Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
4 min — há 14 anos — Atualizado em: 9/1/2017, 9:34:51 PM
Atilio Faoro
Passado o período eleitoral, começam a emergir perguntas sobre o perfil e as metas do futuro governo de Dilma Roussef. Nada mais natural.
Da parte da esquerda – de todos os matizes – a preocupação volta-se para um ponto que, para eles, é essencial: o futuro governo fará uma Reforma Agrária profunda e radical, que acabe com o poder do agronegócio e do chamado latifúndio?
Uma primeira resposta veio do líder máximo do MST, João Pedro Stédile, o qual aliás esteve nos últimos meses, com sua tropa, no seu canto e caladinho, para não atrapalhar a eleição da candidata petista.
Rompendo o silêncio, o dirigente do MST em entrevista à Agência Brasil (2-11-2010), disse acreditar que o governo de Dilma Rousseff terá mais condições políticas do que teve a administração atual de fazer a Reforma Agrária avançar e de atender a outras demandas do setor. “O Lula ganhou as eleições em um quadro de composição de forças muito adversas. Agora, eu acho que há uma composição de forças mais favorável a um programa de centro-esquerda”, ressaltou Stédile.
Pondo o dedo na ferida, Stédile acabou com a ambigüidade com que certos petistas – inclusive a presidente eleita – estão lançando no mercado a propósito do modelo a escolher. “Há o confronto permanente entre dois modelos de agricultura”, destacou. De acordo com ele, esse embate ocorre entre o agronegócio – “que expulsa mão-de-obra e usa venenos” – e a agricultura familiar – “que absorve mão-de-obra e produz alimentos sem venenos”.
O modelo socialista de “agricultura familiar”, como se sabe, fracassou em todos os lugares onde foi implantado. Em Cuba, por exemplo, mas também no Brasil, no gigantesco favelão rural em que se transformou a área de cerca de 45 milhões de hectares de terras agro-reformadas.
Os assentados nada produzem, e ainda dependem de cestas básicas com produtos oriundos do agronegócio para subsistir. É o resultado natural da abolição da propriedade privada e da livre iniciativa, inerente ao modelo da agricultura socialista.
Que o governo petista não espere, porém, dias tranquilos. Caso o MST não obtenha a sua meta, as tropas do MST, sob o comando de João Stédile, passarão para a oposição. Segundo a Agência Brasil, “caso as expectativas dos movimentos sociais não encontrem eco no novo governo, Stédile acredita que os trabalhadores rurais irão se organizar para reivindicar avanços”. “As lutas sociais vão se desenvolvendo em função dos problemas”. Em termos mais diretos, as colunas invasoras voltarão à carga, com a ocupação de terras particulares e com outras ações violentas e ilegais.
O que diz a própria Dilma Roussef de tudo isto? Ela anda devagar, pisando na corda bamba, tentando lançar confetes aos dois bandos.
Na noite do último dia 2, a presidente eleita disse ao “Jornal da Band”, na “Rede Bandeirantes” que o agronegócio é “estratégico” para o país mas que há “uma necessidade de conciliar a atividade com a questão da reforma agrária”.
“O agronegócio brasileiro é uma das áreas em que o Brasil demonstra grande competência, com o desenvolvimento e a apropriação de tecnologia de ponta. Não basta a Reforma Agrária, você tem de levar luz, propiciar renda e remuneração, para que a pessoa possa criar um tecido social. Não é admissível que o Brasil deixe ocorrer outro Eldorado de Carajás e também não é admissível invasões de terras produtivas”.
Sobre a posição da presidente eleita em relação ao MST, informa a Agência Brasil: “A presidente eleita, Dilma Rousseff, disse hoje (3-11-2010) que não tratará a questão do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) como “caso de polícia”, mas garantiu que não compactuará com invasões de prédio nem de áreas produtivas ou com qualquer ilegalidade.
Isso significa que ela apoia as metas do MST mas não os métodos? Que este movimento pode continuar com as suas ações ilegais, ocupando prédios públicos e terras particulares?
No fundo, é um problema de como avançar. Uma questão apenas tática: o MST continuará com a sua bandeira de “Reforma Agrária na marra” através de ações violentas e ilegais. E o governo, em uma mal velada cumplicidade com o MST, fará a “Reforma Agrária na lei”?
Será esta a solução escolhida para a próxima governança petista? A opinião pública brasileira, pacata, trabalhadora e ordeira, aceitará sem reação a tão velhaca manobra? E as cúpulas do agronegócio, sempre prontas a uma solução consensual, toparão a parada? No momento, é difícil responder. Quem viver, verá.
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