Leo Daniele
Quanto maior a distância de um acontecimento, menor a emoção que um fato causa. É o que diz Eça de Queiroz em “As catástrofes e as leis da emoção”. Para tentar demonstrar sua tese, o autor dá vários exemplos. O mais característico é o caso do pé da Luíza Carneiro.
Era noite, e a senhora lia para uma roda de pessoas o jornal repleto de notícias catastróficas. Primeiro, o terremoto em Java destruíra vinte aldeias e matara duas mil pessoas. Ninguém se interessou por tão longínqua desventura. Depois, mais perto, na Hungria, uma inundação destruíra vilas, campos, homens e gado. Alguém então murmurou, num lânguido bocejo: “Que desgraça!” Em seguida foram relatados uns tumultos na Bélgica, nos quais haviam morrido quatro mulheres e duas crianças. Vozes mais interessadas exclamaram brandamente: “Que horror!”
A leitora vira a página do jornal, e procura noutra coluna. De repente solta um grito, leva as mãos à cabeça e exclama (mais…)