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Plinio Corrêa de Oliveira
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Esqueçam Greta e ouçam os índios…


No livro Casa Grande e Senzala, Gilberto Freire expõe com precisão e acerto um dos elementos fundamentais da nacionalidade brasileira, quando na Batalha de Guararapes se uniram três etnias — branca, índia e negra — contra os hereges holandeses. Ele descendia de índios, mas não discorreu muito sobre a questão indígena, pois trabalhava com a hipótese de os silvícolas se inserirem paulatinamente na sociedade brasileira. Lembra, a propósito, que a filha do Cacique Arco Verde, saída do sertão, foi criada quase como uma princesa na mais alta aristocracia portuguesa.

Batalha de Guararapes – Victor Meirelles (1832–1903). Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro.

Gilberto Freire preconizava uma urbanização aquática para as nossasregiões quentes, como as que existem em cidades amazonenses, inclusive Manaus,onde muitas casas flutuam sobre as águas. Ao discorrer sobre o seu ideal dedesenvolvimento, ele queria que a hidrovia fosse o meio principal de escoamentodos produtos da região, nomeadamente os óleos essenciais para medicina,farmacopeia e cosméticos.

Posição equivalente, a propósito da mesma gama de atividades, é a dolivro Amazônia do mundo verde, sonho dahumanidade, em que Gilberto Mestrinho — ex-governador do Amazonas, umpolítico com visão de Estado — alerta para a cobiça internacional sobre aAmazônia. Qual a razão dessa cobiça? O seu grande potencial de riquezas, queabrange vários setores da economia. Nosso espaço não nos permite abordarassunto tão vasto, por isso nos limitamos ao aproveitamento das várzeas dosgrandes rios e lagos para o cultivo e a agropecuária.

Segundo Mestrinho, em decorrência do degelo nos Andes e das chuvastorrenciais, que caem na região num determinado período do ano, o Rio Amazonassobe 20 metros ou mais, alcançando em alguns pontos até 200 quilômetros delargura. Com a estiagem e o inverno dos Andes, os rios voltam à calhaprincipal, deixando ao longo de milhares de quilômetros das suas margens umalarga várzea que, num cálculo preliminar, ultrapassa 20 milhões de hectares. Alagam-senas cheias, e na estiagem refluem as águas dessas terras descampadas e semárvores, deixando-as altamente adubadas pelos sedimentos trazidos pelas águas;sobretudo o calcário, que os pecuaristas usam para terminar a engorda do gado.

Quando a água diminui, imensas barcaças/currais transportam para esseslocais centenas de garrotes, que ao cabo de seis meses já estão prontos para oabate. Quinze dias após baixarem as águas, nasce o capim nativo, o arrozselvagem (“arroz de marreca”), altamente nutritivo e saudável para o gado.

Mestrinho mostra o incremento significativo de nossa agriculturaintensiva e especializada, ao serem assim incorporados mais de 20 milhões dehectares durante seis meses do ano. Se não podem ser aproveitados nos 365 dias,em razão da inundação, seu benefício é fartamente compensado pelos nutrientesabundantes — um presente das águas, como acontece nas férteis margens do rio Nilo,no Egito.

Ao abordar esse assunto, não estamos imaginando a Amazônia habitadapelos muitos varões de Plutarco. Falamos de brasileiros como nós, dos quaisvale a pena saber o que dizem e pensam, especialmente sobre essas áreas quelhes pertencem, e que eles conhecem muito melhor que qualquer burocrata. Opróprio Mestrinho, aliás, descende de cearenses e índios tikuna, e seincorporou à sociedade amazonense.

Somos partidários da preservação da floresta, mas é bom contar aosjornalistas desinformados (ou informados, sim, mas mal intencionados) que basicamenteforam destinadas à produção as áreas de cerrado, cerradinho e cerradão, e apenasuma parte pequena da floresta úmida (rainforest). Gostaríamos que nos próximos anos as queimadas diminuam. Noentanto, se progredirem no ritmo deste ano, as florestas úmidas só serãoconsumidas dentro de uns 500 anos, segundo cálculos seguros.

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A mídia mundial tirou do nada a menina Greta Thunberg e a guindou ao topo da bajulação internacional

A máquina midiática revolucionária cria e destrói ídolos da noite para odia, de acordo com seus próprios interesses. Se prosseguir nesse rumo e nessesistema, certamente projetará ainda muitos desses mitos fabricados, enquantoomitirá quem de fato merece elogios. Quem consegue obter na mídia, por exemplo,informações abundantes e seguras sobre os produtores brasileiros? No entanto, essesheróis anônimos já alimentam um bilhão e meio de pessoas em todo o mundo.

Até mesmo governantes estrangeiros nos açoitam, alegando uma malfundamentada defesa do meio-ambiente. E as tubas de papel ou digitais preferemvergastar nossos produtores de alimentos, que vêm sustentando a humanidade. Comopoderão conciliar toda essa má vontade em relação a esses produtores, quando éprevisto para os próximos cinquenta anos o aumento da população mundial paranove bilhões de pessoas? De onde tirar alimentos para mais dois bilhões?

Um exemplo muito característico desses ídolos mitificados, criado para afinalidade específica de condenar o “aquecimento global”, é a menina Greta Thunberg.A mídia mundial tirou do nada uma “pirralha” e a guindou ao topo da bajulaçãointernacional, a ponto de transformá-la em “personagem do ano” da revista Time. Conseguiram que ela memorizasse algunschavões ambientalistas, para depois soltá-los a todos os ventos nos microfonesque essa mesma mídia lhe disponibiliza sem restrições nem limites. Depois demuito ensaio, parece que ela consegue interpretar bem o papel que lhe confiaram,a ponto de afrontar chefes de Estado, personalidades e cientistas. Não causasurpresa que até o Papa Francisco, autor de um documento de caráter ecologista,faça eco às palavras dela.

Os incêndios na Austrália devastaram uma área quase equivalente à de Portugal, matando dezenas de pessoas e mais de um milhão de animais típicos da região. Isso representa muito mais do que a área realmente desflorestada na nossa Amazônia em 2019.

Em se tratando de uma menor de idade, a exploração que se faz de Gretadeveria gerar protestos mundiais, além de um processo no alto-comissariado dosDireitos Humanos da ONU, por crime de uso indevido de menores. Mas protestos eprocessos, quando existem, geralmente têm os mesmos centros de autoria edivulgação…

Ao que tudo indica, o personaltrainer de Greta se esqueceu de avisá-la sobre os incêndios na Austrália.No entanto, eles já devastaram uma área quase equivalente à de Portugal,matando dezenas de pessoas e mais de um milhão de animais típicos da região.Isso representa muito mais do que a área realmente desflorestada na nossa Amazôniaem 2019.

Esqueceram-se de informá-la também de que em 2019 a indústria automobilísticado Brasil produziu apenas 2,8 milhões de veículos, enquanto a China fabricou 28milhões (dez vezes mais). Juntando esses dados com muitos outros, amplamenteconhecidos, a China ostenta o título de país mais poluído e mais poluidor doplaneta. Mas a China goza do privilégio de ser intocável…

Ambientalistas do mundo inteiro, acordem! Prestem atenção na realidade tal qual ela é, e deixem de sustentar mitos e mentiras.

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Fonte: Revista Catolicismo, Nº 830, Fevereiro/2020.

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Helio Brambilla

Helio Brambilla

38 artigos

Diretor de Paz no Campo e colaborador do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira. É autor de diversos artigos sobre a questão agrária, quilombola e propriedade privada no Brasil.

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