Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
8 min — há 7 anos — Atualizado em: 10/9/2018, 9:43:57 PM
Sou católico praticante: vou à Missa, comungo e me confesso com frequência, dou esmolas… Enfim, faço tudo aquilo que um bom católico faz.
Porém, admito – e com orgulho – que não tenho nada contra quem pratica outra religião. Respeito, trato bem. Cada um tem a sua. Devemos ficar na igreja que nos faz sentirmos bem.
Quanto ao homossexualismo, acho errado querer impô-lo às crianças. Elas não estão na idade de aprender isso. Pelo menos, ainda não. Mas não vou condenar quem pratique o homossexualismo. Nós temos que ser felizes. Até porque, quem sou eu para julgar?
Mas, devo dizer que, no mundo de hoje, há algo que não está bem: é a excessiva imoralidade. Não há mais fidelidade no casamento. O Divórcio se tornou rotina. Os jovens já não sabem o que é um relacionamento para a vida toda e vivem trocando de namorados. Sem falar nas drogas. A situação está horrível!
Decote? Qual é o problema? O que não se deve é exagerar; um “decotezinho” não tem nada demais. E quanto ao tamanho do vestido, quem disse que deve ser acima do joelho?!
Aborto? Sou pessoalmente contra, ainda mais nos nossos dias, com tanta facilidade em conseguir preservativos…
Mas que fique claro, não sou radical!
Acalme-se, entretanto, o caro leitor. Não defendo evidentemente tais ideias. Apenas emprestei minha boca – ou melhor, minhas mãos – a muitos, para não dizer à quase totalidade, dos católicos de nossos dias, mesmo dos praticantes.
Difícil seria encontrar atualmente algum católico (ou mesmo de qualquer outra religião) que não pense assim, ou de forma semelhante, em pelo menos um desses temas.
O leitor consegue perceber um nexo profundo existente em cada um desses pontos mencionados?
Caso a resposta seja negativa, deixe-me explicitá-lo: o nexo existente nesta mentalidade se define em uma palavra – relativismo.
E o que é o relativismo?
Tomado em seu sentido filosófico, o relativismo tem, como um de seus pressupostos, a impossibilidade de alcançarmos a realidade tal como ela é. Pois aquilo que conhecemos através de nossos sentidos (visão, audição, tato, olfato, paladar), seria uma mera aparência, sendo-nos impossível conhecer o objeto em si mesmo.
Portanto, qualquer conhecimento que adquiríssemos não seria determinado pela realidade, senão por nós mesmos. O conhecimento se torna, assim, puramente subjetivo, relativo a cada um, podendo variar de acordo com o tipo intelectual, a capacidade, as circunstâncias, e mesmo as necessidades do conhecedor.
Em outras palavras, aquilo que é verdade para mim pode não ser para outro, pois o que eu tomei como verdadeiro, outro tomou como falso. Um conhecimento absoluto ou uma verdade absoluta, isto é, independente das condições subjetivas do conhecedor, seria inexistente.
Outro pressuposto importante é a quebra do senso de contradição, segundo o qual uma coisa não pode ser e não ser, ao mesmo tempo, sobre o mesmo aspecto. Um hipopótamo não é um avestruz, por exemplo. Para o relativista mais radical, o que ele entende como um hipopótamo pode ser entendido como um avestruz por outra pessoa.
No fundo, a pessoa relativista se considera, ela mesma, a verdade absoluta. É ela que decidirá no que acreditar, independentemente do que está diante de seus olhos.
O fato é que o relativismo, indo além da esfera filosófica, penetrou em outros campos, como o moral e o religioso. E, por assim dizer, dominou a mentalidade contemporânea.
Consequências: perda do senso de contradição e incentivo ao hedonismo, doutrina que defende o prazer como finalidade da vida moral.
Pois o senso de contradição só existe em nós quando aceitamos a existência de uma verdade absoluta, que se impõe pela própria realidade dos fatos.
Contradição, indo um pouco mais além do que dito anteriormente, é a oposição de duas ideias que se negam, por exemplo: a árvore é verde; a árvore não é verde. Mas, para que uma negue a outra, é preciso tomar uma delas como verdadeira. Caso contrário, se não há distinção entre verdade e erro, não há matéria para contradição.
É por causa da ausência desse senso que vemos posições contrarias entre si coexistirem nas almas.
Quanto ao hedonismo, ele surge quando negamos a existência de leis morais transcendentes que se impõem a todo Ser Humano, as quais estabelecem a obediência a Deus e o amor ao próximo como valores superiores ao prazer pessoal, egoísta.
A influência do relativismo na esfera religiosa resulta na afirmação de que todas as religiões são boas (o que equivale a dizer que todas são ruins), e de que é preciso aceitar a todos sem lhes exigir uma mudança de vida… Resumindo, é o ecumenismo moderno.
No campo moral, vemos a negação de todos os preceitos morais, ou pelo menos daqueles que mais “importunam” nossos contemporâneos.
Ao afirmar a impossibilidade de alcançarmos uma verdade absoluta, o relativismo nega, rejeita uma ordem posta por Deus na natureza humana: a capacidade da inteligência de conhecer o Ser, a realidade, a verdade. E, em última análise, de conhecer a Deus.
O homem foi criado para conhecer, amar e servir a Deus, ensina o Catecismo. Entretanto, antes de amar e servir, é preciso primeiro conhecer.
Porém, se me é impossível conhecer, como amarei e servirei?
Em suas formas mais radicais, tal doutrina chega a relativizar a própria existência de Deus. Pois até este ponto ela leva o subjetivismo de cada um.
Entretanto, talvez até mesmo pior do que, consciente e explicitamente, relativizar a existência de Deus, é relativizá-la implicitamente através da indiferença.
E, nesse estado, se encontra a mentalidade moderna, mesmo entre os católicos.
Afirma-se a existência de Deus através de palavras, mas se expressa o contrário através das obras; vive-se como se a finalidade da vida fosse o prazer, não querendo conhecer, amar e servir a Deus; se é indiferente diante de tantos pecados, de tantas blasfêmias e de inúmeras profanações como se ninguém estivesse sendo ofendido com tudo isso.
E, ao tomar uma posição, toma-a pela metade: se se diz católico, tolera-se, em seguida, a heresia; se defende um ponto da moral, outro é negado logo após.
A verdade e o erro são aceitos como se não houvesse diferenciação.
Há uma passagem das Sagradas Escrituras que bem pode ser aplicada ao indiferentismo relativista de nossos dias: “Conheço as tuas obras: não és nem frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Mas, como és morno, nem frio nem quente, vou vomitar-te.” (Apoc. 3,15 – 16)
E Deus, como fica?
Fica destronado, expulso do universo que Ele mesmo criou. Vê seus filhos serem indiferentes à sua existência, nessa coexistência “passiva” entre o bem e o mal, entre a verdade e o erro.
Quão imensa é a dor de um pai expulso de sua casa pela própria família! Ainda mais sendo ele a Inocência e a Verdade encarnadas para a Redenção dos homens.
Pois bem, assim está Deus no mundo de hoje.
O mais doloroso é que de tal forma essa mentalidade profundamente relativista impregnou as almas, que sua reversão só será possível através de uma prodigiosa graça de Nossa Senhora.
Mas, da mesma forma como não se pode colocar num recipiente um vinho novo antes de esvaziá-lo do vinho velho, assim também, antes de sermos vivificados pela graça deste Grand-Retour (grande retorno), é preciso que nos desapeguemos da mentalidade nefasta de nosso século.
Como fazer isso? Como desapegar dessa mentalidade?
Por meio da quebra daquilo que tanto nos mantém apegados a este estado: o mundo hodierno em sua aparente grandeza, que seduziu a tantos homens com suas promessas de uma sociedade sem Deus e focada no homem.
Uma longa doença prepara o moribundo, naturalmente apegado à vida, para a noção clara de que, cedo ou tarde, estará diante de Deus. Não terá a situação caótica de nossos dias (com sucessivas crises das mais variadas naturezas) essa mesma finalidade? Não será ela uma preparação para um novo mundo que deverá nascer das ruínas deste em que vivemos?
Foi a própria Mãe de Deus que nos alertou, em Fátima, para o enorme castigo que recairia sobre esse mundo, se não se convertesse. Esse castigo chegaria a tal ponto que, segundo suas palavras: “Varias nações serão aniquiladas”.
Porém, além dos catastróficos dias que virão, há uma promessa de vitória: “Por fim, meu Imaculado Coração triunfará”.
E é com os olhos nessa promessa da Santíssima Virgem que devemos atravessar dias tortuosos que nos levarão de volta Àquele que é “o caminho, a Verdade e a Vida.”(Jo 14,6).
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