Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
8 min — há 9 anos — Atualizado em: 9/1/2017, 8:49:37 PM
Passados poucos dias da publicação da muito aguardada encíclica sobre o meio ambiente Laudato Si do Papa Francisco I, a expectativa vem deixando o lugar ao desinteresse, à decepção e, com inusitada força, à crítica pela imersão em matérias que não corresponde à Igreja se pronunciar.
Sem dúvida, os assessores do Papa Francisco se esforçaram para manipular realidades materiais, científicas e econômicas para encaixa-las num cenário passível de um juízo moral ou religioso.
Porém, o recurso foi mal sucedido e a Laudato Si parece ser ter virado contra a intenção original. O resultado tem sido uma crítica nutrida por parte de fontes católicas que desaprovam a distorcida intromissão na seara científica e econômica.
Do lado do ambientalismo radical e da Teologia da Libertação não faltaram carregados elogios ideológicos que duraram poucos dias.
Do lado católico, especialmente daqueles profundamente interessados pelo bem dos homens e especialmente dos pobres, vieram notáveis contravapores.
Fazemos votos para que elas ajudem a corrigir o tom verde-vermelho que assumiu a malograda redação final da Laudato Si.
Nessa perspectiva reproduzimos a continuação uma dessas críticas formulada pelo jornalista Miguel Angel Belloso, diretor da revista Actualidad Económica de Madri, vice-presidente do Observatório do Banco Central Europeu, membro da Fundação de Estudos Financeiros e do Conselho Econômico e Social da Comunidade de Madri.
Miguel Angel Belloso
Sempre considerei a fé como um motor de esperança e de alegria. Professei também uma grande admiração pelos papas João Paulo II e Bento XVI.
Nenhum deles deixou de assinalar os grandes desafios que a humanidade enfrenta, mas ambos mostraram uma grande confiança no indivíduo e contemplavam o mundo com o otimismo próprio do crente.
Em muito pouco tempo, o Papa Francisco impulsionou uma revolução na Igreja.
A sua nova encíclica, Laudato Si, a sua carta pastoral “Evangelii gaudium”, assim como as suas frequentes intervenções nos foros públicos refletem um pessimismo ontológico perturbador.
Segundo Francisco, o mundo está a desmoronar-se à nossa volta sem que façamos qualquer coisa para o evitar. Os pobres são cada vez mais pobres. As desigualdades são maiores do que nunca e os bens necessários para sustentar a vida humana são cada vez mais inacessíveis.
Mas estas ideias, lançadas sem o acompanhamento de um único dado, como se fossem um dogma de fé, não resistem à mais pequena análise empírica e estão completamente erradas.
Se já é duvidoso do ponto de vista científico que estejamos em presença de uma mudança climática originada pelo homem, e não por circunstâncias relacionadas com a natureza do planeta, é falso que o crescimento econômico aumente a degradação do meio ambiente.
Num editorial publicado no Catholic Herald Philip Booth escreve:
“Como é habitual, as análises de Francisco sobre o estado econômico do mundo são tremendamente pessimistas.
“É correto dizer-se que a poluição origina mortes prematuras e muitos argumentam que as mudanças climáticas estão por trás dos efeitos nocivos.
“Mas, por outro lado, o cenário subjacente é um incremento colossal da esperança de vida e da saúde como consequência do desenvolvimento econômico. E em muitas zonas do mundo, o ambiente está a melhorar espetacularmente.”
Assim é: se se quiser abordar com honestidade o problema, este não reside nos países ricos mas naqueles onde não funciona a economia de mercado ou não existe liberdade nem democracia.
A China, por exemplo, é dos mais contaminantes.
Durante a maior parte do século XX, os Estados comunistas foram os que tiveram mais poluição e um ambiente mais degradado, enquanto os capitalistas limpavam a atmosfera de elementos tóxicos.
Há solução para os problemas do meio ambiente mas esta não se encontra na ecologia, que com o pretexto de tornar-nos a vida mais agradável apoia o intervencionismo político e quer travar o progresso técnico e o desenvolvimento econômico.
A solução depende de que cada vez maiores partes do mundo se incorporem no mercado e se orientem para ele.
Um estudo recente do Banco Mundial indica que o número de pessoas que vivem com menos de 1,25 dólares por dia – o limiar da pobreza – diminuiu em mais de 30% desde 1981, e um relatório da Universidade de Oxford, que corrobora outro similar da ONU – pouco suspeita de ser capitalista –, confirma esta descida dramática e augura que a pobreza será completamente erradicada nos países em desenvolvimento nos próximos 20 anos se os progressos se mantiverem ao ritmo atual.
A Associação Americana para o Avanço da Ciência também assinala que a esperança de vida aumentou sustentadamente desde há 200 anos, devido à diminuição das doenças cardiovasculares nos países ricos e à menor mortalidade infantil nos pobres.
Se fizermos comparações estatísticas entre os países mais orientados para o mercado e os menos, comprovaremos que são os primeiros os que providenciam melhores condições aos desfavorecidos.
O que melhora os níveis de vida é a industrialização e o livre comércio e não as economias dirigidas ou autossuficientes.
E são também aqueles que impulsionam as migrações das zonas rurais para as cidades, que não são os lugares sujos e desagradáveis que Charles Dickens descrevia, mas antes uma oportunidade para ganhar um salário mais alto e viver confortavelmente.
Nos países emergentes, mil milhões de pessoas entrarão na incipiente classe média nas próximas duas décadas, de modo que a desigualdade global também está a diminuir.
Apesar de os meios de comunicação sugerirem o contrário, o número de conflitos civis e de guerras está no ponto mais baixo da história, segundo a ONU.
Estes são os dados, mas é como se a verdade fosse uma inconveniência para Francisco e para o conjunto da esquerda.
Francisco é um Papa decididamente político, um socialista convencido de que se a humanidade exibe resultados tão desastrosos é porque os seus dirigentes renunciaram ao seu papel executivo, que bem orientado daria lugar a um mundo melhor do que o governado pela força espontânea dos indivíduos atuando livremente no mercado.
Muitas das opiniões da sua última encíclica são inaceitáveis, inapropriadas ou infundadas.
Engana-se quando diz que a salvação dos bancos foi feita à custa da população, pois a falência foi evitada para garantir as poupanças dos mais necessitados.
A imaginária submissão da política aos poderes financeiros, às multinacionais ou à tecnocracia destila um aroma a um esquerdismo antiquado que não resiste a um único assalto: mesmo nos países mais livres e democráticos, o peso do Estado e a intervenção dos políticos na vida econômica são tão perniciosos como dispensáveis.
Francisco chega a ser ofensivo ao assegurar que a propriedade privada não pode estar acima do bem comum, quando é precisamente ela que o origina.
Só o que se considera próprio estimula o cuidado e a atenção das pessoas para o preservar e enriquecer, quer seja uma quinta ou uma reserva de elefantes, enquanto o público, como mostra a experiência, é habitualmente pasto da negligência e do saque dos que, não se sentindo envolvidos, o maltratam e exploram por o considerarem alheio.
Nesta desastrosa encíclica, Francisco segue a narrativa segundo a qual o chamado neoliberalismo despojou o mundo das suas naturais abundância e bondade.
A partir desta concepção nostálgica e pessimista incita os governos à ação para reverter as perdas materiais das últimas décadas.
Mas nem estas foram tão grandes nem a ação do governo é o meio mais conveniente para procurar o bem comum.
Os católicos tiveram muito azar com este Papa.
Converteu-se num poderoso aliado das teses errôneas da esquerda que nunca proporcionaram o bem-estar geral e sustenta umas posições infelizes que casam muito mal com o seu papel de líder religioso mundial.
P.S.: no dia 8 de julho (2015) o presidente da Bolívia Evo Morales presenteou o Papa Francisco com um crucifixo entalhado sobre o símbolo anticristão da foice e o martelo, informou a imprensa internacional.
O símbolo comunista presidiu perseguições que fizeram centenas de milhares de mártires no mundo, e mais de cem milhões de assassinatos no século XX, conforme dados do Livro Negro do Comunismo. Ver também: O maior crime da História.
Segundo Morales, conhecido por seu posicionamento anticapitalista, o Pe. Luis Espinal S.J., pregador da Teologia da Libertação engajado nas lutas subversivas dos anos 70 e 80 levava um crucifixo semelhante quando foi morto num escuro episódio.
O gesto inicial do Pontífice foi substituído por sorrisos, e Francisco levou consigo o presente.
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