dar-me resposta negativa, pois não vou contar a ninguém. Se você está inseguro, por nunca ter visto um entendido reprovar um quadro moderno, saiba que ele logo perderia a rendosa função de entendido, por não o ter aprovado. Estaria transgredindo a palavra de ordem, cairia o mundo em cima dele e a reputação se evaporaria. Mas nós dois, que não somos entendidos, vamos então proclamar juntos:

— Nunca vimos uma pintura moderna realmente bela.

Ótimo assim! E para confirmar que não somos os únicos retrógrados em matéria de arte, posso até apresentar-lhe uma multidão que não acha beleza em quadros modernos. Duvida? Então visite algum museu de arte moderna em companhia de uma criança ou um grupo delas, e vá perguntando diante de cada quadro diagnosticado com modernite aguda: Você acha bonito este? Se a mentalidade da criança ainda não foi corrompida por algum entendido, a resposta será sempre negativa. Experimente, e verá. As crianças inocentes falam o que pensam, e não vão decepcioná-lo.

Se a companhia infantil não lhe dá segurança, sugiro ouvirmos quem realmente entende de arte e de muitas outras coisas importantes. A definição que ele deu para belo é esta: Aquilo que agrada quando é visto. Não poderia ser mais simples, nem mais verdadeiro. O autor desta definição nunca foi contestado em praticamente nada do que escreveu. O nome dele? São Tomás de Aquino, o mais santo dos sábios e o mais sábio dos santos. Se você gosta também de boa música, saiba que ele é autor do Tantum ergo, uma das mais belas músicas religiosas.

Então, quando você tiver receio de comentar a feiura da arte moderna, lembre-se da definição indiscutível de São Tomás, encha-se de sinceridade, e diga:

— Horrível, medonha, inqualificável, doentia, detestável, repulsiva.

“Ciência e caridade”, autor: Picasso
“Ciência e caridade”, autor: Picasso

Uma dúvida que eu tinha é se os pintores modernos pintam aquilo porque não sabem produzir coisa melhor, de beleza incontestável. Talvez fossem como o burro da anedota, que exibiu seu talento pintando “arte moderna” numa tela diante da qual seu rabo sujo de tintas espantava moscas. Obtive a resposta negativa quando vi quadros de Picasso pintados antes de enveredar pelas cavernas escabrosas da arte moderna. Alguns são agradáveis, belos. Veja ao lado o quadro “Ciência e caridade”, de Picasso quando jovem, e depois examine esta frase dele: “Quando eu era criança, pintava como os clássicos. Levei depois a vida inteira aprendendo a pintar como as crianças”.

O que terá convencido essa pessoa bem dotada artisticamente a produzir a proliferação de feiura que veio depois? Provavelmente não foi doença mental, e um dado histórico lança alguma luz sobre o assunto. Junto com os elogios unânimes dos entendidos e o incenso da mídia, que se articularam para divinizá-lo quando entrou na fase moderna, o dinheiro passou também a afluir facilmente, abundantemente, torrencialmente. Presume-se que uma avalanche monetária como essa não abasteceu apenas o bolso dele. Abasteceu a quem mais? Haverá alguma relação entre a mudança de estilo e essas consequências lucrativas? Nunca me interessei em ler a vida dele, e provavelmente a leitura não me esclareceria sobre isso. Mas dá para desconfiar de conluio artístico-comercial rendoso, destinado a contaminar o mundo com uma epidemia de feiura encomendada e bem remunerada.

Você deve estar interessado em saber se direi tudo isso ao meu amigo que passou a pintar modernices. Será impossível agora, porque ele se mudou e ainda não me comunicou o novo endereço. Quando o receber, enviarei esta crônica. O meu receio é que ele retribua presenteando-me com algum quadro. Se for nos moldes antigos, dar-lhe-ei lugar de destaque em meu refúgio doméstico. Se for dos outros, ainda não sei qual reação a minha educação permitirá. Imagino até uma retaliação dele por meio de um retrato meu, pintado de memória na nova fase. Ai de mim!…

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Jacinto Flecha

Jacinto Flecha

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Jacinto Flecha, médico, cronista e colaborador da Agência Boa Imprensa.

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