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Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo

Europa castigada por um mito revolucionário

Por Carlos Patricio del Campo

6 minhá 13 anos — Atualizado em: 9/1/2017, 9:31:42 PM


Embora dolorosa, a única solução para a atual crise econômica que assola o continente europeu é o abandono do euro. A insistência na moeda única não se justifica, a não ser por motivos político-ideológicos.

A forma como a Europa se apresenta hoje ao mundo assemelha-se a um espetáculo de desvairados que perderam a razão. Diante da crise que se avoluma, o que predomina no ambiente político europeu são a indecisão, a incerteza, a contradição e a carência de lógica, ecoadas por sua vez pelo geral da mídia com opiniões esparsas, incompletas e contraditórias, como se existisse um temor de apontar a realidade completa e escancaradamente.

O impasse

Protestos nas ruas de Atenas contra o plano de austeridade do governo grego

Aliás, é compreensível, pois está em jogo a própria sobrevivência do projeto de união europeia tão acalentado pelas cúpulas governamentais. Excogitou-se construir uma Europa unida, estruturada artificialmente segundo determinadas normas estabelecidas por uma cúpula, com a colaboração do parlamento e banco central europeus, sob a égide de um regime monetário de moeda única — o euro.

O fruto prometido dessa nova Europa seria um salto quanto ao progresso e ao bem-estar econômico-social das populações dos 27 países membros. E isto sem necessidade, em seus aspectos básicos, de tais países abrirem mão de suas estruturas de governo individuais. Esta preservação de independência política e econômica — ainda que dentro de certos limites — tornou o projeto apresentável diante da opinião publica.

Entretanto, o “calcanhar de Aquiles” está nessa independência do projeto. Em um regime de moeda única, qualquer desajuste fiscal ou monetário, ou a existência de algum tipo de rigidez nos preços e salários — frutos de pressões políticas internas, ou de uma gestão errada da autoridade econômica de um país-membro — afeta necessariamente e de forma direta sua economia real, ou seja, o nível de emprego e renda. E, dependendo do grau desse desajuste, o país “doente” pode contagiar o conjunto. Não existe a possibilidade de alteração da taxa de câmbio, que nessas situações poderia atuar como uma espécie de amortecedor, diminuindo as consequências negativas desses desajustes no emprego e na renda do país afetado, evitando assim o contágio.

Na realidade, para um conglomerado de nações, a vigência de uma moeda única e a independência decisória em matéria econômico-financeira de seus membros, de certa maneira, são termos contraditórios. Problema difícil de resolver quando a renúncia a essa independência em favor de um governo central parece ser uma utopia irrealizável; sobretudo em se tratando de países com larga tradição histórica, e marcados por diferenças culturais profundas e ricas e de costumes, com é o caso das nações europeias.

Esse é o verdadeiro impasse em que se encontra hoje a União Européia. Ou seja, como sair da crise mantendo a independência política e econômica de seus países-membros, especialmente em matérias fiscais e monetárias.

A realidade dos fatos

O primeiro país a entrar em crise foi a Grécia — em 2010, por incapacidade de pagamento de suas dividas. Neste momento, Portugal e Espanha estão na berlinda, isto é, na iminência de uma crise em suas balanças de pagamento. Algo similar levanta-se no horizonte com relação à Itália.

O denominador comum dessas situações é a falta de disciplina fiscal, ou seja, se gasta além do permitido, acumulando uma dívida que, por seu volume, ameaça tornar-se incobrável.

A primeira reação do mercado é suspender novos empréstimos e dificultar a renovação dos antigos, gerando assim uma explosão nos juros a serem pagos. E, no fim desse caminho, chega-se rapidamente à falência.

Para evitar essa situação extrema, as nações pressionadas se vêem obrigadas a gastar menos — “apertam o cinto” —, provocando desemprego e queda de renda. E, como conseqüência natural, o descontentamento se generaliza na população com danos sociais e políticos previsíveis.

Tal situação torna facilmente vulneráveis os bancos credores, gerando uma instabilidade em todo o sistema financeiro, especialmente o europeu. Para evitar o contágio, órgãos financeiros internacionais (Banco Central Europeu, FMI, etc.) correm em auxilio dos bancos credores comprando os títulos “podres” das nações em crise, os quais estão na posse desses bancos. Tenta-se assim salvá-los de uma eventual bancarrota, assumindo a dívida impagável. Ao mesmo tempo, as autoridades centrais pressionam os países em dificuldade a praticar uma disciplina fiscal que equilibre as despesas com as receitas. Visam a conseguir desse modo criar condições para que, num prazo mais ou menos longo, eles possam pagar os títulos que ficaram em mãos desses órgãos financeiros internacionais.

Quem assume o custo desta “correria”? O país ou países em crise e o conjunto todo — e dentro do conjunto, especialmente os países mais fortes e disciplinados. Em outros termos, o prejuízo é geral, com uma distribuição da carga segundo as situações particulares e as negociações políticas.

Em face dessa situação, é inteiramente razoável que a população dos países mais fortes e disciplinados se pergunte por que razão eles vão ter que assumir boa parte desse custo. Pior ainda, quem garante que, uma vez a situação resolvida, não haja reincidência. São perguntas válidas e difíceis de responder.

A saída

O leitor facilmente percebe que todo este custo político, social e econômico surge, em última análise, por causa da tentativa de sustentar o euro, a moeda única da União Europeia.

Pelo dito até aqui parece não ser difícil concluir que os países membros da União Europeia estão diante de uma alternativa: ou renunciar à direção de suas economias ou abandonar o euro. Renunciar à direção de suas economias significa, em grau não pequeno, renunciar à sua própria independência política. Ora, graças a Deus, tal caminho é totalmente inaceitável para a maioria dos europeus. Resta, portanto, a hipótese de abandonar a moeda única.

A saída não deixa de ser dolorosa. Mas, pelo menos, envereda-se na direção certa. Insistir em pseudo-soluções que não resolvem o problema de fundo não parece ser uma atitude sapiencial. Seria como alguém tomar aspirina para curar um câncer. O caminho do progresso da Europa não passa pelo euro ou por qualquer outra moeda única. Bastam um mercado aberto para produtos e recursos e uma política econômica individual correta com estabilidade monetária e fiscal. Nesse ambiente, a variedade de méritos e qualidades que caracterizam os povos europeus, fruto de antigas tradições que ainda sobrevivem, reluziriam com esplendor maior, para encanto e proveito do mundo.

Nesta situação, os países “indisciplinados” seriam “castigados” pelo mercado. Mas, de modo geral, as saídas seriam mais suaves e sem perigo de um grave contágio. Insistir na moeda única não tem fundamento econômico de importância relevante. Na realidade, e principalmente, só se justifica em virtude de metas político-ideológicas.

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