Assistimos, domingo 7, a duas canonizações de jovens feitas pelo papa Leão XIV: Carlo Acutis e Pier Giorgio Frassati. Cobertura da mídia não faltou, detalhes da vida de cada um desses jovens foram amplamente divulgados.
A canonização é sempre uma proposta de um modelo. O conservadorismo cresce entre os jovens, pelos menos no Ocidente. A busca pelo transcendente, pelo cerimonial, pelo sublime – e de outro lado, o cansaço pelo trivial da vida moderna hedonista, ateisante, igualitária.
A mídia também tenta passar sua “mensagem”: uma forma de santidade “light” ao gosto do século; saibamos nos defender.
Permita o leitor uma consideração à margem das canonizações, mas não tanto à margem.
Modelos, tipos, arquétipos, “estrelas”, “vedetes”, heróis, figuras midiáticas … santos.
A História faz seu curso, os tempos mudam, o vocabulário às vezes é torcionado, mas a realidade profunda continua sempre a mesma. E, não poderia deixar de ser assim – para todos nós, católicos, que professamos a Fé num Deus transcendente, eterno, perfeito, imutável, criador do céu e da terra, que fez o homem à sua imagem e semelhança. Os homens continuam na busca dos Modelos Ideais.
Os modelos ideais
Observadores penetrantes, comenta o Pe. Teixeira-Leite Penido, “testemunharam um fato que reveste o maior alcance na psicologia prática; o fato de os homens só seguirem um ideal de vida, quando o encontram encarnado num indivíduo que lhes serve de modelo.”(1)
Encontramos aqui um argumento de ordem natural que sempre orienta as canonizações de santos: é a procura dos modelos ideais, dos arquétipos.
Continua o Pe. Penido: “Que todo homem seja guiado por um ideal de vida, é incontestável; o mais das vezes não o formula explicitamente; existe o ideal sob forma de aspirações, de tendências, de ideias semiconscientes. Por outro lado, esse ideal só se torna eficaz, quando o sujeito o vê realizado por um outro, que lhe servirá de modelo, que será o seu “herói”.”
Trabalhando com os elementos da década de 1940, prossegue na exemplificação. Esse “herói para a maioria dos homens é modestíssimo: um parente ou um conhecido, que desperta ao mesmo tempo admiração e inveja; poderá ser também um escritor, um chefe político, uma “estrela” de cinema etc. Encontrado o “herói”, dispõe-se em seguida o indivíduo a imitá-lo.”
E quando surge um santo?
Analisado o fenômeno no plano natural o autor passa ao campo sobrenatural, é quando o modelo passa a ser um santo:
“Acontece, por vezes, que uma personalidade excepcionai entusiasma e arrasta atrás de si multidões inteiras, que lhe votam verdadeiro culto de veneração e de amor. Aparece “frei Francisco pequenino” — como ele mesmo se denominava — fazendo penitência e chamando os homens à penitência. Encontra, imediatamente, centenas de milhares de imitadores. Ricos e pobres, letrados e ignorantes, reis e servos, solteiros e casados, todos querem seguir-lhe as pegadas, E’ uma revolução espiritual que repercute fundamente sobre toda a estrutura da sociedade medieval.”
Santo Inácio
Após tratar dos falsos modelos das décadas de 1930, 1940 – “nossa época presencia o fato surpreendente de nações inteiras sacudidas por delirante entusiasmo por um Stalin, um Führer, um Duce”, o Pe. Penido toma Santo Inácio de Loyola que aplicou o mesmo princípio dos modelos concretos para a vida espiritual.
Diz ele: “sabedor de quão inoperante é um ideal abstrato, propôs ao retirante que seguia os “Exercícios Espirituais”, as famosas meditações sobre o Reino, os dois Estandartes (de Cristo e de Satanás), que concretizavam o ideal religioso na pessoa de Cristo, apresentado não já como personagem do passado, mas como um Rei e Capitão seiscentista, ao qual o retirante podia e devia agregar-se para amá-lo apaixonadamente, servi-lo fielmente, segui-lo até a morte.”
Santidade não “midiática”
Ainda aqui as considerações do Pe. Teixeira-Leite nos ajudam a compreender a santidade bem longe dos holofotes da mídia. Diz ele: “Correspondem à graça, colhem fruto dos sacramentos, obedecem aos mandamentos, seguem os conselhos aqueles cristãos inúmeros que renunciam a tudo quanto o mundo mais aprecia, para se dedicar ao serviço de todas as misérias, de todos os infortúnios por mais repelentes sejam eles.”
Uma apologia do Corpo Místico
De um lado, as riquezas interiores do Corpo Místico: “Sem mancha alguma, brilha a Santa Madre Igreja nos Sacramentos com que gera e sustenta os filhos; na fé que sempre conservou e conserva incontaminada; nas leis santíssimas que a todos impõe, nos conselhos evangélicos que dá; nos dons e graças celestes, pelos quais com inexaurível fecundidade produz legiões de mártires, virgens e confessores.”
Essa é a doutrina dos modelos ideais que os santos realizam de uma maneira ápice: “mostra-nos o Pontífice que esta santidade não paira no empíreo, mas desce para nela se encarnar, “até a fraqueza humana”, sujeita-se “àquela lamentável inclinação para o mal.”
O ápice do modelo ideal é o Verbo de Deus Incarnado. Nosso Senhor quis, também, ser um arquétipo terreno, visível, palpável para todos nós.
E nós, podemos dizer como São Paulo que esse ideal de santidade é acessível: Tudo posso naquele que me conforta (Filipenses 4-13).
Peçamos a Nosso Senhor que nos envie os modelos ideais, os santos que inspirem os nossos jovens nesse século XXI. De um lado, a face terrível da Revolução Woke (que o Dr Plinio cognominou de IV Revolução) e de outro a perfeição dos filhos consagrados a Maria Santíssima segundo o método lógico, eficaz e maravilhoso de São Luiz Grignion de Montfort.
Contamos em outro artigo publicar os comentários do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira sobre os Modelos Ideais, os arquétipos.
Por fim o meu Imaculado Coração triunfará!
(1)O Corpo Místico de Cristo, (cap 14) Pe. Teixeira-Leite Penido