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Plinio Corrêa de Oliveira
IPCO em Ação

Ante a agressão do extremismo islâmico, por que não uma Cruzada?


RicardoCoracaodeLeao

À medida que vão sendo conhecidos os massacres perpetrados pelos terroristas do Estado Islâmico e seus congêneres contra cristãos da Ásia Menor e da África, cresce a indignação na opinião pública do Ocidente. E muitos começam a perguntar se não se deveria convocar uma nova Cruzada em defesa desses povos, vítimas de uma inédita guerra de extermínio em nome de Alá.

Está dito: “Se teu olho te é ocasião de pecado, arranca-o e atira-o fora de ti”. Com isto quis Jesus nos ensinar que caso tenhamos um parente, por mais querido que este nos seja, ainda que tão querido como a menina de nossos olhos, se tentasse nos afastar da fé e do amor de nosso Deus, devemos estar decididos a separá-lo, a afastá-lo, a erradicá-lo de nós. Por tudo isso, os cristãos agem segundo a justiça quando invadem vossas terras e vos combatem, porque vós blasfemais contra o nome de Cristo e porfiais em afastar de Sua religião todos os homens que podeis. Entretanto, se tu quiseres conhecer, confessar e adorar o Criador e Redentor do mundo, amar-te-ei como a mim mesmo.
São Francisco de Assis aos sultão Malik al-Kamil durante sua participação na quinta Cruzada.

A palavra “Cruzada” pode causar calafrios a liberais inveterados, como também a católicos picados pela mosca do relativismo progressista. Uns e outros procuraram estigmatizá-la, associando-a ao abuso, à cobiça, ao afã de domínio político, etc. Mas, felizmente, sua tentativa foi vã.

Embora tenha havido cruzados indignos desse nome, como os há em todas as categorias de pessoas, o protótipo do Cruzado é um só: o Cavaleiro cristão, cujo idealismo e virtudes mil vezes comprovadas converteram-no em paradigma, em modelo de homem de honra perfeito e acabado, inigualado na História. E a gesta das Cruzadas ficou de tal maneira unida aos valores da Cavalaria, que ela perdura até hoje no imaginário do Ocidente, aureolada de merecido prestígio.

Na origem das Cruzadas, a defesa dos cristãos oprimidos

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Ao contrário do que se tenta impingir como verdade, as Cruzadas, de fato, nasceram como defesa das populações cristãs em situação de fraqueza diante das agressões, abusos e vexames sem conta cometidos contra elas pelos muçulmanos — em tudo similares aos praticados hoje pelos guerrilheiros do Estado Islâmico.

A notícia desses abusos moveu o Papa Urbano II a convocar em 1095 o Concílio de Clermont, assistido por 300 bispos e milhares de nobres. Ali, o retrato da terrível situação dos peregrinos e dos habitantes cristãos da Terra Santa, agredidos e oprimidos pelo poder muçulmano, e das profanações contra os lugares santos, determinou que ao grito de Deus vult! (“Deus o quer!”), um vento de coragem e decisão percorresse as fileiras dos cavaleiros presentes, e se propagasse em seguida pela França e pela Europa.

Milhares decidiram fazer um voto de cruzada e partir para a Terra Santa. Nasceu assim a Primeira Cruzada, que culminaria vitoriosamente em 1099 com a conquista de Jerusalém, arrebatada aos egípcios pelo lendário Godofredo de Bouillon e pela flor da nobreza francesa.

Uma gesta impulsionada e protagonizada por santos da Igreja

Mulheres escravizadas pelo ISIS
Mulheres escravizadas por militantes do Estado Islâmico.

Ávidos de lhes encontrar defeitos, os críticos das Cruzadas se esquecem de que o essencial dessa gesta foi a justiça de seu objetivo, servida pela santidade de seus propulsores e protagonistas. Santo foi o propulsor da Primeira Cruzada, o bem-aventurado Urbano II; santo foi o Doctor Melífluo, São Bernardo de Claraval — a quem se deve a belíssima oração do Lembrai-vos… —, autor da regra de vida dos Cavaleiros Templários, na qual figura o famoso voto de não recuar no campo de batalha; santos foram os reis cruzados São Luís IX da França (que comandou não uma, mas duas Cruzadas!) e seu primo espanhol, São Fernando III de Castela, que com ímpeto incontenível, em poucos anos recuperou aos mouros metade da Espanha, inclusive as cidades de Córdoba e Sevilla.

Santo foi também o heroico frade franciscano São João de Capistrano, cognominado de “o padre piedoso”, que com risco de perder a vida alentou os cruzados em pleno campo de batalha e contribuiu decisivamente para a vitória contra os turcos em Belgrado (1456); santo foi igualmente o Papa São Pio V, organizador da grande cruzada naval que, no golfo de Lepanto, quebrou definitivamente em 1571 o poderio naval dos turcos; do mesmo modo santo foi o bem-aventurado Inocêncio XI, o qual convocou a Cruzada contra os turcos que assediavam Viena (1683). Com ele cooperou outro beato franciscano, Marco d’Aviano, que ajudou a organizar o vitorioso exército cristão, o qual, embora três vezes inferior em número (60 mil contra 180 mil), derrotou os turcos e extinguiu para sempre a ameaça terrestre otomana à Europa central.

Poderíamos citar ainda muitos outros santos com espírito de Cruzado, como o caritativo São Vicente de Paulo, que ao ser surpreendido pela morte impulsionava um projeto de Cruzada ao norte da África.

São Francisco de Assis defende as Cruzadas e insta o sultão a se converter

São Francisco de Assis diante do sultão do Egito (Giotto di Bondone, 1267-1337)
São Francisco de Assis diante do sultão do Egito (Giotto di Bondone, 1267-1337).

Alguém poderá objetar: não entendo São João de Capistrano e o bem-aventurado Marco d’Aviano: como é possível que pacíficos santos franciscanos tenham se envolvido numa Cruzada? Tal ação não contradiz sua vocação de homens de paz?

De nenhum modo! Estando a Cristandade em perigo, o que há de mais lógico do que defendê-la e apoiar os que a defendem? Tanto é assim que o próprio São Francisco de Assis deu o exemplo a seus frades: ele acompanhou a Quinta Cruzada e teve a coragem de proclamar sua legitimidade diante do próprio sultão do Egito!

Essa santa ousadia ocorreu em 1219, quando o sultão Malik al-Kamil recebeu São Francisco próximo de Damieta. O episódio é assim narrado por Frei Illuminato, seu companheiro de incursão:

“O Sultão apresentou [a São Francisco] outra questão: ‘Teu Senhor ensina nos Evangelhos que não se deve pagar o mal com o mal, e que inclusive não deves negar o manto a quem quiser subtrair-te a túnica. Portanto, os senhores cristãos não deveriam invadir nossas terras’.

“Ao que o Beato Francisco respondeu:

“Parece-me que tu não leste todo o Evangelho. Em outras passagens, na verdade, está dito: ‘Se teu olho te é ocasião de pecado, arranca-o e atira-o fora de ti’. Com isto quis Jesus nos ensinar que caso tenhamos um parente, por mais querido que este nos seja, ainda que tão querido como a menina de nossos olhos, se tentasse nos afastar da fé e do amor de nosso Deus, devemos estar decididos a separá-lo, a afastá-lo, a erradicá-lo de nós. Por tudo isso, os cristãos agem segundo a justiça quando invadem vossas terras e vos combatem, porque vós blasfemais contra o nome de Cristo e porfiais em afastar de Sua religião todos os homens que podeis. Entretanto, se tu quiseres conhecer, confessar e adorar o Criador e Redentor do mundo, amar-te-ei como a mim mesmo”.

“Todos os presentes ficaram tomados de admiração por sua resposta”.(*)

* * *

Militantes do Estado Islâmico
Militantes do Estado Islâmico.

Os santos que acima citamos, por sua virtude e elevação moral, são exemplos para nós. Quando até São Francisco de Assis justifica plenamente, em nome do Evangelho, a Cruzada contra aqueles que usam a violência para arrancar das almas a fé em Jesus Cristo, nada impede, em princípio, que nós, católicos, o imitemos.

Sendo assim, não será uma Cruzada o que Deus pede neste momento às nações ocidentais e ainda cristãs, para deter o extremismo islâmico e evitar ao mundo males maiores?

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Nota:

(*) “Fonti Francescane”, Seção terceira, Outros depoimentos franciscanos, N° 2691, http://www.ofs-monza.it/files/altretestimonianzefrancescane.pdf

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Alejandro Ezcurra

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