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Plinio Corrêa de Oliveira
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O fim do mundo relembrado no Canto da Sibila e no Dies Irae


Canto da
Canto da “profecía” da Sibila na Espanha

Ainda hoje, nas catedrais e igrejas de Mallorca e Alguer, cidade da Sardenha, costuma-se entoar na Missa de Galo o Canto da Sibila. Trata-se de um drama litúrgico de melodia gregoriana.

O Canto da Sibila é uma tradição oriunda da Baixa Idade Média e tem muitas versões.

Sibila é uma personagem da mitologia grega e romana – dizia ser uma profetiza inspirada por Apolo, e que conhecia e anunciava o futuro.

De fato, houve diversas sibilas (ou adivinhas) pagãs que moravam em grutas ou perto de mananciais, com as quais consultavam os supersticiosos pagãos.

Elas falavam sempre em estado de transe, utilizando muitas anfibologias (=frases com duplo sentido) e em hexâmetros gregos que se transmitiam por escrito.

Em espanhol existe este ditado: “En brujas no se debe creer, pero que las hay, las hay” (“Nas bruxas não se deve acreditar, mas que as há, as há”). E as sibilas, por vezes iluminadas por potencias infernais, podiam dar a conhecer fatos que depois se verificavam.

Na mitologia pagã, a Sibila teria profetizado o fim do mundo. Essa profecia dizia coisas que se assemelhavam com a escatologia bíblica relativa ao fim dos tempos e ao Juízo Final.

Em pleno Império Carolíngio, um primeiro manuscrito em latim do Mosteiro de São Marcial, em Limoges (França) faz menção dela.

Evocando sempre sua remota e fantasiosa origem, o Canto da Sibila ilustrava os fiéis de que os espantosos acontecimentos que acompanharão o Fim do Mundo e o Juízo Final não são uma mera construção cristã.

Sibila representada na catedral de Amiens
Sibila representada na catedral de Amiens

Mas também é uma realidade incrustada em muitos povos pagãos, a qual até ministros do diabo anunciam por meio de seus obscuros profetas.

O nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo deu início à fase final da História humana: o Novo Testamento.

Esta fase terminará com a segunda vinda do Salvador como Rei e Juiz Universal para julgar toda a humanidade e separar os bons dos maus.

Foi para lembrar essa grande verdade que em catedrais e paróquias começou a se cantar o Canto da Sibila no Natal.

Essa prática piedosa teve muita aceitação no sul da Europa, em particular na Espanha, na França, na Itália e em Portugal.

Uma das versões mais famosas é a que se canta até hoje na catedral de Mallorca. O manuscrito com o texto é o mais antigo, conservado em latim, edos anos entre 1360 e 1363.

Entre 1463 e 1468, o Canto da Sibila era cantado em latim ou numa língua local por um sacerdote ou por um jovem. Hoje é por um cantor. Ele está voltando a ser cantado em muitas regiões, na Espanha notadamente.

Sibila: canto na catedral de Mallorca
Sibila: canto na catedral de Mallorca

O Canto da Sibila aproxima-se muito do conhecido hino Dies Irae (“Día da ira”), do século XIII, atribuído ao franciscano Tomás de Celano (1200-1260), amigo e biógrafo de São Francisco de Assis. Também é atribuído ao Papa São Gregório Magno e a São Bernardo de Claraval.

O Dies Irae descreve o dia do Juízo Final, com o som da trombeta convocando os mortos para comparecerem diante o trono de Deus.

Operar-se-á então a ressurreição da carne, verdade de fé que professamos no Credo. Todos os mortos hão de ressuscitar para ouvirem o justo juízo de Deus. Todos os eleitos serão salvos e reinarão eternamente no Céu. Todos os réprobos serão jogados nas chamas inextinguíveis do inferno.

Cantado nas Igrejas, o Dies Irae faz um paralelismo entre os anúncios feitos a respeito por David, profeta de Deus, e pela Sibila, profetiza dos infernos.

Dia da Ira, aquele dia
Em que os séculos se desfarão em cinzas,
Testemunham David e Sibila!

Os dois cânticos preparam as almas para esse grande momento final da história humana em que “os Céus se enrolarão como um pergaminho”.

Nessa hora, o triunfo final do plano salvífico de Nosso Senhor ficará definitivo e sem apelação pelos séculos dos séculos.

SIBILA LATINA

Sinal do Juízo, a terra encharcar-se-á de suor.

Do céu descerá o Rei Sempiterno,
verdadeiramente presente em corpo e sangue, para julgar o mundo.

Os homens então rejeitarão as fantasias e qualquer tesouro,

o fogo vai queimar a Terra, correndo pela terra e pelo mar.

Romper-se-ão as portas do tenebroso inferno.

Mas toda a luz liberada será comunicada ao corpo dos santos.

O brilho do sol desaparecerá e as esferas do céu perderão sua alegria.

O céu ficará conturbado e o brilho da lua morrerá.

Todos os reis comparecerão perante o Tribunal do Senhor.

Fogo cairá do céu e um rio de enxofre.

Diz o católico hino Dies Irae, Dies illa

1 Dia da Ira, aquele dia em que os séculos se desfarão em cinzas, testemunham David e Sibila!

2 Quanto terror é futuro, quando o Juiz vier, para julgar a todos irrestritamente !

3 A trompa esparge o poderoso som pela região dos sepulcros, convocando todos ante o Trono.

4 A morte e a natureza se aterrorizam ao ressurgir a criatura para responder ao Juiz.

5 o Livro escrito aparecerá e tudo que há no mundo será julgado.

6 Quando o Juiz se assentar o oculto se revelará, nada haverá sem castigo!

7 Que direi eu, pobre miserável? A que Paráclito rogarei, quando só os justos estão seguros ?

8 Rei de tremenda Majestade, que ao salvar salva pela Graça, salva-me, fonte Piedosa.

9 Recordai-vos, piedoso Jesus, de que sou a causa de Vossa Via; não me percais nesse dia.

10 Resgatando-me, sentistes lassidão, me redimistes sofrendo a Cruz; que tanto trabalho não tenha sido em vão.

11 Juiz Justo da Vingança Divina, dai-me a remissão dos meus pecados, antes do dia Final.

12 Clamo, como condenado, a culpa enrubesce meu semblante suplico a Vós, ó Deus!

13 Ao que perdoou a Madalena, e ouviu à súplica do ladrão, dai-me também esperança.

14 Minha oração é indigna, mas, pela Vossa Bondade, não me deixeis perecer cremado no Fogo Eterno.

15 Colocai-me com as ovelhas. Separai-me dos cabritos. Ponde-me à Vossa direita;

16 Condenai os malditos, lançai-os nas flamas famintas, chamai-me aos benditos.

17 Oro-Vos, rogo-Vos de joelhos, com o coração contrito em cinzas, cuidai do meu fim.

18 Lacrimoso aquele dia no qual, das cinzas, ressurgirá, para ser julgado, o homem réu.

19 Perdoai-os, Senhor Deus, Piedoso Senhor Jesus, dai-lhes descanso eterno, Amém!

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Luis Dufaur

Luis Dufaur

1042 artigos

Escritor, jornalista, conferencista de política internacional no Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, webmaster de diversos blogs.

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