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Plinio Corrêa de Oliveira
IPCO em Ação

Brasil celeiro do mundo — PARTE II


Recusar o “novo normal” escravizante e retornar ao normal milenar

Nesse tremendo caos em que nos encontramos, vem-se repetindo à exaustão que a humanidade irá entrar num ‘novo normal’. Provavelmente será uma sociedade utópica, igualitária…

Dom Bertrand de Orleans e Bragança

Hélio Brambilla, Nelson R. Barretto e Paulo Henrique Chaves

Durante a quarentena, que vai se prolongando ao sabor de mandos e desmandos, a leitura dos antigos sábios pode lançar luzes sobre os problemas atuais. Sócrates, Platão, Aristóteles e Sófocles, por exemplo, tiveram de lidar com problemas equivalentes a pandemias, política, corrupção. Santo Agostinho afirma, na Carta nº 7: “Os males não cessarão para os humanos antes que a raça dos puros e autênticos filósofos chegue ao poder; ou antes que os chefes das cidades, por uma divina graça, ponham-se a filosofar verdadeiramente”.

E o grande Papa São Pio X sintetizou, com clareza e inigualável segurança doutrinária: “A Civilização não mais está para ser inventada, nem a Cidade nova para ser construída. Ela existiu, ela existe: é a Civilização cristã, é a Cidade católica. Trata-se apenas de instaurá-la e de restaurá-la sem cessar, sobre os fundamentos naturais e divinos, contra os ataques renascentes da utopia malsã, da revolta e da impiedade”.

Deuses criminosos que aprovam crimes

É conhecido o fato histórico de que Sócrates foi condenado à morte sob a acusação de ter corrompido a juventude. Mas leituras recentes feitas nesta quarentena informam-nos que a tal corrupção da juventude consistia apenas em contrariar os deuses atenienses. Esses deuses, em cuja ‘vida’ mitológica debitavam-se crimes abomináveis, agiam assim como se fossem cúmplices dos pecados ‘epidêmicos’ em Atenas, coonestando-os nos seus mandatários, e daí na população em geral.

Platão esclareceu que Sócrates foi condenado por ter concluído que só poderia existir um único Deus verdadeiro. Assim negava, portanto, a pluralidade dos deuses existentes ao seu redor. Foi além, pois o pensamento monoteísta o conduziu a crer na existência da alma, e que a morte é o rompimento da alma com o corpo. Deduziu daí uma série de conclusões envolvendo a moral e a ética, o que o levou a viver como pensava e combater os tiranos corruptos detentores do poder — a política de sempre.

Podemos avaliar quão acertado e profundo era o pensamento de Sócrates, analisando sua sábia resposta a alguém que lhe perguntou como proceder para o povo voltar a ser feliz: “Volte a fazer aquilo que fazia quando era feliz!”.

Simples assim, não lhe parece?

Estátua de Winston Churchill, herói inglês na
luta contra o nazismo e o comunismo, ameaçada de ser jogada no chão pelos ardidos apregoadores da “nova normalidade”. Uma ditadura raivosa e anárquica se insinua, nada discreta, para um futuro não tão remoto.

O normal que nos torna felizes

Nesse tremendo caos em que nos encontramos, vem-se repetindo à exaustão que a humanidade irá entrar num ‘novo normal’. Mas que normal é esse? A julgar por muitos indícios, provavelmente seria uma sociedade utópica, igualitária, em que os ricos ‘opressores’ fossem obrigados a dar tudo aos pobres, passando todos a viver em igualdade completa, em libertinagem total, sem Deus, sem ordem, sem moral. Uma sociedade na qual fosse proibido proibir.

Não estranharia se nessa proposta de ‘novo normal’ estivesse incluído tudo isso. Os ecologistas radicais, por exemplo, pregam o fim da sociedade de consumo, por eles considerada poluidora, e começam a trombetear que o confinamento exigido pelos administradores da pandemia tornou os canais de Veneza mais limpos; a Baía de Guanabara e o Rio Tietê ficaram menos poluídos; o ar está mais puro; as florestas reverdeceram (exceto quando se trata da Amazônia pegando fogo…); as flores ficaram mais coloridas; o canto dos pássaros transmite mais alegria etc. Vai longe a cantilena bucólica dos ambientalistas, mas a evidência nos dispensa de demonstrar que ela não corresponde à realidade nem nos torna felizes.

Em tudo isso está em jogo o conceito de normal, pois alguns começam a enaltecer um novo normal ainda desconhecido. Mas estamos interessados numa sociedade em que o normal nos torne felizes. Etimologicamente, normal é aquilo que segue a norma. No entanto, examinando os critérios adotados ao longo dos séculos e milênios para aplicar as normas, podemos afirmar que, grosso modo, elas foram pautadas pela lei divina, ou lei natural, referendada depois pela lei positiva. Quanto à lei natural, ela é bem definida por São Paulo como a lei de Deus posta no coração dos homens. É o cumprimento dessa lei que nos torna felizes. E não adianta tentar nos impingir algum ‘novo moderno’ como sendo melhor que esse antigo.

Quarenta e oito instrumentistas de uma orquestra tocando no esquema de teleconferência. Algum connaisseur aplaudiria?

Imitações grotescas do verdadeiro normal

O que se pretende nos impingir como ‘novo normal’?

Nos primórdios da informática, os teóricos do assunto já falavam em ‘sociedade tribal superconectada’. Já caminhamos muito nesse rumo, e o que se pode observar é um aumento constante e exponencial do aspecto ‘conectado’, paralelamente ao aumento equivalente do aspecto ‘tribal’. Não nos estenderemos sobre este assunto, pois nosso objetivo é mostrar quanto decaiu a sociedade civilizada com as medidas sanitárias impostas no mundo inteiro a propósito da pandemia.

Examinemos inicialmente um aspecto simples, facilmente verificável — o uso das máscaras. Os ‘mascarados’ sempre foram vistos como criminosos que não querem ser identificados. O prezado leitor já deve ter constatado que, principalmente por causa das máscaras, cada transeunte, cada vizinho, cada amigo tornou-se de repente um potencial inimigo, um criminoso, provável veículo de um vírus perigoso. Isto contribui para aprimorar a civilização? Para requintar o contato social?

         Como recomendação para o relacionamento pessoal foi ‘sugerida’ a obrigação de abolir o aperto de mãos, o ósculo facial, os abraços. Será que isto contribui para incrementar amizades, manifestar confiança, apreço mútuo?

         Para não deixar sem substituição tais manifestações de amizade, carinho e respeito, propuseram cumprimentos com chutes e cotoveladas. O leitor aderiu a isso? Acha que está presente em tais propostas algum progresso do convívio social?

         As autoridades impuseram uma prisão domiciliar coletiva, a pretexto de quarentena. De repente, por decreto anônimo, toda a população mundial se tornou ‘provável portadora de doença’. Terá melhorado o sistema sanitário mundial?

Parece que a única solução verdadeira na qual se empenham é a possível descoberta de uma vacina cara. Mas isso o organismo sabe fazer muito bem, desde os tempos longínquos em que passamos a nos entender por gente.

         Sabe-se que a presença em um concerto de orquestra, uma ópera, uma peça de teatro é insubstituível por qualquer equipamento domiciliar de som ou imagem, mesmo os de melhor qualidade. Mas já se veem orquestras tocando para públicos imaginários, sendo assistidas ao vivo em muitos domicílios. No final, aplausos imaginários… reproduzidos em gravadores. Progredimos?

         Festas familiares e de outros gêneros estão sendo realizadas como teleconferências, cada participante confinado na sua prisão domiciliar. Você considera isso festa? Até onde chegamos!

Escolas, colégios, faculdades estão se adaptando para o ensino à distância. Aprenderá todo o necessário uma criança a cujo ensino faltou o contato pessoal? Será confiável um cirurgião que fez todo o curso médico nesse esquema?

Com o pretexto de evitar ‘aglomerações’, foram fechadas todas as igrejas, negando acesso aos recintos mais adequados para se pedir a ajuda d’Aquele que prometeu: “Pedi e recebereis, buscai e achareis, batei e abrir-se-vos-á” (Mt 7, 7). Terá havido algum progresso espiritual com as ‘missas de televisão’?

São estes apenas alguns efeitos colaterais do medicamento purgante chamado ‘Novonormal’, que nos fizeram engolir. Bastam estes para dimensionarmos quanto retrocesso, quanta escravidão querem impor ao nosso mundo civilizado… SE NÃO REAGIRMOS!        

Grilhões eletrônicos da escravidão universal 5G

Ao que tudo indica, o ‘Novonormal’ deve corresponder à etapa final do processo revolucionário, conforme foi explicitado pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em seu livro Revolução e Contra-Revolução. Tendo o Ocidente abandonado o normal benfazejo da civilização cristã medieval, o processo revolucionário vem inventando outros ‘normais’ sucessivos, rumo ao objetivo final que é sempre o mesmo: uma sociedade igualitária, tribal e ateia, sem tradição, nem família, nem propriedade, tendo como ditador um déspota universal.

Os meios utilizados desde então para forjar essa sociedade ateia e igualitária foram ora graduais e pacíficos, ora draconianos e brutais, como no-lo mostra claramente a História. Mas o que vem sendo agora implementado não tem aparentemente nada de brutal e tirânico. Parecem apenas artefatos de reconhecimento facial, aplicativos 5G de alta tecnologia, estímulos e ordens dirigidos ao cérebro das pessoas. Câmeras aos milhões, webcams, celulares, acompanhando cada diálogo, cada passo, cada pensamento. Municiada por toda essa tecnologia, qualquer transgressão das ordens, voluntária ou não, será punida no ato, por meios também eletrônicos.

Privacidade? Liberdade? Onde? Como? Consta mesmo que o mandarim não dispõe de palavra equivalente para privacidade. A que ficaria reduzido o ser humano? O que sobraria de civilização no mundo?

Tudo pacífico e consensual — apenas na aparência, repetimos —, mas na verdade um conjunto terrível de grilhões tecnológicos escravizantes. Evidentemente os artífices do processo não falam em escravidão. Mas qual a diferença? Se esses grilhões tecnológicos esmagam nossa liberdade de ir e vir, nossa felicidade de filhos de Deus, qual outra denominação devem ter, além de escravidão?

O vírus proveniente da China tem exercido o papel de favorecer esse desígnio, causando danos a milhões de pessoas pelo surgimento de problemas financeiros, morais e psicológicos de toda ordem. Mas o seu âmbito vai muito além dos horizontes de um Xi Jinping, pois abarca toda a sociedade mundial. A China é apenas um palco de marionetes, do qual se lançam olhares carrancudos para os espectadores. Todos nós somos os espectadores. Melhor dizendo, vítimas.

Com Sócrates e sem grilhões modernos

Voltando ao ensinamento de Sócrates, cabem agora algumas perguntas: O prezado leitor se sente mais feliz usando incômodas máscaras, antes privativas de criminosos? Está satisfeito com as restrições tirânicas à sua liberdade de ir e vir? Com a prisão domiciliar garantida pela polícia? Facilitou sua vida o distanciamento social, através do qual cada vizinho, parente, amigo se tornou um potencial inimigo? Tranquilizou-o a ‘avalanche de mortes’ alardeada pela imprensa, que parece aguardar-nos em cada esquina, cada escola, cada estabelecimento comercial ou social?

Começam a aparecer os protestos multitudinários veementes contra tudo isso. Se o leitor aceitou sem protestar todos esses instrumentos de tortura mental e social, lamentamos, pois essas medidas coercitivas estão se perenizando, e nada faz crer que cessarão. Parecem fazer parte deste ‘Novonormal’ tirânico. Pretexto para mantê-las? Ora, as ‘normas sanitárias’… Mas veja bem que essas normas são discutíveis, ninguém sabe de onde elas vieram, nem sequer nós concedemos autoridade legítima aos governantes para impô-las.

Ainda é tempo de reagir, protestar, esbravejar, mas o silêncio da maioria dos prejudicados permanece ensurdecedor. Não o nosso, pois todas estas linhas estão esbravejando.

         Decididamente, Sócrates estava com a razão. Precisamos voltar a fazer o que fazíamos quando éramos felizes. Alguém aí se sente feliz, depois de ter espezinhados todos os seus direitos à liberdade? Pelo contrário, cada um pode dizer por si mesmo: Eu era feliz, e não sabia. Quem conferiu a esses ditadores o direito de destruir nossa felicidade?

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Fonte: Revista Catolicismo, Nº 837, Setembro/2020.

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Dom Bertrand de Orleans e Bragança

Dom Bertrand de Orleans e Bragança

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D. Bertrand de Orleans e Bragança, chefe da Casa Imperial do Brasil, bisneto da Princesa Isabel, a Redentora, e trineto do Imperador Dom Pedro II, último monarca dos brasileiros.

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