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Plinio Corrêa de Oliveira
IPCO em Ação

História que a história não conta


Na época em que eu cursava o ginasial, teria dificuldade em dar uma resposta válida se alguém me pedisse um fato importante da Idade Média, ou então o nome de um grande personagem do período. Quem estudou nessa época, ou mesmo depois, sabe que os livros e professores passam como gato sobre brasas quando tratam da Idade Média, mas se estendem exaustivamente sobre Nabucodonosor, guerras púnicas e outras peças arqueológicas do passado longínquo. Por que essa diferença? Seria esse Nabucodonosor mais importante para a História do que São Luís IX [Gravura acima]? As Cruzadas foram menos decisivas que as investidas e derrotas de Aníbal? Os beneditinos foram apenas um bando de monges desocupados, vegetando em mosteiros para rezar?

Se o leitor quer para isso respostas consistentes, não deve usar fita métrica, balança, calculadora, pois a diferença entre as duas situações não se mede por números. Melhor avaliação se faz comparando dois tipos de noite. Quando falamos em noite dos tempos, queremos dizer apenas uma época antiga, sem emitir apreciação sobre a qualidade ou as condições de vida que ela ofereceu. Já no caso da noite de mil anos está implícito, mas bem claro, um julgamento, uma opinião nitidamente desfavorável. Por que a denominação é desfavorável num caso, e não no outro?

A resposta não me foi ensinada no curso ginasial, no entanto é evidente ao examinar sem prevenção dois períodos. O mais antigo tem as iniciais a.C., e as iniciais do outro são d.C. Em ambos os casos, a letra C abrevia o nome de um personagem muito importante, a ponto de ser Ele o divisor da História em dois períodos: antes e depois de Cristo. Quem avalia negativamente o segundo período, evidentemente atribui esse mau conceito ao personagem que não existia antes. Foi essa mentalidade preconceituosa que levou alguns a inventar o calunioso noite de mil anos.

Espero que tenha ficado claro a diferença. Na História que nos ensinaram, o ruim foi ter aparecido Ele. Acredito que a maioria dos professores de História não tenha isso muito claro, apenas repetem o que leram nos livros didáticos. Não posso dizer o mesmo sobre os autores desses livros. Inserindo essa visão preconceituosa nos livros didáticos, conduzem os estudantes e professores a aceitá-la como verdadeira, daí podermos tomar tais autores como prováveis participantes da conspiração.

(Conspiração?! De quem? Contra quem? Para quê?)

Ora, caro leitor, imagino que você conheça a matança dos inocentes, decretada por Herodes logo depois do nascimento de Cristo. Herodes foi o primeiro inimigo declarado na vida do Salvador, e ao longo do Evangelho se apresentam muitos outros. Será que depois do Calvário não houve mais inimigos de Cristo? O que significaram então as legiões de mártires, entre os quais todos os Apóstolos? Todos, porque São João também foi martirizado numa caldeira com óleo fervente, embora tenha saído dela inteiramente ileso, por proteção divina, e depois condenado a trabalhos na ilha grega de Patmos. À medida que aumentava o número dos seguidores de Cristo, aumentava também o dos seus perseguidores. Não é de estranhar, portanto, o ódio dos inimigos de Cristo à Idade Média, período histórico em que mais se destacou a ação da Igreja Católica. Eles consideram noite o que na realidade foi a doce primavera da fé, assim enaltecida pelo Papa Leão XIII:

“Tempo houve em que a filosofia do Evangelho governava os Estados. Nessa época, a influência da sabedoria cristã e a sua virtude divina penetravam as leis, as instituições, os costumes dos povos, todas as categorias e todas as relações da sociedade civil. Então a Religião instituída por Jesus Cristo, solidamente estabelecida no grau de dignidade que lhe é devido, em toda parte era florescente, graças ao favor dos Príncipes e à proteção legítima dos Magistrados. Então o Sacerdócio e o Império estavam ligados entre si por uma feliz concórdia e pela permuta amistosa de bons ofícios. Organizada assim, a sociedade civil deu frutos superiores a toda expectativa, cuja memória subsiste e subsistirá, consignada como está em inúmeros documentos que artifício algum dos adversários poderá corromper ou obscurecer”.

A referência de Leão XIII aos artifícios dos adversários abrange a propaganda pertinaz, em curso há vários séculos, para denegrir toda a atuação da Igreja ao longo da História. Não por acaso foi elaborado e se difundiu tanto o rótulo noite de mil anos, só concebível na mente anticristã e caluniadora desses adversários. Conspiração contra a Igreja, sim, que vem desde os seus primórdios, e não cessará antes do final triunfo de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Quando lhe falarem em noite de mil anos, lembre-se do elogio de Leão XIII à Idade Média, e não deixe seus interlocutores sem esclarecimento. Vale também alertá-los para as mentiras desta “era das luzes”, profundamente anticatólica, que herdamos do Renascimento e da Revolução Francesa. É útil e esclarecedor contar a História verdadeira, que a história didática não conta.

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Jacinto Flecha

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Jacinto Flecha, médico, cronista e colaborador da Agência Boa Imprensa.

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