Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
5 min — há 8 anos — Atualizado em: 9/1/2017, 8:47:57 PM
Há muitos anos fui visitar um produtor caipira de mel. Ele tinha um gavião preso e como alimento lhe passava uns pardais vivos. Esses ficavam silenciosos e enregelados até o gavião acabar com eles.
Não gostei da cena e esqueci. Mas ela ressurgiu da minha memória quando li que o imenso aeroporto parisiense de Roissy-Charles-de-Gaulle ficou absolutamente paralisado durante uma hora no meio-dia da quinta-feira 6 de outubro enquanto um avião vindo da Rússia em missão de reconhecimento voava no espaço aéreo próximo. Nenhum avião civil decolou ou posou.
O avião russo fez um voo raríssimo, mas não ilegal, explicou o especialista francês Gérard Feldzer, segundo a TV francesa BFM.
Estava autorizado dentro dos termos do tratado “Open Skies” assinado em Helsinque em 1992 visando favorecer um clima de confiança recíproca na era de distensão inaugurada bastante ingenuamente após a queda da URSS.
Esses voos não armados de reconhecimento podem ser feitos por qualquer um dos 35 países signatários preenchendo determinadas formalidades que, neste caso, o avião russo respeitou.
Dito tratado, explicou Gérard Feldzer, se baseia na reciprocidade.
O que quer dizer que agora a França querendo poderá fazer voo análogo sobre a Rússia.
Como está longe o sonhado clima de confiança recíproca!
Os aviões civis ficaram em terra como os pardais daquele caipira enquanto o gavião russo não se afastou!
A respeito foi muito explícito o chefe da diplomacia alemã Frank-Walter Steinmeier, falando para o jornal “Bild”, de maior tiragem no país, citado pela UOL.
Segundo o ministro germano, o período atual é “mais perigoso” que a Guerra Fria em virtude da crescente tensão entre os EUA e a Rússia.
“É uma ilusão pensar que se trata da antiga Guerra Fria. A época atual é diferente, mais perigosa”, declarou o ministro de Relações Exteriores ao jornal mais lido do país, prossegue aUOL.
“The Telegraph” de Londres citou a Wolfgang Ischinger, mediador alemão no caso da Ucrânia a serviço da OCSE, para quem há “considerável perigo de uma confrontação entre Rússia e o Ocidente. Este perigo nunca foi tão forte nas últimas décadas e a confiança entre Leste e Oeste nunca esteve tão baixa”.
Os EUA suspenderam as negociações com a Rússia sobre o cessar-fogo na Síria e acusaram Moscou e Damasco de “crimes de guerra” na cidade de Aleppo, intensamente bombardeada pelo aviação russa a serviço do regime sírio.
Por sua vez, o jornal parisiense“Libération”, destacou que a Rússia voltou a instalar em seu enclave de Kaliningrado mísseis táticos Iskander capazes de levar bombas atômicas.
O enclave faz fronteira com a Polônia e a Lituânia, membros da OTAN.
Para a Lituânia, o gesto russo poderia ser interpretado como risco de violação de tratado chave sobre as armas nucleares, segundo declarou à France Press, o ministro lituano de relações exteriores, Linas Linkevicius.
O alcance desses mísseis é de 500-700 quilômetros segundo a versão, podendo alguns atingir a capital alemã Berlim.
O ministério russo da Defesa tentou minimizar sem efeito as preocupações ocidentais. Mas, reafirmou que esses mísseis “continuarão a ser enviados a Kaliningrado num plano de treino das forças armadas russas” em diferentes partes da Federação.
A Polônia reagiu com indignação e seu ministro de Defesa, Antoni Macierewicz, qualificou as atividades russas na região de “muito alarmantes”.
Por seu lado, a mídia estoniana afirma que os Iskander estão sendo transportados em navios civis no mar Báltico.
Judy Dempsey, investigadora do instituo Carnegie Europe, explicou que a instalação dos Iskanders em Kaliningrado é um “meio de dividir o Ocidente” antes das eleições presidências americanas e intimidar os países bálticos e a Polônia, diminuindo a segurança na região.
Para Michal Baranowski, chefe do escritório em Varsóvia do Fundo Marshall alemão, trata-se “manifestamente de um passo abertamente agressivo”.
A França promoveu uma resolução na ONU pedindo à Rússia e ao governo sírio que cessem seus ataques aéreos contra Aleppo, mas o Kremlin fez uso de seu poder de veto. Só a China, a Angola e a Venezuela apoiaram à Rússia na votação.
E, em represália, o chefe russo cancelou sua visita à França marcada para o dia 19 de outubro, alegando que ele não está disposto a receber lições de François Hollande. Ambos presidentes partilham o ideário socialista, mas discordam a respeito do papel mortífero da Rússia na Síria.
Para maior tensão, o secretário de Estado e vice-ministro de Defesa russo, Nikolai Pankov propôs na Câmara Baixa do parlamento russo a reabertura das antigas bases navais soviéticas em Cuba e no Vietnã, noticiou “Clarin”.
“Estamos comprometidos nesse trabalho, estamos trabalhando neles”, disse ante a Duma, num gesto que só poderia provocar mal-estar em Washington.
A intenção foi anunciada quatro anos atrás restabelecendo a cooperação militar cubano-russa interrompida após a queda da URSS.
Mas as bases de Cuba e Vietnã são um primeiro passo. Em outubro de 2014, o ministro de Defesa da Rússia, Serguei Shoigu, anunciou que Moscou desenvolverá ativamente suas bases militares no exterior, especialmente no Quirguistão, Tadjiquistão e na Armênia.
Nessa carreira armamentista, o jornal Izvestia de Moscou, citando fontes anônimas do Ministério da Defesa, escreveu que a Rússia está formando uma unidade de bombardeiros pesados destinada a sobrevoar o Oceano Pacífico, no triângulo Havaí-Guam-Japão, onde há grande presença militar americana.
Segundo Izvestia a unidade contará com bombardeiros estratégicos lançadores de misseis TU-95MS e TU-22M3. As bases de operação desses perigosos aviões funcionariam em Belaia e em Ukrainka, na Sibéria oriental.
O gavião se mexe. Tem uma vítima em vista? Para quando?
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