Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
4 min — há 10 anos — Atualizado em: 9/1/2017, 8:50:28 PM
O novelista Júlio Verne (1828—1905) imaginou um misterioso relojoeiro que cuidava dos relógios às mil maravilhas, mas mantinha uma curiosa relação com eles.
É o conto do “Mestre Zacarias ou o relojoeiro que perdeu sua alma”. Um belo dia todos os relógios deixaram de funcionar e o mestre ficou impotente para atender às reclamações dos clientes.
Falando na reunião anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência, em San José, Califórnia, Vint Cerf fez uma advertência evocativa do conto de Júlio Verne.
Vint Cerf não é relojoeiro, mas vice-presidente da Google, o gigante da Internet.
Ele disse que o imenso acúmulo de material digitalizado – blogs, tweets, fotos e vídeos, documentos oficiais, processos judiciais, contabilidades, bibliotecas e e-mails – pode se perder para sempre, segundo noticiou The Guardian de Londres.
Todos os dados que a humanidade confiou ao mundo digital poderiam se evaporar para sempre e ficar inacessíveis aos historiadores do futuro.
Vint Cerf disse que corremos o risco de nos tornarmos “a geração esquecida, ou inclusive o século esquecido”.
Ele se explicou com o fenômeno que rotulou de “bit rot”, algo como “putrefação dos bits”, pelo qual os arquivos informáticos velhos se transformam em lixo inútil.
Não é só nem principalmente por panes, mas porque os programas necessários para lê-los vão desaparecer, advertiu o vice-presidente da Google.
Cerf postulou a necessidade de desenvolver uma estratégia para preservar o software e o hardware que caduca. Dessa maneira os arquivos dessuetos poderiam ser recuperados, qualquer que seja sua velhice.
“Quando pensamos na quantidade de informação de nossa vida cotidiana capturada em formato digital, nas nossas interações por e-mail, mensagens de Twitter, e na totalidade da World Wide Web, fica claro que perderemos uma grande parte da nossa história”, disse.
“Não queremos que nossa vida digital se esfume. Se quisermos preservá-la, temos de garantir que os dados digitais que criamos hoje possam ser reproduzidos no futuro”, acrescentou.
“Nós estamos sendo muito displicentes jogando todos os nossos dados naquilo que poderá ser um imenso ‘buraco preto’ da informação, sem perceber o que estamos fazendo”, disse Cerf ao jornal britânico The Guardian.
“Se você tem fotos que preza, imprima-as logo”, acrescentou.
As civilizações antigas e medievais não tiveram esses problemas porque registravam as informações em tabuletas de argila, papiros, pergaminhos ou na pedra.
Mas nós usamos documentos PDF, de Word e de centenas de outros programas que podem desaparecer, como também o hardware em que funcionam.
Ele exemplificou com os disquetes. Em 1980, usá-los era rotineiro. Hoje ninguém mais usa, e os que permaneceram em bom estado estão nos museus.
Pesquisadores da Carnegie Mellon University, em Pittsburgh, pensam no assunto. Mas acontece que a solução do problema passa pela cópia de todos os arquivos privados em um local único, desaparecendo toda a privacidade.
Hoje o suporte mais acessível e mais seguro é o papel, se comparado com os bytes dos computadores. Mas ele se degrada e o fogo pode devorá-lo. As inscrições em pedra da antiguidade duraram, porém, milhares de anos.
Talvez num futuro próximo fosse necessário dar um reboot na civilização virtual, uma reformatação dos bilhões de horas de trabalho acumuladas na rede, discos rígidos ou novas memórias, conjeturou Vint Cerf. Quiçá contra a nossa vontade, por causa de uma imensa tempestade solar, uma guerra atômica.
E então?
O vice-presidente do Google formulou votos de que isso não venha a acontecer.
Porque, se ocorrer, seria a realização da inusitada profecia relativa ao fim do “Mestre Zacharias, o relojoeiro que perdeu sua alma” e desapareceu, deixando seus crédulos clientes com artefatos de metal sem nenhuma serventia.
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