Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
4 min — há 7 anos — Atualizado em: 10/9/2018, 9:44:03 PM
Juan C. Sanahuja, 15.02.15
O cardeal Robert Sarah (*) escreveu o prólogo do livro de Marguerite A. Peeters, Il Gender, Una questione politica e culturale, publicado recentemente na Itália.
Se o livro é importante, também o são as palavras do cardeal Sarah, que com sua clareza perfura o véu de ambigüidade e hipocrisia em torno da ‘perspectiva de gênero’, inclusive, infelizmente, em setores do mundo católico. Por isso reproduzimos alguns de seus parágrafos.
Diz o cardeal: “(…) De acordo com a ideologia de gênero, não há diferença ontológica entre o homem e a mulher. A identidade do homem ou da mulher não é inerente à natureza, mas atribuída à cultura: seria o resultado de uma construção social, um papel que os indivíduos interpretam através de tarefas e funções sociais. De acordo com a sua teoria, o gênero é performativo, e as diferenças entre os homens e as mulheres são regulamentos opressivos, estereótipos culturais e construções sociais que devem ser desconstruídos para alcançar a igualdade entre homens e mulheres”.
Em nome da liberdade e da igualdade, as batalhas ideológicas de gênero obedecem às necessidades individualistas e subjetivistas que têm como objetivo organizar a sociedade sem levar em conta a diferença sexual. Os técnicos dessa teoria e o lobby poderoso que estão lutando a favor de uma falta de diferenciação dos sexos –– que eles chamam de “neutralidade sexual” –– formam um fluido magmático no qual se misturam coisas confusamente abstratas e se põe em movimento, como se fosse uma nova utopia, a “libertação do desejo”, portadora de uma falsa felicidade universal. Eles trabalham para desmantelar o que chamam de “sistema binário” homem-mulher.
Como se pode ver, estamos diante de uma revolução que procura revogar a ordem da criação do homem e da mulher ordenada desde o início por Deus em seu desígnio de amor eterno. Realizada pelo Ocidente, essa revolução se desenvolve com uma ausência sutil, quase total, de debate público. As consequências são muito graves. Não se referem apenas às ciências médicas, humanas e sociais: as consequências destrutivas poderiam tornar-se cada vez mais evidentes na vida concreta da gente, da pessoa e da sociedade, onde quer que vivamos.
O gênero consolida hoje seus alicerces e ganha terreno cada vez mais. Está gradual e solidamente arraigado no Ocidente, tendendo a expandir-se pelo resto do mundo, um modo diferente de considerar o casamento, a família, o amor, a dignidade humana, os direitos e a sexualidade de uma perspectiva essencialmente subjetivista. A teoria de gênero atinge um nível maior e decisivo, convertendo-se na teoria “queer”.
Ou seja, irrompe um desejo generalizado de “desestabilização da identidade e do institucional”, porque a teoria queer –– explica Marguerite A. Peeters –– “não se detém na desconstrução do sujeito: afeta principalmente a desconstrução da ordem social. […] Trata-se de semear a dúvida sobre tendências de ordem sexual, para introduzir a suspeita sobre as ‘restrições da heterossexualidade’, para mudar a cultura, para demolir as normas convencionais. […]”.
Se as mudanças subversivas promovidas pelo gênero não deixam de se expandir, nossa civilização poderia perder o sentido do que é a humanidade, “não em benefício de um mundo perfeito, mas em uma queda na barbárie” e no totalitarismo.
O que faz a batalha tornar-se ainda mais árdua e difícil é que a revolução cultural chega hoje, de forma significativa, para destruir o vínculo vital que deve existir entre o direito e a verdade, o correto, o bom, o justo, a centralidade da pessoa humana na sociedade. Os direitos humanos estão agora sujeitos ao procedimento e às interpretações dos ditames do falso consenso. Uma vez proclamadas, essas interpretações poderão ser citadas para adotar convenções internacionais que se tornam leis nos Estados que fazem parte desses tratados.
São reinterpretações decididas por pretensos consensos, por exemplo, a de que o acesso universal à contracepção deve constituir a prioridade do desenvolvimento; de que maternidade é um estereótipo a ser desconstruído; de que certas manipulações genéticas justificam o sacrifício de embriões; de que o aborto e a eutanásia devem ser liberalizados; de que as uniões homossexuais devem gozar dos mesmos direitos do casamento. Este mesmo governo global exerce uma forte pressão sobre os Estados, com vistas a alinhá-los às suas prioridades ideológicas, loucuras flagrantes e escandalosas que ignoram o bem-estar dos países pobres e das culturas não-ocidentais. (Continua)
(*) Natural de Guiné, o cardeal Robert Sarah é arcebispo emérito de Conakri. Em 24 de novembro passado ele foi nomeado prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos.
Fonte: INFOCATOLICA
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