Portal do IPCO
Plinio Corrêa de Oliveira
IPCO em Ação
Logo do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira
Instituto

Plinio Corrêa de Oliveira

Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo

Artigo-bomba explode em Madri

Por Plinio Corrêa de Oliveira

5 minhá 8 anos


Folha de S. Paulo, 7 de maio de 1969

O leitor se lembrará sem dúvida do que – reproduzindo informações da revista londrina “Approaches” – foi publicado nesta coluna sobre o IDO-C (Centro Internacional de Documentação e Informação relativa à Igreja Conciliar), superpotência propagandista mundial que se entrega à difusão de doutrinas religiosas e sociais comunistizantes nos meios católicos. A propaganda do IDO-C é sobretudo escrita, e tem a seu serviço – na Europa, nas duas Américas e ainda em outra regiões do globo – revistas e jornais católicos sem conta, colunistas religiosos de numerosos diários de grande tiragem, editoras imensas, bem como muitos escritores e conferencistas “vedetísticos”. Em suma, humanamente falando, o IDO-C é irresistível.

Um artigo-bomba publicado na revista católica madrilenha, universalmente conhecida, “Ecclesia” (n.º 1.423, de 11 de janeiro p.p.), revelou que, a serviço de objetivos afins e nefastos, existe uma superpotência especializada, já não mais na propaganda escrita, mas em um peculiaríssimo processo de propaganda verbal – mais eficiente, a meu ver, do que o rádio e a própria televisão. São os “pequenos grupos” que integram a chamada “corrente profética”. Desejo informar sobre eles o leitor.

* * *

Qual o objetivo dos “grupos proféticos”?

Informa “Ecclesia” que para os doutrinadores e historiadores do movimento “profético”, desde o século IV até nossos dias, a Igreja Católica esteve transviada. A esses dezesseis séculos de desvios chamam de “era constantiniana”, por ter sido inaugurada quando o imperador Constantino tirou a Igreja das catacumbas, lha reconheceu existência legal, a elevou à condição de Igreja oficial do Império, e a dotou de palácios e tesouros destinados ao culto e à caridade. Assim favorecida pelo primeiro imperador cristão, a Igreja se teria tornado dominadora e insolente: instituiu-se como Mestra infalível da Fé e da moral, ergueu catedrais imponentíssimas para celebrar sua glória, plasmou a seu talante uma cultura e uma civilização, e cobriu o orbe de universidades, colégios e obras de caridade incumbidos de incutir sua doutrina em todo o gênero humano. A imensa influência que a Igreja assim adquiriu, os pôs em mãos de uma Hierarquia dominadora, do alto da qual os Romanos Pontífices têm governado espiritualmente, a seu bel-prazer, ao longo de dezesseis séculos, os mais ilustres povos. É o que os “grupos proféticos” chamam de Igreja “triunfalista”, “paternalista” (em sentido pejorativo, isto é, autoritária) e alienante.

Lutero e Calvino, como se sabe, lançavam contra a Igreja calúnias. Mas – como veremos – o programa demolidor dos dois “reformistas” não foi tão ousado como o dos “grupos proféticos”.

Lutero e Calvino, como se sabe, lançavam contra a Igreja calúnias deste gênero. Mas – como veremos – o programa demolidor dos dois “reformistas” não foi tão ousado como o dos “grupos proféticos”.

O mais virulento da crítica dos “grupos proféticos” à igreja que eles chamam “constantiniana” está contida no termo “alienante”. Não insinua ele a idéia de alienação mental; o vocábulo é emprestado ao marxismo. Alienante é quem domina outrem. Alienado é quem se deixa dominar. Alienação é uma relação em que há um explorador e um explorado. Explorador é quem manda. Explorado é quem obedece.

Como se vê, segundo esta concepção, toda autoridade importa em uma alienação, em uma exploração. E também toda superioridade. Pois onde há superior e inferior, nasce a influência ou a autoridade do superior sobre o inferior. Acabar com todas as explorações alienantes é derrubar todas as autoridades, e estabelecer entre os homens a mais rigorosa igualdade. Quando os “grupos proféticos” falam em alienação e desalienação, é claro que assim entendem essas palavras. E isso se vê pelas modificações que querem introduzir na Igreja “constantiniana”, com o fito de que desta surja uma Igreja-Nova, modelada de todo em todo ao que pretendem ser o espírito igualitário de nossa época:

1 – Nosso conceito de um Deus pessoal, transcendente e infinitamente superior às criaturas, aliena os homens. É preciso substituí-lo pela idéia de um Deus impessoal, imanente, isto é, como que esparso e diluído em todos os seres. Um Deus que não é extrínseco nem superior às criaturas, e por isto não é alienante.

2 – Todas as narrações sacras que nos falam de um Deus “à constantiniana” precisam ser rejeitadas. São velhos mitos que o homem de hoje não aceita mais. A Igreja-Nova será sem mitos, isto é, desmitizada. Pois estes mitos alienavam o homem a um Deus transcendente e superior.

3 – Também era alienante a concepção “constantiniana” de uma esfera religiosa sobrenatural e sacral, superior à esfera natural, temporal e terrena. A Igreja-Nova, integrada na esfera terrena, procura remediar a situação do homem pela ciência, pela técnica e pelo progresso. A Igreja-Nova está engajada por inteiro no principal interesse terreno da humanidade, que é a eliminação das explorações entre os homens, pela abolição das desigualdades econômicas e sociais, todas elas alienantes.

4 – A Igreja-Nova não se reputa mais Mestra. Esta atitude é oposta à dignidade do povo evoluído de hoje, em que cada homem pensa por sua cabeça. Assim, cada homem pode ter uma fé e uma moral modelada essencialmente por sua consciência. E a Igreja-Nova, superecumênica, o que pede de seus fiéis é só que lutem para desalienar os explorados e oprimidos.

5 – A Igreja-Nova, pois, não quer mais clérigos que sejam “sacrais”, isto é, que vivam só para a Religião, e por seus hábitos, atitudes e trajes peculiares se distingam do comum dos homens. Isto seria alienante. A Igreja-Nova, dessacralizada, quer padres que sejam, vivam e se tratem como qualquer leigo.

6 – A Igreja-Nova não aceita mais a organização alienante pela qual o poder espiritual está todo nas mãos do papa, dos bispos e do clero. É necessário constituir uma câmara de leigos eletiva, que faça sentir à Hierarquia a vontade do povo, e por sua influência leve a Hierarquia a governar como o povo quer. A Igreja-Nova é democrática, na qual bispos e párocos sejam elegíveis pelos fiéis.

7 – A Igreja-Nova não quer universidades, nem colégios, nem obras sociais senão sob condição de que estas não tenham fins de apostolado, pois fazer apostolado é ensinar, e ensinar é tratar o próximo como discípulo, isto é aliená-lo.

Como é fácil ver, o que o movimento “profético” quer é uma igreja panteísta ou atéia. Algo que seja o oposto da Igreja Católica autêntica. E que se pareça muito com o comunismo.

É o que examinaremos mais de perto no próximo artigo.

Detalhes do artigo

Autor

Plinio Corrêa de Oliveira

Plinio Corrêa de Oliveira

557 artigos

Homem de fé, de pensamento, de luta e de ação, Plinio Corrêa de Oliveira (1908-1995) foi o fundador da TFP brasileira. Nele se inspiraram diversas organizações em dezenas de países, nos cinco continentes, principalmente as Associações em Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), que formam hoje a mais vasta rede de associações de inspiração católica dedicadas a combater o processo revolucionário que investe contra a Civilização Cristã. Ao longo de quase todo o século XX, Plinio Corrêa de Oliveira defendeu o Papado, a Igreja e o Ocidente Cristão contra os totalitarismos nazista e comunista, contra a influência deletéria do "american way of life", contra o processo de "autodemolição" da Igreja e tantas outras tentativas de destruição da Civilização Cristã. Considerado um dos maiores pensadores católicos da atualidade, foi descrito pelo renomado professor italiano Roberto de Mattei como o "Cruzado do Século XX".

Categorias

Esse artigo não tem categoria

Tags

Comentários

Seja o primeiro a comentar!

Comentários

Seja o primeiro a comentar!

Tenha certeza de nunca perder um conteúdo importante!

Artigos relacionados