Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
4 min — há 11 anos — Atualizado em: 9/17/2016, 12:00:15 AM
Às margens do escuro rio que separa o Estado do Paraná de Santa Catarina, na área metropolitana de Curitiba, palco de alguns episódios sangrentos durante a Revolução Federalista e a Guerra do Contentado, vive um povo laborioso e pacato, em duas ou três ocasiões flagelado por devastadora enchente do negro rio.
Dotados de grande fé, os rionegrenses sempre elevaram seus corações ao alto nestas ocasiões trágicas de sua história.
No ponto geograficamente mais alto da cidade se encontra um monumento que convida a população e a todos que por ali passem à consideração das coisas celestes. No topo da montanha está o Palácio Seráfico. Dir-se-ia que é um castelo francês.
Fiéis discípulos do Poverello di Assisi, missionários franciscanos vindos da Alemanha, estavam profundamente imbuídos do espírito do seráfico fundador: desapegar-se de todos os bens materiais para melhor contemplar nas criaturas os reflexos do Criador. Longe deles qualquer laivo de maniqueísmo, a heresia que pregava que a matéria é odiosa e que apenas o espiritual tem valor.
Foi assim, que utilizando todos os recursos de que dispunham, os franciscanos construíram um magnífico palácio, há precisamente 95 anos. O edifício, serviu como centro de formação de sacerdotes, ao mesmo tempo em que mantinha um elevado nível cultural, como atesta o escritor Prof. Ayrton Gonçalves Celestino:
“Quando jovem, tive a felicidade de viver no Seminário Seráfico por dois anos. Estudei lá. Desfrutei do ambiente de recolhimento, de alegria juvenil, de esportes, de estudo, de companheirismo e de muita oração. Foram dias de minha adolescência que jamais voltarão e que me trazem lembranças inesquecíveis.
(…) A festa de Cristo Rei era ornamentada com tapetes lindíssimos no caminho da procissão, nos pátios do Seminário. Os tapetes eram de serragem colorida, pó de café, pedra moída e outros materiais. Eram obras de arte paciente e demoradamente preparadas. Na madrugada da festa, os desenhos eram confeccionados no chão, cuidadosamente limpo, por onde passaria o Cristo Rei, na forma do Santíssimo Sacramento da Eucaristia, conduzido pelo Padre Superior.
(…) No bem montado e aparelhado salão de teatro eram proporcionados espetáculos teatrais pelos seminaristas. (…) O teatro tinha um conjunto de cenários de causar inveja a grandes teatros do mundo, com equipamentos especiais de substituição de panéis sofisticados, movido por roldanas e engrenagens que, em menos de 30 segundos trocavam os cenários. Também a acústica do salão foi primorosamente planejada.
Uma das peças que me marcou profundamente foi o “Doktor Faustus”, de Goethe.
(…)[O seminário possuía] … valioso Museu de Botânica, Zoologia e Entomologia, com sua grande e raríssima coleção de insetos, principalmente borboletas, paciente e zelosamente coletadas por Frei Miguel Witte OFM. O acervo entomológico ascendia a mais de 8 mil borboletas. Este Museu era a jóia mais rara e a mais visitada do Seminário, atraindo visitantes de muitas partes não só do Paraná como do Brasil e do mundo inteiro.
(…) A atividade de Frei Miguel no mundo da Ciência e da pesquisa, já nos idos dos anos 30, corria o mundo. Participava com artigos e pesquisas, de revistas especializadas na Alemanha. Frei Miguel engendrou um sistema muito curioso e inédito de fotografar animais em liberdade, sem a presença humana. Um dispositivo ligado a uma “armadilha fotográfica” que, disparado pelo próprio animal, acionava um “flash” e o instantâneo, a pose do animal, saía da forma mais perfeita possível. Várias destas fotos foram publicadas nas revistas especializadas do mundo. Eram os recursos que os cientistas tinham, então, quando ainda não existia a televisão e outros equipamentos de alta tecnologia como os de hoje”. (*)
Tendo os franciscanos se transferido para a cidade paulista de Agudos, as instalações passaram à municipalidade, instalando-se ali a Prefeitura Municipal de Rio Negro, conservando o nome de Palácio Seráfico.
Por este seminário passaram figuras de destaque, tendo mais de 10 bispos estudado ou lecionado ali. Destacamos entre estes Dom Frei Carlos Eduardo Sabóia Bandeira de Mello, primeiro bispo de Palmas. Ocupou o cargo de prefeito do Seminário e destacou-se como grande pregador. Era Provincial quando recebeu a nomeação para a Prelazia do Senhor Bom Jesus dos Campos de Palmas. A sagração episcopal realizou-se na catedral de Petrópolis, sua cidade natal. O evento contou com a presença do Chefe da Casa Imperial Brasileira, Sua Alteza Imperial o Príncipe Dom Pedro Henrique de Orleans e Bragança e outros membros da família imperial a quem o prelado era unido por laços de amizade.
Dom Carlos soube aliar sua linhagem aristocrática a uma grande afabilidade, tendo conquistado entre alguns fama de santidade.
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(*)Celestino, Ayrton Gonçalves – OS BUCOVINOS DO BRASIL – Curitiba, 2002- pgs. 275-277.
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