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Plinio Corrêa de Oliveira
IPCO em Ação

Uma solução para o desemprego


Duas categorias profissionais têm solução para todos os problemas do País: motoristas de táxi e barbeiros. Não me refiro a motoristas de táxi que são “barbeiros” (coisa que suponho ser rara), nem de barbeiros que são também taxistas (isso também deve ser raro). Falo de cada um desses profissionais separadamente.

Outro grupo profissional que sabe resolver tudo são os políticos. Mas o leitor tem todo o direito de perguntar o que eu também já me perguntei: Por que não resolvem? Muito simples. Durante a campanha eleitoral, eles sabem resolver até problemas que não existem. Também sabem resolver tudo depois que termina o mandato, quando dedicam grande parte do tempo a criticar o sucessor, exatamente porque este não resolve. Mas durante o mandato, quando lhes é de fato solicitada a sua habilidade como resolvedor de problemas, a história é outra…

Mas vamos ficar na sapiência dos taxistas. Quando eles decidem falar — bem… eles sempre o decidem — e o passageiro dá corda, podem-se esperar as soluções mais inverossímeis. Na época da inflação braba e galopante — que, aliás, de novo vai crescendo de mansinho e encontra incentivo nas portas escancaradas pelo governo — um deles me afirmou que o IGP (acho que era esse o índice) estava destruindo o País, e o governo tinha de acabar com ele. Eu me perguntei se esse humilde brasileiro havia descoberto um miraculoso caminho para a estabilização dos preços. Mais adiante, ao responder-me quais vantagens adviriam disso, revelou que não suportava mais — todo mês a prestação da casa financiada pelo BNH subia, porque aumentava o IGP.

Mesmo com uma visão das coisas tão limitada, algumas vezes esses laboriosos transportadores de passageiros apresentam ideias de bom senso, bem articuladas. Não é fácil apurar se resultam das próprias elucubrações, ou se eles apenas agem como correias de transmissão do que dizem seus fregueses.

Tomei um táxi, indiquei a igreja aonde queria ir, e depois de iniciado o movimento o motorista perguntou:

— Missa de sétimo dia, Doutor?

— Não. Casamento.

— Algum parente?

— Uma colega de serviço.

Ele assumiu um ar pensativo, e depois comentou:

— Hoje em dia não se pode ter certeza de nada…

— Certeza de quê? – perguntei.

— É, Doutor… eu também vou a muitos casamentos, mas sempre tenho medo de dar tudo errado. E isso acontece cada vez mais, quase sempre.

— O senhor tem razão: o índice de divórcios é cada vez maior.

— Não é só isso, Doutor. Antigamente as pessoas se casavam para constituir uma família, e isso significava ter filhos, tantos filhos quantos Deus lhes desse. Hoje o pessoal já casa pensando em ter só um filho, no máximo “um casal”. E a mania agora é programar pra daí a tantos anos. Eu não acho isso certo.

— Concordo que isso não é certo, pois recorrem à limitação da natalidade por métodos antinaturais que a Igreja condena. Eles se defendem, alegando que a vida está cara e não têm condições de manter os filhos, educar, etc.

— Conversa fiada, Doutor. Os que limitam os filhos são exatamente os que têm dinheiro. O senhor sabe que Deus abençoa a família numerosa, e diz o ditado que Deus dá o frio conforme o cobertor.

O comentário dele tinha todo propósito, mas eu queria ver até onde havia coerência no que ele pensava, e objetei com uma desculpa muito comum:

— Mas a vida moderna está difícil, exige que a mulher trabalhe fora para ajudar nas despesas. Essa minha colega, por exemplo, precisa continuar a trabalhar, e nesse caso fica pesado educar os filhos.

— Eu não quero falar da sua colega, que nem conheço, mas geralmente isso faz parte da burrice desses casais de hoje em dia. Muitas mulheres trabalham fora para conseguir manter uma empregada cuidando da casa. Se têm filhos, precisam também de uma babá, que elas chamam de bêibi-síta, pra ficar mais moderno. Antigamente a própria mulher fazia isso, e nem pensava nessas despesas. Até sobrava tempo pra produzir coisas em casa e ajudar na renda do marido. A educação dos filhos, ela fazia muito melhor do que a tal babá de nome complicado. Homem não sabe fazer essas coisas, a mulher é que nasceu pra isso. O senhor sabe: o mundo da mulher é a casa, a casa do homem é o mundo.

— Isso mesmo! Os filhos precisam da mãe em casa. Se a mãe e o pai estão sempre ausentes, os filhos perdem as referências mais importantes para a estabilidade emocional, para a educação.

— Veja só, Doutor. Todo mundo reclama de desemprego. Mas se as mulheres ficassem numa boa, cuidando da casa e dos filhos, ia sobrar muito emprego por aí. Mulher que trabalha fora ocupa o lugar de um homem desempregado.

Acabáramos de chegar à igreja, e a noiva já havia entrado. Paguei rapidamente a corrida, agradeci e despedi-me do motorista. Era um homem de bom senso, desses que o vulgo ignaro, vítima da propaganda feminista, desqualifica como machista.

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Jacinto Flecha

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Jacinto Flecha, médico, cronista e colaborador da Agência Boa Imprensa.

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