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Plinio Corrêa de Oliveira
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Belle Époque, uma abertura que se transformou em finale


Belle-Epoque

Há apenas um século, estávamos em plena Belle Époque.  “Apenas um século atrás”? Como? A diferença é abissal?

Pscologicamente para nós é como se fosse o tempo dos romanos! Vejamos porque o tempo passou tão depressa.

As ideias devastadoras provenientes do Protestantismo e da Revolução Francesa pareciam ter perdido uma boa parte de seu dinamismo, e em considerável medida se haviam transformado em meros cacoetes verbais. No âmbito da Igreja, ocupava o Sumo Pontificado um herói da Fé: São Pio X. Por toda parte despontava uma juventude idealista, muito dotada do ponto de vista dos talentos, tendente ao cavalheirismo, à firmeza de princípios, ao heroísmo, à nobreza de sentimentos.

E o grande São Pio X atestava:

“A civilização não mais está para ser inventada nem a cidade nova para ser construída nas nuvens. Ela existiu, ela existe; é a Civilização Cristã, é a cidade católica. Trata-se apenas de instaurá-la e restaurá-la sem cessar sobre seus fundamentos naturais e divinos contra os ataques sempre renascentes da utopia malsã, da revolta e da impiedade: omnia instaurare in Christo”.(1)

O fato é que transformações sociais de sabor revolucionário como o feminismo e a arte moderna, “na verdade mais ensaiadas que efetuadas, encontram por toda parte formidáveis resistências religiosas, morais e políticas, escoradas nas ruínas de um Antigo Regime que nunca pára de morrer (Arno Mayer), mas renovadas em suas justificativas e estratégias”.(2)

Sim, “um Antigo Regime que nunca pára de morrer”. O processo revolucionário desencadeado em 1789 pela Revolução Francesa encontrava no Antigo Regime dificuldades para avançar significativamente. Ora, essa perda de aceleração representa um perigo inestimável para um processo.

Plinio Corrêa de Oliveira afirma que “a Belle Époque foi uma espécie de pequena Contra-Revolução”.(3)

 Como disse pitorescamente um tenente socialista na Revolução dos Cravos, o processo revolucionário é como uma bicicleta: se sua velocidade diminui, ela se desequilibra, e se parar, cai… Na Belle Époque, o processo revolucionário estava passando por uma grande desaceleração.

Uma célebre enquete, assinada com o pseudônimo de Agathon, levada a efeito por Henri Massis (1886-1970) e publicada em 1911, documentava muito bem essa desaceleração. Nela se podia ler:

 “Algo mudou na juventude, esse é o sentimento unânime. A atitude corajosa dos moços que entram hoje na vida foi um impacto para todos os mais velhos”. A França havia feito “uma espécie de exame de consciência, uma revisão íntima de todos os seus valores, e chegou assim à eliminação de quimeras que a partir dessa época perderam prestígio. O que diferenciava a nova geração das precedentes era seu realismo”.

“Gosto pela ação, fé patriótica, limpeza de costumes, renascença católica, esses traços podiam ser encontrados em todas as nossas observações”.

E Henri Massis afirma:

“Aos olhos desses moços, uma natureza pensante, verdadeiramente rica de amor e de vida, devia tender para uma crença, um dogmatismo precursor da ação”.(4)

Ninguém sabe em que esplendores poderia desabrochar essa juventude, se tivesse tido condições de desenvolvimento normais.

Mas veio a Grande Guerra, veio o pós-guerra, e tudo mudou, no Século XX.

Foi então que a Revolução plurissecular, anêmica e claudicante, finalmente levou de vencida o Antigo Regime, que nunca parava de morrer. Houve uma impressionante virada, e essa realidade, penosa para os corações amantes da Cristandade, não pode ser dissimulada, sob pena de não se compreender a essência de nosso tempo.

Os mais velhos dos homens hoje vivos tiveram sua infância e quiçá o início de sua juventude naqueles dias!

 _____________

Notas:

  1. Encíclica Notre Charge Apostolique, 1910.
  2. José Maria Valverde, Viena, fin del Imperio (Planeta, Barcelona, 1990) p. 613.
  3. Conferência pronunciada em 14-10-82.
  4. Henri Massis, Il y a cinquante ans Agathon publiait sa célèbre enquête sur la jeunesse(“Historia”, nº 202, setembro/1963).

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Leo Daniele

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