Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
5 min — há 14 anos — Atualizado em: 1/15/2016, 3:34:46 PM
Luis Dufaur
51% dos eleitores venezuelanos (5.779.129 ao total) votaram pela oposição (Mesa de la Unidad Democrática e Patria Para Todos) contra o partido do proto-ditador Hugo Chávez nas eleições parlamentares neste domingo 26 de setembro.
Os candidatos chavistas somaram 5.259.998 votos, ou seja 46,4%. 3% dos sufrágios. 339.952) optaram por partidos minoritários. Os números quase definitivos são do “El Universal”, maior quotidiano de Caracas.
Porém, a oposição tirou só 67 deputados (40% da Assembléia Nacional) e os amigos do proto-ditador 98.
Uma reforma do mapa eleitoral calculada a dedo para favorecer a facção socialista criou um jogo de distorções astuciosas.
Os Estados da federação venezuelana que reúnem a maioria dos eleitores ‒ Zulia, Miranda, Carabobo, Lara, Aragua e o Distrito Capital (Caracas), isto é, 9.319.360 eleitores, ou 52% do eleitorado ‒ e onde oposição é habitualmente majoritária, só escolhem 64 deputados, ou seja 39% da Assembléia Nacional.
Os Estados com maior influência chavista escolhem 101 deputados (61% do Legislativo), embora só contem com 8.400.505 eleitores (48% do eleitorado).
Os exemplos fornecidos pela imprensa caraquenha são numerosos. Este foi um dos elementos decisivos do resultado “democrático e popular” do domingo no qual o perdedor saiu ‘vencedor’.
Porém, a confusão não acaba aí.
O mistério das urnas eletrônicas
O sistema de urnas eletrônicas venezuelano gaba-se de ser o mais moderno do mundo. Diversas vozes falam que seria
brasileiro.
Ele devia fornecer os resultados finais (ou quase finais) duas horas após o encerramento do pleito eleitoral.
Porém, os resultados só vieram aparecer às 6:00 da madrugada do dia seguinte.
Só os mistérios do software poderiam explicar o que se passou nesse meio tempo, cfr “El Nacional”.
Melancólica comemoração do espalhafatoso líder
Por sua vez, parece que o presidente Chávez não acha positivo o momento atual, malgrado o malabarismo dos números.
Ele cancelou seu costumeiro comparecimento na sacada do Palácio Miraflores para saudar seus apoiadores, aliás desanimados e em esquálido número.
Chávez contentou-se com twittear à distância os seus seguidores com uma mensagem resignada que não dispensa as habituais bravatas: “Bem meus queridos compatriotas, foi uma grande jornada e obtivemos uma sólida vitória. Suficiente para continuar aprofundando o Socialismo Bolivariano e Democrático. Devemos continuar fortalecendo a Revolução!!”, noticiou “El Nacional”.
O governo parecia prever a vitória da matreiricee, também, a derrota do ponto de vista da opinião pública.
Para María Corina Machado, deputada oposicionista do Estado de Miranda os “eleitores venezuelanos recusaram o comunismo à cubana”, disse “El Nacional”.
Na segunda-feira, Chávez passou da depressão à crise de insegurança fustigando a “mentira e manipulação” dos que acham que o resultado foi um triunfo opositor.
Esquema paralelo para se perpetuar no poder
Nesta perspectiva cinzenta para a “revolução bolivariana” reforçada por más notícias para a revolução socialista que
chegavam de outros países latino-americanos, Chávez montou um esquema de poder que foge de toda e qualquer lei ou da Constituição que ele próprio criou e reformou.
Enquanto instalava um grupo de mulheres bem no gosto de Muhanmad Kaddafi, chamado “Guardiãs de Chávez” para velarem pelo avanço da “revolução” socialista (OESP, 17/09/2010) e pregava desinibidamente pela vitória da candidata do PT, Dilma Rousseff, no primeiro turno (FSP, 17/09/2010), instituiu uma rede de “comunas”, estruturas paralelas que dependerão exclusivamente dele para se perpetuar no poder (FSP, 18/09/2010).
As comunas serão unidades político-territoriais que poderão abarcar áreas de mais de um Estado ou município. Terão porta-vozes, corpo legislativo, legislação própria e até moeda. Isto é, constituirão um Estado paralelo.
A oposição vê na manobra o projeto de “selar o caminho ao comunismo”. A “lei das comunas” vem junto com uma lei de “economia comunal” socialista que inclui a meta marxista de extinguir “a divisão do trabalho”. As empresas de “propriedade comunal” não pagarão impostos e terão preferência em licitações. “Será a morte lenta das empresas de mercado”, diz a oposição.
Este engendro jurídico, se não naufragar entre os oceanos de papel e de burocracia ditatorial gerados pelo coronel golpista, ameaça extinguir os espaços de legalidade que ainda restam na Venezuela.
Amorim e Kirchner vêem democracia beneficiada
Durante a campanha eleitoral, Chávez muito “democraticamente” insultou aos “burgueses de pacotilha” e mostrou-se obsedado pelo fantasma de um “golpe de Estado tipo Honduras”.
Segundo “La Voz del Sandinismo” Chávez prometeu que esta eleição seria a primeira fase da “Campanha Admirável” iniciada com o slogan “Oligarcas Tremei”.
Porém, para o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, o resultado da Venezuela é “bom para a democracia na nossa região”.
Também Cristina Kirchner, engajada em silenciar a imprensa oposicionista argentina, apressou-se a comemorar a vitória trapaceira de seu colega venezuelano.
Amorim falou à imprensa em Nova York, onde participa da 65ª Assembléia Geral da ONU, após ter acorrido a Cuba para prometer investimentos brasileiros além do U$ 1 bilhão já engajado em obras de infraestrutura.
Para a economia cubana reduzida a cinzas cadavéricas, e para a venezuelana que regride espantosamente, a possibilidade de ditadores se sustentarem no poder depende cada vez mais do apoio generoso do petismo.
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