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Plinio Corrêa de Oliveira
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“Esta grande e misteriosa coisa que é a hereditariedade” (Pio XII) [1]


Diz um leitor: “Vocês falam muito contra o igualitarismo e até concordo em geral. Mas o que não aceito é a lei da herança. Alguém para ter o que tem, não fez outro esforço que nascer. Portanto, ele é estritamente igual a um elemento de uma classe lá em  baixo, que também não fez outro esforço que nascer. As diferenças são do ambiente em que se educaram. Mas ambos são absolutamente iguais e merecem o mesmo”.

Conclusão: as leis que garantem  a herança são injustas.

Façamos a prova das provas, dirá o alérgico às heranças. Tomemos dois gêmeos, iguais por definição em matéria de nascimento. Por uma razão qualquer, logo ao nascer eles foram separados, e criados em ambientes diferentes. Um num ambiente cultural alto, outro extremamente baixo. Qual o resultado? Um será bem dotado, o outro um nulo; um inteligente, o outro um coitado, se essa lei injusta continuar.

Se dois gêmeos foram separados logo ao nascer, e um educado em uma família de camponeses, e o outro em família de professores, é claro ‒ dirá o alérgico às heranças ‒ que a inteligência deste último será bem maior. Entretanto, ao nascer, seria igual à do outro gêmeo. As diferenças viriam da formação. Está provado! Portanto, igualdade neles!

Assim se pensava sobretudo nos séculos XIX e XX. A família não tem o menor papel; a herança está fora de época, e é melhor suprimi-la.

Mas foi justamente o estudo científico do procedimento dos gêmeos criados em separado que provou o contrário do que querem os avessos à hereditariedade. “Born together—Reared Apart”, um livro de Nancy L. Segal , [2] narra a mudança de concepção a respeito do tema. Segundo a autora, hoje não há mais  controvérsia. Todos os estudiosos aceitam a hereditariedade da inteligência. “Nos anos 70, sugerir que se poderia herdar o quociente de inteligência (QI), era uma heresia intelectual, que se podia castigar com algo equivalente a fogueira”, diz a autora, que fez vários anos de estudos sobre o tema.

Bem, dirá alguém, isto é quanto à inteligência, não quanto às outras qualidades e defeitos. Um filho nada fez senão nascer, e herda a riqueza do pai em sua morte. Não é uma injustiça? Não é melhor instaurar a igualdade para todos no ponto de partida, e suprimir a herança? Os que se esforçaram mais e melhor, subirão mais na vida. Pura justiça!

Para Dr. Plinio, não é tão simples assim. Seria uma injustiça, por depreciar a família.

Se um pai tem verdadeiramente entranhas de pai, ele amará por força, mais do que aos outros, o seu filho, carne de sua carne e sangue de seu sangue. Assim, ele andará segundo a lei cristã se não poupar esforços, sacrifícios nem vigílias, para acumular um patrimônio que ponha seu filho a coberto de tantas desgraças que a vida pode trazer. Neste afã, o pai terá produzido muito mais do que produziria se não tivesse filhos. Ao fim de um vida de trabalho, este homem expira, alegre por deixar o filho em condições propícias.

“Imaginemos que, no momento em que ele acaba de expirar, vem o Estado e, em nome da lei, confisca a herança, para impor o princípio da igualdade dos pontos de partida. Esta imposição não é uma fraude em relação ao morto? Ela não calca aos pés um dos valores mais sagrados da família, um valor sem o qual a família não é família, a vida não é vida, isto é, o amor paterno? Sim, o amor paterno que dispensa proteção e assistência ao filho — para além mesmo da idéia de mérito, simplesmente, sublimemente, pelo simples fato de ser filho. E este verdadeiro crime contra o amor paterno, que é a supressão da herança, poderá cometer-se em nome da Religião e da Justiça?”

Dr. Plínio deu a seu artigo sobre a hereditariedade e a herança um nome sugestivo: “A igualdade dos pontos de partida, esta injustiça”.[3] Cheio de bom senso!


[1] Alocução de Pio XII ao Patriciado e a Nobreza Romana, 1941, p. 364.

[2] Da Comissão Minnesota de Gêmeos Criados em Separado (MISTRA, segundo suas iniciais em inglês).

[3] “Folha de S. Paulo”,  11.12.68

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Leo Daniele

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