Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
4 min — há 9 anos
O PT e demais forças de esquerda a ele aliadas ou meras forças auxiliares, como os movimentos sociais, têm agora problema delicado, estão com cobertor curto. Se puxarem para a cabeça, descobrem o pé; se cobrirem o pé, deixam a cabeça no frio.
Perdia o PT com o punho cerrado, ganhou com a mão estendida. Com ela, desarmou resistências no público em geral, avançou em setores antes duramente bloqueados, como, por exemplo, lideranças rurais, aparelhou escandalosamente o Estado. Nessa moldura, a anterior vigilância de largos setores mudou para indiferença, ocasionalmente até mesmo para simpatia. Ficaram comuns opiniões do tipo ‘a ideologia morreu, não passam de ladrões aproveitadores’.
Veio a crise econômica, o desemprego, a volta da carestia, a roubalheira despudorada. E a grossa maioria se voltou contra o PT e o governo Dilma. Na esteira, na Câmara dos Deputados, 367 deputados, de olho nas possibilidades de reeleição, votaram a favor do impeachment da Presidente.
Na militância petista, clima de luto. Se não agir rápido, a direção corre o risco do desânimo desagregador em seus setores mais ardentes. Precisa tê-los em vista. Se atendê-los, assustando o público, as possibilidades eleitorais correm perigo. O dilema emerge inevitável à maneira do desafio da esfinge de Tebas: “Decifra-me ou te devoro”.
De outro ângulo: é a política difícil de, ao mesmo tempo, desmobilizar os opositores, atrair simpatizantes e mobilizar a militância. Já começou em tom virulento e intolerante a encenação de perseguido por defender os pobres e vítima de elites insensíveis. Em suma, no presente momento, o PT optou pelo confronto. Foi jogado no quarto de despejo o boneco “Lulinha paz e amor” e a empoeirada “Carta ao Povo Brasileiro” de 22 de junho de 2002. À ribalta, tinindo, voltou o “Lula jararaca”.
Nessa linha, proclama a resolução do Diretório Nacional de 19 de abril último: “A direção do PT congratula-se com […] a Frente Brasil Popular, aliada à Frente Povo sem Medo. […] Reconhecemos a vitalidade dos movimentos sociais, a abnegação e a combatividade de nosso aliado histórico, o Partido Comunista do Brasil. Prestamos igualmente nosso respeito, entre outras agremiações, ao Partido do Socialismo e Liberdade (PSOL) e ao Partido da Causas Operária (PCO) […] Fazendo autocrítica na prática, o Partido dos Trabalhadores tem reaprendido nesta jornada, antiga lição que remete à fundação do nosso partido: o principal instrumento político da esquerda é a mobilização social, pela qual a classe trabalhadora toma em suas mãos a direção da sociedade e do Estado”.
Volta o PT das origens, dando guarida às concepções bolcheviques: a mobilização em frente popular e não a luta parlamentar, trará ao operariado (ao Partido, seu representante) a direção da sociedade e do Estado. Impossível não escutar ecos de Lênin antes do assalto ao Palácio de Inverno na Rússia.
Na esteira da tomada de posição radical, Rui Falcão avisou: “Não haverá trégua nem estabilidade. É muito mais que oposição parlamentar só. Não tem paz, não tem tranquilidade, tem luta”.
Com isso, o PT atende a setores radicalizados. Mas tem o reverso, duas possibilidades, uma desejada, outra temida. O medo provocado pela face agressiva petista na opinião pública a fará mais tendente a ceder. É o cede ou vai apanhar mais, vantajosa para o PT. Contudo, existe a segunda possibilidade: pode também irritá-la, enrijecê-la, fazê-la mais disposta a resistir. E os efeitos podem ser profundos e longos.
Para César Maia, ex-prefeito do Rio de Janeiro, o PT começou mal, errou na dose, achou que a intimidação resolvia e produziu efeito contrário. Acho que ele viu certo: “Quando aceito o pedido de impeachment de Dilma e aberto o varejo dos cargos, se esperava que Dilma e seu núcleo duro suavizassem sua comunicação e seus discursos de forma a não gerar insegurança nos deputados do baixo clero. Ou seja, para ter votos suficientes, deveriam caminhar em direção ao centro. Mas fizeram exatamente o contrário. Encantaram-se pelo slogan que seus comunicadores criaram ‘não vai ter golpe’ e subiram o tom. O slogan ‘não vai ter golpe’ foi sendo interpretado como algo do tipo ‘se for necessário pegaremos em armas’. Os discursos no Planalto, no Congresso e nos comícios subiram o tom como um slogan latino-americano: ‘Não passarão’ ou ‘Governo Dilma ou morte’. As caras e feições dos deputados foram ganhando expressões crescentemente raivosas. Toda essa coreografia foi percebida pela opinião púbica difusa, pelos deputados e senadores que estão fora da esgrima ideológica como se, não passando o impeachment, nos dois e meio últimos anos de governo, Dilma radicalizaria à esquerda. A distribuição de cargos não seria redistribuição de poder. O poder estaria mais centralizado. Assustou”.
Aqui está o risco do PT: assustar e levar à determinação de resistir. Se acontecer, com mais foco, dependendo de como acontecer, o Brasil direito terá dado passo imenso no rumo certo.
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