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Plinio Corrêa de Oliveira
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Volume morto, eleições e safra agrícola


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Em razão dos acontecimentos políticos e econômicos, além da longa seca que vimos presenciando já há algum tempo, antecipamos a divulgação do “balanço da safra agrícola 2014”. Nossas fontes como de costume não se baseiam em pesquisas de opinião e em urnas eletrônicas, mas em fontes mais seguras.

Lembremo-nos, ainda que de passagem, do grande orador sacro francês Bossuet que falava para um dos públicos mais seletos que a humanidade jamais conhecera, a corte de Luiz XIV, o Rei Sol. Suas prédicas eram sempre enriquecidas e iluminadas pela luz do que se costuma chamar de teologia da história.

Via e julgava ele a história segundo os desígnios de Deus. Sobre Nabucodonosor, rei da Babilônia, que invadiu Israel e tomou como prisioneiro o povo eleito, sabiamente comentou que foi o “açoite divino” para com o povo que renegou os ensinamentos do verdadeiro Deus para seguir outros deuses.

Para Bossuet, tudo o que se passa no universo obedece a leis bem traçadas, pois Deus não é apenas o criador, mas o Senhor do mundo criado, Brasil incluído… Assim, a crise hídrica que assola o nosso centro-leste, com mais gravidade para o Estado de São Paulo, não pode ser alheia aos desígnios de Deus.

A imprensa vem tratando ad nauseam do tal volume morto dos mananciais que fornecem água para a cidade de São Paulo e, muitas pessoas, não sem certo terrorismo psicológico, preveem que em breve as bombas estarão tragando o lodo do fundo das represas.

Da realidade para a metáfora, antes da utilização da lama do volume morto, esta veio à tona nas eleições presidenciais de 2014. Com efeito, os analistas confirmaram ter se tratado da campanha mais suja e repleta de “baixarias” dos 125 anos de república.

Se o fétido e o pútrido emergiram, não é menos verdade que a presidente reeleita esteja navegando no volume morto da crise econômico-político-social que vem castigando o país. Apenas para relembrar, além do minúsculo PIB, a Petrobrás se encontra semifalida e saqueada.

Com efeito, a maior empresa brasileira perdeu 50% de seu valor de mercado, e, se hoje vale 400 bilhões de reais, a sua dívida ultrapassa os 300 bilhões. Fora isso, a dívida interna brasileira já ultrapassou dois trilhões e 100 bilhões de reais e, enquanto a inflação não dá sinais de arrefecimento, a balança comercial ‘balanceia’.

Sem considerar o lodo ideológico representado pela insistência do governo na criação dos “conselhos populares” cujo significado não passa de ‘sovietes’, experiência comunista já vivida na antiga URSS. Os especialistas julgam que para os próximos anos mais sombras e trevas envolverão o Brasil.

Mas nem tudo parece perdido. Se é verdade que tal volume de lama veio à tona, é também verdade que em sentido oposto permanece e se aprimora o “volume vivo” de águas cristalinas que continua o seu curso rumo ao mar da História, ou seja, o agronegócio.

A agropecuarista continua a sua faina ao vencer as dificuldades inerentes ao seu trabalho, provendo os seus familiares, os funcionários e suas famílias, fornecendo alimento saudável e barato para os brasileiros, e exportando o excedente para alimentar mais de um bilhão de pessoas mundo a fora.

A título de recordação, podemos enumerar alguns de seus seguidos e importantes sucessos:

– atingiremos em breve produção recorde de 200 milhões de toneladas de grãos;
– já ultrapassamos na safra de 2013 os US$ 100 bilhões de exportações/anual;
– o saldo delas já ultrapassa US$ 500 bilhões na última década; possuímos o maior rebanho do mundo com mais de 210 milhões de cabeças de gado;
– somos os maiores exportadores de carne do planeta;
– de cada 10 xícaras de café tomadas no mundo, quatro são de origem brasileira;
– de cada 10 copos de suco de laranja tomados no mundo, oito são brasileiros;
– somos com folga o maior produtor de açúcar do mundo, com 40% das exportações mundiais.

Qual é a contrapartida de Brasília a todo esse sucesso?

– Apregoa-se que nunca tivemos tanto volume de crédito para a agricultura…

Contudo, o governo faz sempre questão de ressaltar a existência de dois campos distintos em nosso meio rural, a agricultura empresarial e a familiar.

Elas existem de fato. Enquanto o pequeno produtor rural agregado ao agronegócio se encontra em muito boa situação, os ditos trabalhadores atrelados aos movimentos sociais não produzem coisa alguma, vivem em favelas rurais e só não morrem de fome em razão das cestas básicas do governo federal.

Quase ou tão importante quanto o crédito rural é o seguro agrícola, pois o proprietário está sujeito às intempéries, mas ele não deseja o modelo de seguro estatista, mas que sejam desonerados dos altos tributos e, assim, paulatinamente a totalidade da safra seja assegurada, como nos EUA e na Europa.

Pretendo encerrar hoje a análise dos altos riscos que vêm passando os agropecuaristas no Brasil. Entre eles se encontra a insegurança jurídica, aliás, o que lhes acarreta maiores danos, além das contínuas ameaças de invasões por parte do MST, das acusações de trabalho escravo, de degradação do meio ambiente, de o proprietário rural não passar de um intruso em terras de índios ou de quilombolas.

O déficit do setor elétrico chega 100 bilhões de reais e poderia ser possantemente auxiliado pelo agronegócio. Só a cogeração de energia a partir do bagaço de cana poderia gerar mais que Itaipu, justo no tempo menos chuvoso. No momento, as hidrelétricas estão gerando apenas 20% de sua capacidade.

O setor canavieiro só não produz toda a energia possível porque o governo oferecia até há pouco tempo menos de 200 reais o KW/h. Com a crise atual passou a pagar às termoelétricas 800 reais o KW/h e, quando movidas a diesel, o valor já ultrapassa os 1000 reais o KW/hora.

Outro dado preocupante quanto aos combustíveis é que a Petrobrás sempre foi uma empresa rentável. Depois de ter sido “aparelhada” pelo governo para se tornar instrumento político, para segurar a inflação, por exemplo, a defasagem dos preços vem gerando déficit enorme em suas contas, sem contar a roubalheira.

Com a defasagem dos preços dos combustíveis foi estabelecido um “tabelamento branco” do etanol que ficou com um preço totalmente defasado levando à ruína financeira quase um terço das usinas sucroalcooleiras, além de fazer com que cerca de um milhão de funcionários fossem dispensados. De exportador de etanol, o país passará a importar 600 milhões de litros.

O setor canavieiro também sofreu muito com a seca do sudeste que o levou a diminuição de 50 milhões de toneladas de cana colhida, o equivalente a toda safra do nordeste brasileiro. Para não me alongar, citamos de passagem o que todos os leitores já sabem, isto é, a total falência de nossa estrutura básica.

Portos com filas gigantescas de caminhões, navios esperando até 60 dias para cargas e descargas, estradas em péssimas condições, ferrovias já várias vezes inauguradas e que ainda não transportam nada. E ainda mais, tem os seus dormentes e trilhos roubados.

E apesar de as hidrovias não terem saído do papel, o setor do agronegócio vem prosperando apesar do governo e graças a força propulsora dos nossos valorosos produtores rurais que diuturnamente, com chuva ou sem ela, continuam a cultivar este país continente.

Que Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil, miraculosamente encontrada nas águas outrora puras do Rio Paraíba, não permita que perdure a seca que compromete os nossos mananciais, e, sobretudo, livre o Brasil do lodo moral no qual se acha atolado.

Invoquemos a Ela para que nos mande chuva para que os seus filhos tenham a sua sede aplacada e colheitas abundantes, também para que do Oiapoque ao Chuí os brasileiros recebam uma chuva de graças num país sempre irmanado e não dividido, como apregoam aqueles que querem romper com a sua vocação providencial.

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Helio Brambilla

Helio Brambilla

38 artigos

Diretor de Paz no Campo e colaborador do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira. É autor de diversos artigos sobre a questão agrária, quilombola e propriedade privada no Brasil.

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