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Plinio Corrêa de Oliveira
IPCO em Ação

Dois países que causam (salutar) dor de cabeça à União Europeia


A Polônia é um país sofrido. Durante sua agitada história, foi muitas vezes conquistada e sujeitada por nações estrangeiras. Mais recentemente esteve sob o tacão comunista, que a jugulou inexoravelmente desde o fim da Segunda Guerra Mundial até inícios dos anos noventa. Entretanto, a Polônia nunca renegou sua profunda fé católica, o que levou os ateus vermelhos a serem obrigados a permitir o culto religioso, fato que não se deu em outras nações que gemiam sob o jugo do comunismo.

Hoje a Polônia é um dos países onde a fé católica está mais viva. E muitos de seus governantes se orgulham disso e o proclamam. Temos o exemplo de Mateusz Morawiecki [foto ao lado]que recentemente tomou posse como Primeiro Ministro, após ter sido eleito pelo partido Lei e Justiça. Ele substitui Beata Szydlo, que também havia sido uma defensora da herança cristã da Europa.

O novo Primeiro Ministro é conservador no sentido autêntico do termo, ou seja, é um católico praticante. Oriundo de família religiosa com sangue judaico, seu pai foi opositor ao regime comunista como membro do sindicato Solidariedade, cujas cúpulas eram traidoras e faziam um jogo duplo. Por isso foi preso em várias ocasiões em cela solitária e torturado sem piedade pelos comunistas. A tia de Mateusz esteve também presa num campo de concentração por sua destemida prática da religião. Desse modo, por ser oriundo de uma família católica e anticomunista, o novo Primeiro Ministro sabe o que é arriscar a vida por seus ideais.

Em sua primeira entrevista no cargo, Mateusz surpreendeu o mundo liberal por suas contundentes afirmações em favor de uma Europa cristã, isto é, católica: “Queremos mudar a Europa” — disse. “Meu sonho é ajudá-la a voltar a ser cristã; mas, infelizmente, em muitos lugares as pessoas já não cantam canções cristãs de Natal, enquanto as igrejas estão vazias ou foram convertidas em museus. Tudo isso é realmente triste”, afirmou.

Fato surpreendente em um homem público e, sobretudo, num político bem-sucedido, é a sua afirmação sobre a importância da oração em seu trabalho. Para exercê-lo bem, ele se apoia em Deus, “para dar-me a força suficiente para servir bem a Polônia”.

Para recristianizar a Polônia, suas prioridades políticas passam principalmente pela defesa, proteção e impulso da família, a instituição mais atingida pela crise de nossos dias. Um dos sintomas da crise familiar na Europa é a reduzida taxa demográfica provocada pela desagregação dos lares e do espírito hedonista que prevalece entre os casais jovens. “Com uma família forte, o inverno demográfico será menos gélido”, afirmou ele.1

Santificar novamente o domingo

Um dos êxitos do movimento anticristão e ateu que visa destruir os restos de civilização cristã remanescentes no mundo foi a laicização e comercialização do domingo. Um dos Mandamentos da Lei de Deus é exatamente “observar os domingos e festas de guarda”. Nossa Senhora alertou em La Salette para os castigos que adviriam ao povo devido aos trabalhos nos domingos.

São poucos hoje em dia, mesmo entre os que se dizem católicos, aqueles que se dão conta do pecado que há em transformar o domingo num mero dia bom para as compras.

Pois também no intuito de defender as raízes cristãs da Polônia — enfrentando a ideologia consumista e o laicismo ateu —, o Congresso aprovou blindar o domingo, impedindo a abertura do comércio. Além de ser uma atitude agradável a Deus, por atender ao que está disposto no Decálogo, visa ainda defender o descanso dos trabalhadores, a fim de que possam estar mais tempo com suas famílias e praticar junto com elas suas devoções.

O curioso é que essa proposta foi feita pelos sindicatos, que geralmente são esquerdistas. É propriamente “o demônio segurando a vela”… Mas a iniciativa foi bem acolhida pelo partido do governo e pela própria Igreja Católica, que viu nisso um esforço para fazer com que o domingo volte a ser um dia sagrado.

Entretanto, as compras aos domingos serão proibidas totalmente só em 2020. Até lá a medida vai sendo posta em prática gradualmente. Assim, no corrente ano, o comércio só poderá abrir nos primeiros e últimos domingos do mês. Já no ano que vem, só poderá fazê-lo no último domingo. Mesmo em 2020, enquanto o domingo será dia festivo para os trabalhadores, haverá exceção para o comércio abrir no domingo anterior às grandes festas de Natal ou da Semana Santa, assim como no último domingo de janeiro, abril, junho e agosto. As padarias e as compras online estarão isentas da proibição.

A proposta, que teve sua aprovação pelo Congresso, passará ainda pelo Senado, que deverá ratificá-la antes de ser assinada pelo Presidente, Andrzej Duda.2

Combate à pornografia na internet

Ainda no intuito de proteger as famílias, um grupo de deputados da situação, ou seja, do partido Lei e Justiça, propôs limitar o acesso às páginas web pornográficas, com vistas a moralizar a rede. Para isso, querem forçar os provedores de internet a bloquear as páginas pornográficas, permitindo seu acesso apenas aos usuários que confirmarem sua maioridade com um certificado digital, o que suporia pôr um fim ao anonimato das pessoas que frequentam esses lixos web.

Os deputados desse partido, que detém a maioria absoluta no Parlamento, argumentam que a proteção aos menores ante a abundância pornográfica na rede é uma tarefa que corresponde não só aos pais e escolas, mas também ao Estado. Esses parlamentares tomam como referência a proposta de bloquear conteúdos sexuais “não convencionais” na internet, apresentada ao Parlamento britânico em novembro passado, para forçar os provedores da rede a fechar o acesso a páginas cujo conteúdo não esteja certificado.

Apesar do espírito religioso do país ser superior ao de outras nações, segundo o Instituto de Profilática Sanitária da Polônia, 60% dos meninos e 40% das meninas reconhecem que seu primeiro contato com a pornografia na rede se deu na idade de 11 anos. Ademais, 50% dos internautas poloneses procuram atualmente conteúdos sexuais na rede não só em casa, mas também no trabalho, estando nisso logo atrás dos americanos, brasileiros, britânicos e italianos.

O deputado Eduard Siarka afirma: “Na Polônia, devemos fazer todo o possível para conseguir isso, embora seja difícil, pois tudo o que se refere a restrições na internet gera grande controvérsia e leva a ser tachado de censura, e isso é algo que não queremos”.3

 

Irritação da União Europeia, esquerdista e amoral

A primeira a abrir a boca contra essa onda conservadora na Polônia foi a União Europeia, grande amiga de tudo que é contrário à família e à religião, como o aborto, o “casamento” homossexual, a eutanásia, a Ideologia de Gênero etc.

Se não, vejamos: “A União Europeia lançou uma ação sem precedentes contra a Polônia, conclamando os Estados-membros do bloco a se preparar para sancionar Varsóvia caso o governo polonês rejeite reverter uma reforma no Judiciário que, segundo Bruxelas, representa uma ameaça ao estado de direito e à democracia no país. O processo iniciado pela UE poderá resultar na expulsão da Polônia do bloco”.4

            O site conservador Actuall esclarece o que isso realmente quer dizer: Embora oficialmente as autoridades de Bruxelas denunciem uma reforma judicial contrária aos princípios do Estado democrático de Direito [quer dizer, esquerdista], as diferenças da Comissão [da UE] com o governo de Beata Szydlo [ex primeira- ministra] incluem a posição de Varsóvia sobre os imigrantes, contrária a acolher mais refugiados, e às políticas da Polônia de apoio à família e de proteção ao direito à vida, que chocam com a aposta pelo aborto e a agenda LGBT de Bruxelas”.5

Também a Hungria é ameaça

A Hungria é outro país outrora aguilhoado pela Cortina de Ferro e que hoje defende os valores de sua herança cristã. Seu Primeiro Ministro, Viktor Orban [foto ao lado], também quer preservar as raízes cristãs da Europa em face do paganismo moderno. Pai de cinco filhos, ele vê na família fortalecida a base para isso.

Orban criou uma Secretaria de Estado para a Família, visando amparar e fortalecer a instituição familiar. Uma das medidas de seu governo para isso foi aprovar uma dedução fiscal para os jovens casais, a fim de animá-los a contrair núpcias. Mas isso com a condição de que se trate da primeira vez em que ambos os cônjuges se casam, ou seja, não favorece as uniões extraconjugais.

Entretanto, a exemplo da Polônia, o que mais irritou os dirigentes da União Europeia com relação à Hungria foi sua política conservadora contrária ao aborto, às uniões denominadas “homoafetivas”, à eutanásia etc.

O que levou o presidente do Parlamento Europeu, Guy Verhofstadt, a dizer que esses dois países, governados por direitistas e membros da UE, devem aceitar os “valores liberais”. Já sabemos o que isso quer dizer: deixar o bloco, porque “na União Europeia não há lugar para nações que elegeram governos direitistas para criar ‘sociedades antiliberais’”.6

Isso prova que, para a esquerda, só há mão, e não contramão. E que ela quer implantar a ferro e a fogo em todo o Ocidente a ditadura LGBT, o aborto, a eutanásia, a Teoria de Gênero e outras abominações, apesar das crescentes reações contrárias.

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Notas:

  1. https://www.religionenlibertad.com/sueno-con-ayudar-que-europa-sea-nuevamente-cristiana-afirma–61272.htm
  2. https://www.religionenlibertad.com/polonia-permitira-abrir-comercios-fabricas-los-domingos-protegera–60796.htm
  3. https://www.religionenlibertad.com/polonia-planta-cara-barra-libre-pornografia-internet-53589.htm
  4. “O Estado de S. Paulo”, quinta-feira, 21 de dezembro de 2017.
  5. https://mail.google.com/mail/u/0/h/pm5gzojutpx5/?&th=16077791dfd86e64&v=c
  6. https://www.jihadwatch.org/2018/01/eu-boss-calls-hungary-and-poland-racist-and-illiberal-for-refusing-muslim-migrants

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Plinio Maria Solimeo

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