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Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo

Entrevista do Cardeal Burke ao Register

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7 minhá 8 anos — Atualizado em: 9/1/2017, 8:47:44 PM


Autor: Edward Pentin
National Catholic Register

Tradução: FratresInUnum.com

Quatro cardeais fizeram ao Papa Francisco cinco dubia, ou “dúvidas”, quanto à exortação apostólica Amoris Laetitia (A Alegria do Amor), em uma tentativa de esclarecer ambiguidades e confusão em torno do texto. Em 14 de novembro, eles vieram a público com o seu pedido, após tomarem ciência de que o Santo Padre decidiu não responder às suas questões.

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Nesta entrevista exclusiva ao Register, o Cardeal Raymond Burke, patrono da Soberana Ordem Militar de Matal, explica detalhadamente os objetivos dos cardeais; por que a publicação de sua carta deve ser vista como um ato de caridade, unidade e preocupação pastoral, ao invés de uma ação política; e quais serão os próximos passos se o Santo Padre continuar se negando a responder.

Eminência, o que o senhores pretendem com essa iniciativa?

A iniciativa tem um único objetivo, a saber, o bem da Igreja, que, neste exato momento, passa por uma enorme confusão ao menos quanto a esses cinco pontos. Há, também, diversas outras questões, mas esses cinco pontos críticos estão relacionados com princípios morais irreformáveis. Então, nós, como cardeais, julgamos ser nossa responsabilidade pedir um esclarecimento a respeito dessas questões, com o objetivo de colocar fim à propagação da confusão que, de fato, está levando o povo ao erro.

O senhor tem ouvido muito essa preocupação com a confusão?

Em todo lugar por onde passo. Os padres estão divididos, os padres separados dos bispos, e os próprios bispos entre si. Há uma tremenda divisão que se estabeleceu na Igreja, e essa não é a maneira da Igreja. É por isso que chegamos a um acordo sobre essas questões morais fundamentais que nos une.

Por que o capítulo 8 de Amoris Laetitia é de especial preocupação?

Porque tem sido a fonte de todas essas discussões confusas. Mesmo diretrizes diocesanas estão confusas e em erro. Temos uma espécie de diretriz em uma diocese; por exemplo, afirmando que os padres são livres no confessionário, se julgarem necessário, para permitir a uma pessoa que vive em uma união adúltera, e permanece nessa condição, ter acesso aos sacramentos — enquanto em outra diocese, de acordo com o que sempre foi a prática da Igreja, o padre pode conceder tal permissão àqueles que fazem um firme propósito de emenda, para viver castamento dentro do matrimônio, isto é, como irmão e irmã, e para apenas receber os sacramentos em um local onde não haja risco de escândalo. Isso realmente tem que ser tratado. Mas, depois, há outras questões no dubia além desse ponto particiular dos divorciados recasados, que diz respeito ao termo “intrinsecamente mau”, com o estado de pecado e com a correta noção de consciência.

Sem o esclarecimento que estão buscando, os senhores estão dizendo, portanto, que um ou outro ensinamento em Amoris Laetitia vão contra o princípio da não-contradição (que afirma que algo não pode ser verdadeiro e falso ao mesmo tempo quanto se tratando do mesmo contexto)?

É claro, porque, por exemplo, se tomarmos a questão do matrimônio, a Igreja ensina que o matrimônio é indissolúvel, segundo a palavra de Cristo, “Aquele que se divorciar de sua mulher e se casar novamente comete adultério”. Portanto, se você é divorciado, não pode entrar em uma relação marital com outra pessoa ao menos que o vínculo indissolúvel ao qual está ligado seja declarado nulo, isto é, não existente. Porém, se você diz, bem, em certos casos, uma pessoa vivendo em uma união matrimonial irregular pode receber a Sagrada Comunhão, então, só pode restar uma das duas: ou o matrimônio realmente não é indissolúvel — como, por exemplo, na espécie de “teoria da iluminação” do Cardeal [Walter] Kasper, que sutenta que o matrimônio é um ideal ao qual não podemos, realisticamente, manter as pessoas. Nesse caso, perdemos o senso da graça do sacramento, que permite aos casados viverem a verdade de sua aliança matrimonial — ou a Sagrada Comunhão não é a comunhão com o Corpo e Sangue de Cristo. É claro, nenhuma das duas é possível. Elas contradizem o ensino constante da Igreja desde o início e, logo, não podem ser verdadeiras.

Alguns verão essa iniciativa pelas lentes da política e a criticarão como um movimento “conservadores vs. liberais”, algo que o senhor e os outros signatários rejeitam. Qual é a sua resposta a esse tipo de acusação?

Nossa resposta é simplesmente esta: não estamos tomando alguma espécie de posição dentro da Igreja, como uma decisão política, por exemplo. Os fariseus acusavam Jesus de tomar posição em um dos lados do debate entre os especialistas na lei judaica, mas Jesus absolutamente não fez isso. Ele apelou à ordem que Deus colocou na natureza desde o momento da criação. Ele afirmou que Moisés permitiu o divórcio por causa da dureza de coração, mas não era assim desde o início. Então, estamos apenas apresentando o que a Igreja sempre ensinou e praticou ao fazer essas cinco questões, que abordam o ensino e prática constantes da Igreja. As respostas a essas perguntas fornecem uma ferramente interpretativa essencial à Amoris Laetitia. Elas devem ser expostas publicamente, pois muitas pessoas dizem: “Estamos confusos, e não compreendemos porque os cardeais ou alguém com autoridade não falam e nos ajudam”.

É um dever pastoral?

É isso, e posso assegurar que conehço todos os cardeais envolvidos, e trata-se de algo que empreendemos com o maior sentido de nossa resposabilidade enquanto bispos e cardeais. Porém, empreemdemos também com o maior respeito pelo Múnus Petrino, porque se ele não defende esses princípios fundamentais da doutrina e disciplina, então, praticamente falando, a divisão entrou na Igreja, o que é contrário à sua própria natureza.

E também o Múnus Petrino, cujo propósito primeiro é a unidade?

Sim, como diz o Concílio Vaticano II, o Papa é o fundamento da unidade dos bispos e de todos os fiéis. Essa idéia, por exemplo, de que o Papa deva ser algum tipo de inovador, que está conduzindo uma revolução na Igreja ou algo do tipo, é completamente alheia ao Múnus Petrino. O Papa é um grande servo das verdades da Fé, como elas foram transmitidas de modo ininterrupto desde o tempo dos apóstolos.

É por isso que o senhor enfatiza que se trata de um ato de caridade e justiça?

Absolutamente. Temos essa responsabilidade perante o povo para quem somos bispos, e uma responsabilidade ainda maior como cardeais, que são os principais conselheiros do Papa. Para nós, permanecer em silêncio sobre essas dúvidas fundamentais, que surgiram como resultado do texto de Amoris Laetitia, seria, de nossa parte, uma grave falta de caridade para com o Papa e uma grande falta no cumprimento de nossos deveres de nosso próprio ofício na Igreja.

Alguns podem argumentar que os senhores são apenas 4 cardeais, dentre os quais o senhor é o único que não está aposentado, e que isso não é muito representativo em relação a toda a Igreja. Neste caso, poderiam perguntar: por que o Papa deveria ouvir e responder aos senhores?

Bem, a questão não são os números. A questão é a verdade. No julgamento de Santo Tomás More, alguém disse-lhe que a maioria dos bispos da Inglaterra aceitaram a ordem do rei, mas ele disse que isso poderia ser verdade, mas que os santos no céu não a aceitaram. Esse é o ponto. Creio que, mesmo que outros cardeais não tenham assinado, eles compartilham a mesma preocupação. Mas isso não me incomoda. Mesmo que fôssemos apenas um, dois ou três, se se trata de algo que é verdadeiro e é essencial à salvação das almas, então, deve ser abordada.

O que acontecerá se o Santo Padre não responder a seu ato de justiça e caridade e deixar de dar o esclarecimento quanto ao ensinamento da Igreja que os senhores esperam?

Então, teríamos que tratar dessa situação. Há, na Tradição da Igreja, a prática da correção ao Sumo Pontífice. Obviamente, é algo muito raro. Porém, se não houver resposta a essas questões, então, diria que seria o caso de realizar um ato formal de correção de um grave erro.

Em um conflito entre a autoridade eclesial e a Sagrada Tradição da Igreja, qual delas é vinculante ao fiel e quem tem autoridade para determinar a respeito?

O que é vinculante é a Tradição. A autoridade eclesial existe apenas a serviço da Tradição. Penso na passagem de São Paulo na carta aos Gálatas (1:8): “Mesmo se um anjo vos pregar qualquer Evangelho diferente do qual eu vos preguei, seja ele anátema”.

Se o Papa ensinar um grave erro ou uma heresia, qual autoridade legítima pode declará-lo e quais seriam as consequências? 

É dever, em tais casos, e historicamente já aconteceu, que cardeais e bispos deixem claro que o Papa está ensinando o erro e peçam a ele que o corrija.

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