Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
7 min — há 8 anos
Ao contrário da concepção católica tradicional das missões, uma recente e ativa corrente ideológica de neomissionários, indigenistas, ecologistas, antropólogos e pseudo-historiadores prega o desmantelamento da sociedade atual e a volta à taba. Dela participam “teólogos da libertação”, centros pastorais e comunidades de base além das ONGs (Organizações Não-Governamentais). Tal corrente conta ainda com o apoio de grandes universidades, principalmente europeias, e também de poderosos grupos internacionais que promovem o financiamento de suas atividades.
Apresentando-se como ultra-avançados, na verdade pregam um retrocesso de vários séculos na História, ao fazer a apologia da tribo primitiva e pagã como modelo de vida comunitária e social.
Já na década de 70, alguns neomissionários, Bispos e organismos eclesiásticos de vanguarda — como o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT) — exerciam atividades que rumavam em direção ao comuno-tribalismo.
Denunciou-o na época, com lúcida antevisão, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, em sua obra “Tribalismo Indígena, Ideal comuno-missionário para o Brasil no século XXI” [ao lado, foto da capa] de onde retiramos os fundamentos doutrinários deste artigo.
Baseada em vasta documentação, a obra traça a fisionomia ideológica da corrente comuno-tribalista, que hoje pretende adquirir foros de cidadania.
Bem diferente do conceito católico tradicional de missões, o objetivo principal da missiologia “aggiornata” não é a evangelização dos infiéis, nem a salvação das almas, mas a criação de uma nova ordem para a sociedade.
Ela aponta como seu adversário capital o egoísmo, que opera uma completa inversão de valores entre o indivíduo e a sociedade. Tal inversão — sempre segundo a neomissiologia — dá-se na medida em que o homem, rompendo sua inteira vinculação com a coletividade, toma por meta criar para si uma situação fruitiva, apropriativa e competitiva. O egoísmo geraria assim uma estrutura injusta, com privilégios, desigualdades, alienações, marginalizações etc, que seria necessário então desmantelar.
Ora, segundo a doutrina católica tradicional, o homem tem uma tendência para o egoísmo, porém ele não é todo egoísmo, que é uma deformidade moral nele. O homem tem um fim imediato em si mesmo, e outro transcendente em Deus. A solução para o egoísmo não consiste, como quer a neomissiologia, em cair no extremo oposto, isto é, a comunidade absorvendo todas as liberdades individuais do homem.
Muitos missionários sob a influência de tendências e opiniões marcadas pelo progressismo e pelo esquerdismo, forjaram uma ideia falsa a respeito das condições de vida dos indígenas, onde o primitivismo e a estagnação constituem a nota dominante.
O índio lhes pareceu um sábio, e sua organização tribal o modelo a ser seguido pelos civilizados. Razão? As analogias entre a vida tribal e a vida da utópica sociedade comunista: comodidade de bens, ausência completa de lucro, de capital, de salários, de patrões, de empregados e de instituições de qualquer espécie. Só a tribo prevalece, absorvendo todas as liberdades individuais não fruitivas, com os homens vivendo satisfeitos e sem problemas, porque se despojaram de seu “eu”, de seu “egoísmo”.
Segundo essa neomissiologia, o Evangelho já impregna completamente a esfera tribal, não sendo pois necessário anunciá-lo aos indígenas. A meta do neomissionário “atualizado” é livrar o índio do “contágio” da civilização, que lhe foi imposto pelos colonizadores e missionários de outrora.
O leitor, por certo, desejará tomar conhecimento de textos em que instituições, personalidades e órgãos da neomissiologia exprimem diretamente seu pensamento. Do vasto material compilado foram selecionados alguns, que apresentaremos — devido à exigüidade de espaço nos estreitos limites de um artigo — sem comentários como faz o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em seu livro.
Entre as conclusões da Primeira Assembleia Nacional da Pastoral Indigenista consta a seguinte: “Os índios já vivem as bem-aventuranças: não conhecem a propriedade privada, o lucro, a competição”.
Do documento “Y-Juca-Pirama, o índio: aquele que deve morrer”, assinado por Bispos e missionários: “Um paraíso tribal, onde é coletiva a propriedade dos meios de produção e não existe autoridade… A missiologia ‘aggiornata’ inspira uma transformação radical de nossa sociedade”.
Do plano pastoral dos Bispos da Amazônia: “A principal missão da Igreja não é converter os índios à Religião de Jesus Cristo, mas conservar-lhes o estado tribal”
Do Segundo Encontro Regional Norte de Mato Grosso do CIMI: “Evangelização é secundária para missionários que menosprezam o trabalho de Anchieta”.
O falecido Dom Tomás Balduino, Bispo de Goiás Velho havia declarado: “Os povos indígenas são os verdadeiros evangelizadores do mundo… Vivendo em regime comunitário, os índios não precisam da Igreja”.
Do livro Cartas da Prisão, de Frei Betto: “O preço de cada passo de nosso progresso é a ruína de mais uma tribo”.
Declaração do Conselho Indigenista Missionário: “O índio americano é o único e verdadeiro senhor das terras”.
Da Comissão Pastoral da Terra: “Índios e posseiros devem empenhar-se em promover uma agitação agrária no País”.
Os defensores do neotribalismo missionário e indigenista, principais nomes da “Teologia da Libertação”, têm condenado a conquista e evangelização da América. Procuram denegrir a grandiosa obra civilizadora e de cristianização do nosso continente por Portugal e Espanha, afirmando que isso constituiu o maior genocídio físico e cultural da História. Eles falam de uma “resistência de 500 anos”, reivindicam indenizações pelo meio milênio de “ocupação” europeia, e chegam até a propor a existência de territórios com governos soberanos e autônomos para neles restaurar o coletivismo tribal dos índios.
Assim, para o primeiro bispo de Crateús, falecido em 2006, Dom Antônio Fragoso, o descobrimento da América deve ser entendido como “uma invasão desrespeitadora, que causou o genocídio de quase todos os 70 milhões de indígenas aqui existentes. Queremos a Igreja pedindo perdão em público e tentando recuperar as culturas que foram destruídas. É preciso a Igreja Católica admitir que foi cúmplice na destruição da América Latina, numa aliança do projeto colonizador com o evangelizador” (O Globo, 6-5-92 – CNBB propõe penitência pela “invasão da América”).
Já o Bispo de Xingu e presidente do CIMI, Dom Erwin Krautler, afirmou: “A Igreja deve fazer um exame de consciência e não celebrar um descobrimento, pois na América havia 90 milhões de indígenas e 70 milhões foram exterminados. A Igreja tem, em tudo isso, culpa histórica. Os indígenas perderam sua identidade quando se fizeram cristãos, e ainda não existe na América Latina uma Igreja com rosto indígena” (El Pais, Madrid, 29-4-92).
Em face das novidades pregadas por tais neomissionários, cumpre conhecer a verdadeira doutrina católica a respeito. Numa continuidade impressionante, os Romanos Pontífices, desde Alexandre VI até João Paulo II, pronunciaram-se sobre o tema à margem das controvérsias históricas, de modo a não deixar dúvidas.
Quem percorrer os documentos papais desde o primeiro século de colonização, constatará o elogio feito à magna obra civilizadora. E também o minucioso cuidado da Igreja na correção dos abusos cometidos, pelo respeito aos direitos naturais dos índios e ao seu modo de vida, no que este tivesse de legítimo ou resgatável.
João Paulo II, ao encerrar o Simpósio Internacional sobre História da América, no Vaticano, em 14-3-92, reafirmou os ensinamentos de seus predecessores e recapitulou os “fundamentos de uma colonização cristã” desenvolvidos por Frei Francisco Vitória (1480-1546), dominicano espanhol da famosa Escola de Salamanca.
O Pontífice destaca que, “conforme a doutrina exposta por Vitória, em virtude do direito de sociedade e de comunicação natural os homens e povos mais bem dotados tinham o dever de ajudar os mais atrasados e subdesenvolvidos”. Assim justificava Vitória a intervenção de Portugal e Espanha na América. Nada de mais contrário, pois, à posição dos neomissionários.
Fontes:
1) Plinio Corrêa de Oliveira, “Tribalismo indígena, ideal comuno-missionário para o Brasil no Século XX/”, Editora Vera Cruz, São Paulo, 1979.
2) Gustavo Gutierrez e outros, “/492-1992, A Voz das Vítimas”, Concilium, n° 232, Vozes, Petrópolis, 1990.
3) Culturas oprimidas e a evangelização na América Latina, 8° Encontro Intereclesial de CEBs, Santa Maria (RS), 1992.
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