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Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo

Tentando explicar Alexander Dugin

Por John Horvat II

7 minhá 2 anos — Atualizado em: 3/28/2023, 9:23:33 PM


Durante muito tempo, tentei ler a obra de Alexander Dugin, o guru filósofo de Vladimir Putin. Muitos aclamam suas críticas ao mundo liberal moderno e aplaudem as soluções que propõe. Dizem que ele é a chave para se entender a Rússia hoje.

No entanto, meus esforços não foram bem-sucedidos. Em vez de clareza, achei seu material divagante, esotérico e confuso. Apesar de muitas tentativas, não consegui entender muito do que ele disse.

Assim, foi com alguma surpresa, e até alívio, que descobri na edição impressa de fevereiro de 2023 de First Things um artigo intitulado “Alexander Dugin Explained”. Finalmente, alguém se ofereceu para explicar seu pensamento, e eu ansiosamente assumi a tarefa de ler o artigo.

Parecer com reservas

O autor, Michael Millerman, é qualificado para falar sobre Dugin. Os pensamentos do russo o transfixaram tanto, que ele co-traduziu para o inglês sua obra-prima de 2009, The Fourth Political Way. Assim, seu longo artigo descreve sucintamente alguns aspectos críticos do pensamento de Dugin.

No entanto, sua narrativa só aumentou minhas dúvidas sobre Dugin. Depois de ler o artigo, não compartilho as opiniões cautelosas, mas positivas, do autor sobre as teorias de Dugin. Suas explicações não tornaram mais claros os conceitos esotéricos dele. Millerman ajuda os leitores a entender o drama atual que se desenrola na Ucrânia.

A quarta teoria política

Isso não quer dizer que tudo dentro do duginismo seja complicado e misterioso. O artigo de Millerman descreve algumas coisas que são facilmente compreendidas.

Por exemplo, a tese chave de Dugin, que ele chama de “a quarta teoria política”, não é difícil de entender. Dugin observa que o século XX foi dominado por três correntes políticas ideológicas – liberalismo, comunismo e fascismo. No final do século, o comunismo e o fascismo foram derrotados, e o liberalismo triunfou sozinho como um único polo de pensamento.

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Dugin acredita que esse triunfo torna difícil criticar a crise dentro do liberalismo moderno. Assim, aqueles que legitimamente se opõem ao liberalismo são frequentemente acusados de serem comunistas ou fascistas, supostamente tornando a resistência impossível.

Discordo dessa suposição. Uma vasta quantidade de erudição, grande parte católica, se opôs ao liberalismo dentro do seio da sociedade liberal por duzentos anos. Ver, por exemplo, a encíclica Mirari vos do Papa Gregório XVI, de 15 de agosto de 1832, e “O Programa dos Erros”, do Papa Pio IX (1864). Ainda hoje, o debate continua à medida que o liberalismo está desmoronando e as pessoas estão procurando soluções.

Essa falsa suposição, no entanto, prepara o caminho para a quarta teoria política de Dugin. Ele afirma romper o problema de criticar o liberalismo, fornecendo um espaço intelectual para explorar novas possibilidades fora dos três velhos quadros. Ele vê isso como uma descoberta nunca antes vista, uma espécie de pão fatiado político digno de provocar muita “dança e regozijo”.

Um mundo multipolar

Essa quarta teoria política apresenta um paradigma diferente para aqueles que querem desafiar o liberalismo decadente e globalizado.

Dentro dela, os diferentes povos criam civilizações, formando grandes espaços e blocos civilizacionais. Estados-nação menores desfrutam da aparência de soberania sob o guarda-chuva de “centros civilizacionais politicamente organizados e militarmente capazes que representam os polos de um mundo multipolar”.

Este modelo multipolar está muito bem representado no conflito ucraniano. Putin procura devolver a Ucrânia ao espaço civilizacional russo, apesar dos desejos da população em sentido contrário.

Visando o liberalismo

Outra noção clara é que o pensamento de Dugin e seu quarto caminho político visam o liberalismo por muitas das mesmas razões pelas quais aqueles que defendem a tradição se opõem a ele. De fato, o liberalismo tende a corroer as instituições, fomentar o materialismo e favorecer o individualismo atomista. Esse liberalismo abriu o caminho para a pós-modernidade decadente, que está gerando formas cada vez mais monstruosas de expressão política e cultural

Por essa razão, a proposta de Dugin ataca o mundo “acordado”  que questiona a identidade, impõe a ideologia de gênero e promove a teoria racial crítica. Assim, suas ideias são erroneamente identificadas como um projeto conservador clássico porque ele tem como alvo essas aberrações. No entanto, ele seria o primeiro a admitir que não compartilha da mesma filosofia.

Esta perspectiva dá origem a um problema fundamental com o duginismo. Seu ataque ao liberalismo inclui tudo o que é ocidental e católico. Ele não vê o liberalismo moderno como um parasita do pensamento cristão ocidental e da metafísica aristotélica, mas uma consequência, e por isso deve ser substituído por muitos paradigmas (incluindo os islâmicos) que são inteiramente diferentes e não-ocidentais.

A conexão Heidegger

Até este ponto, o pensamento de Dugin pode pelo menos ser compreendido. No entanto, a entrada de Millerman nas raízes filosóficas do duginismo mergulha tudo na escuridão esotérica. Ele diz que a chave para entender Dugin pode ser encontrada na interpretação russa de Martin Heidegger. Esta afirmação explica muito da divagação e mistério nas minhas primeiras leituras sobre Dugin.

De fato, Martin Heidegger (1889-1976) é uma pessoa muito desajeitada de usar como base. Seu livro de 1927, Ser e tempo, surpreendeu o mundo filosófico alemão pela sua complexidade. A Enciclopédia Britânica fez um comentário revelador sobre o livro, dizendo: “Embora quase ilegível, foi imediatamente sentido como de primordial importância”.

O filósofo alemão foi um divagante consumado e um dos principais expoentes do existencialismo e da fenomenologia que formaram a base do pensamento pós-moderno antiliberal. Ele se baseou fortemente em Søren Kierkegaard e Friedrich Nietzsche. Era  também um defensor de Adolf Hitler.

Ele foi preso após a guerra por causa de suas claras conexões nazistas. No entanto, sua reputação não parece ter sofrido por causa disso. Seus apoiadores à esquerda e à direita não encontram dificuldade em citá-lo.

E assim, se você quer entender Dugin, Heidegger é o seu homem. No entanto, ele não é o meu.

Uma revolução, não uma modificação

Entendo o suficiente de Heidegger para saber que não vale a pena mergulhar profundamente no lago raso de seu pensamento confuso. Prefiro deixá-lo “ilegível” e evitar sua névoa existencial.

O que ele propõe não é uma modificação de como vemos o mundo, mas uma revolução que derruba os fundamentos metafísicos do Ocidente cristão. Sua proposta é puramente filosófica, na qual o Cristianismo desempenha, na melhor das hipóteses, um papel secundário.

Escreve o Prof. Cyril O’Regan, da Universidade de Nore Dame:  “Sabemos, a partir de textos publicados na vida de Heidegger, que ele pensa que o cristianismo reprime constitutivamente a livre investigação; que a ‘filosofia cristã’ é, em essência, um oximoro; que o pensamento cristão é engessado por um compromisso com a explicação e, especificamente, com a construção de uma Causa Primeira”.

Basta dizer que Millerman conta como Dugin, canalizando Heidegger, nos chama a “voltar nossos pensamentos da tradição metafísica dominante, que fala de ser e seres, para a fonte do pensamento digno como tal”.

Dentro das divagações esotéricas das filosofias modernas estão as conotações pagãs de erros há muito condenados pela Igreja. O eterno questionamento da essência do ser pode levar ao panteísmo e ao misticismo.

Millerman exulta com “uma espécie de renascimento intelectual à direita” que inclui figuras controversas como Friedrich Nietzsche e Carl Schmitt, “que foram apropriados pela esquerda após a Segunda Guerra Mundial” e agora encontram “um lugar mais natural no espectro político”. Figuras como o pensador islâmico René Guénon e o ocultista Julius Evola também estão recebendo atenção. Millerman coloca a teoria política de Heidegger sobre Dugin nesse contexto intelectual,

Essa coleção de intelectuais, a maioria deles hostis a Deus, não é o material do qual virá um reavivamento católico.

O que deve ser buscado

Este é o momento de retornar às raízes filosóficas e metafísicas da Cristandade, não de procurar em outro lugar. Devemos rejeitar o caos esotérico da pós-modernidade e adotar a lógica cristalina, acessível a todos, do ensinamento da Igreja. Este fundamento deu origem a uma sociedade cristã orgânica ligada à Lei de Deus e adequada à natureza humana. Produziu intelectuais reais como os escolásticos e São Tomás de Aquino, que esses intelectuais desprezam.

Em sua encíclica Immortale Dei (1885), o Papa Leão XIII descreveu essa ordem resultante como aquela em que “a influência da sabedoria cristã e sua virtude divina permeavam as leis, as instituições e os costumes dos povos, todas as categorias e todas as relações da sociedade civil”.

Para combater os erros do liberalismo, a Igreja tem a resposta. O pensador católico Prof. Plínio Corrêa de Oliveira afirma que a civilização cristã é a solução para preencher o vazio pós-moderno. Devemos buscar uma sociedade que seja “austera e hierárquica, fundamentalmente sacral, anti-igualitária e antiliberal”.


Publicar em: Trying to Explain Alexander Dugin – Return to Order

Tradução de: Helio Dias Viana

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John Horvat II

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Andrés Camilo Rivera

10 de abril de 202310/04/2023 às 19:03

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