Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
5 min — há 9 anos — Atualizado em: 9/1/2017, 8:48:33 PM
Lançado pela primeira vez em janeiro de 2001, em Porto Alegre, o Fórum Social Mundial (FSM) pretendia ser um contraponto ao Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça. A propaganda foi enorme, pois na prática era a tentativa de construir uma nova internacional comunista, sob o título de “Internacional Rebelde”.
Com altos apoios nacionais, internacionais e eclesiásticos, o FSM proclamava a “diversidade” como sendo a característica fundamental de sua constituição, ou seja, todos os grupos de esquerda eram bem-vindos, quaisquer que fossem suas convicções particulares ou seus métodos de ação, desde que unidos contra o capitalismo e a propriedade privada. Figuras então “no vento” como Noam Chomsky e Toni Negri eram badaladas como os novos profetas.
Procurou-se dar a impressão de que se tratava de um movimento arrasador, que nada deteria, pois passaria imediatamente à prática e mudaria as instituições. Tudo isso e muito mais foi então denunciado por um opúsculo altamente esclarecedor, publicado em 2002, sob o título A pretexto do combate à globalização – Renasce a luta de classes, sobre o qual a conceituada revista Catolicismo publicou ampla reportagem de capa.(1)
A segunda edição do FSM, em 2002, ainda alcançou grande repercussão. A partir daí, a falta de apoio popular a suas iniciativas começou a pesar sobre ele como um manto de morte. Veio definhando, excursionou sem sucesso por várias partes do Planeta, e assim chegou à realização de sua 15ª edição, novamente em Porto Alegre, de 19 a 23 de janeiro de 2016, reduzido agora a mero apêndice do PT e do governo Dilma.
Segundo um editorial de “O Estado de S. Paulo” (21-1-2016), o FSM “consolida-se como um evento oficial, com farto patrocínio estatal, participação direta do governo petista e agenda ditada pelas conveniências políticas e ideológicas do Planalto”.
A Petrobrás, que está dispensando milhares de funcionários terceirizados e cortando gerências por falta de verba, contribuiu com R$ 800 mil para a realização do Fórum. A Itaipu Binacional, com R$ 180 mil.
“Os organizadores do encontro anunciam com orgulho que sete ministros de Dilma estarão presentes, deixando ainda mais claro o caráter chapa-branca do convescote”, no qual falará o presidente do PT sobre “tempos de golpismo”.
Na passeata de abertura, “críticas ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff e ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha, foram os principais temas levantados pelos manifestantes” (“Folha de S. Paulo”, 19-1-16).
Consultando o site do Fórum Social,(2) encontramos a lista de temas tratados. Bem analisados, fica claro que, junto à apologia das rotas batidas da esquerda, há uma forte dose de desânimo. Vejam estes títulos de palestras ou reuniões:
1 — “Não é fácil, não está sendo fácil e não será fácil”, diz ministra de Direitos Humanos, cobrada por políticas de governo durante Fórum Social;
2 — Povos indígenas divulgam carta denunciando violações e retrocesso após encontros no Fórum Social;
3 — Assembleia dos movimentos sociais propõe luta global contra retrocessos civilizatórios do capitalismo;
4 — Economia Solidária busca avanços no Brasil;
5 — Em mesa do FST [Fórum Social Temático], líderes da esquerda pedem “mais força, mais luta” contra impeachment;
6 — Nota de Repúdio — Palestinos impedidos de viajar ao Brasil — barrados pelo violento fechamento da cidade de Hebron, na Cisjordânia;
7 — Atividade no Fórum Social mostra que precisamos falar da reforma psiquiátrica e de transtornos mentais.
O site da Universidade Unisinos, dos jesuítas do Rio Grande do Sul, publicou em 20 de janeiro, logo no início do Fórum, artigo de Jacques Távora Alfonsin,(3) intitulado “O novo Fórum Social Mundial precisa de coragem”. Nele, o insuspeito articulista deixa claro que “o Fórum social perdeu grande parte da sua motivação e do entusiasmo com que foi inaugurado há 15 anos atrás”[sic]. Para Alfonsin, “essa melancolia resultante desse permanente combate, por vezes frustrante, vem minando a força dessa militância, aliás já envelhecida em grande parte”.
O mesmo site, após o encerramento do Fórum, reproduz, em 27 de janeiro, uma reportagem assinada por Bia Barbosa, da revista “Carta Capital”, segundo a qual, “já há quatro anos as organizações que integram o Conselho Internacional do FSM constataram que o espaço vinha perdendo relevância e a capacidade de pautar agendas e articulações de impacto global. […] Visões divergentes no seio do Fórum e as mudanças na conjuntura global têm, entretanto, dificultado a capacidade de produção de uma resposta à altura dos atuais desafios”.
Prossegue a reportagem: “Para Oded Grajew, outro ativista dos primórdios deste processo, hoje na ‘Rede Nossa São Paulo’, o FSM está em crise, assim como as associações que dele participam”.
Também Nalu Faria, da Marcha Mundial das Mulheres, relaciona as dificuldades do FSM com as derrotas dos governos bolivarianos na América Latina: “Não podemos desvincular nossas questões dos impasses, conflitos e limites que esses governos tiveram, e que agora estão implicando nas derrotas que estamos tendo na região.”
* * *
Como vemos por todo o relatado, o Fórum Social Mundial, que começou 15 anos atrás cantando de galo, encontra-se agora atingido por todo tipo de problemas e dificuldades, a maior das quais, de longe, é a falta de respaldo popular para suas doidas utopias.
Cegados por sua adesão a uma ideologia de esquerda, que imaginavam redentora, seus dirigentes e propulsores esqueceram-se de que existe algo chamado realidade, a qual costuma vingar-se dos que impunemente a transgridem. Eis agora o FSM na UTI das ideologias, de onde já saíram para o necrotério o sovietismo e tantas outras tentativas frustradas da esquerda mundial.
Mas não pense o leitor que com isso aprenderam algo. Nada indica que vão mudar. Realizam o que nos ensina o Apóstolo São Paulo: “Extraviaram-se em seus vãos pensamentos, e se lhes obscureceu o coração insensato. Pretendendo-se sábios, tornaram-se estultos” (Rom. 1,21-22).
Notas:
Gregorio Vivanco Lopes
173 artigosAdvogado, formado na Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Autor dos livros "Pastoral da Terra e MST incendeiam o Brasil" e, em colaboração, "A Pretexto do Combate Á Globalização Renasce a Luta de Classes".
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