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Plinio Corrêa de Oliveira
IPCO em Ação

Não se pode enganar todo o mundo durante todo o tempo


No dia 13 de dezembro último, a Sociedad Colombiana Tradición y Acción publicou no jornal “El Tiempo” (de Bogotá) um impactante comunicado sobre as “negociações de paz” que o governo colombiano realiza em Cuba com a guerrilla marxista das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).

Ocupando uma página inteira, o documento analisa aspectos fundamentais das negociações e questiona, de um lado a imposição de uma Reforma Agrária socialista e confiscatória nas denominadas “Zonas de Reserva Campesina”, a serem criadas por exigência do grupo guerrilheiro em 150 regiões do país, e de outro lado o papel das guerrillas no narcotráfico e nos sequestros.

Assinar um “acordo de paz” nessas condições é um grande equívoco do Estado, que a sociedade não pode aceitar, pois dessa forma jamais se obterá uma autêntica paz para a Colômbia.

Fac-simile do manifesto publicado pela Sociedad Colombiana Tradición y Acción no jornal “El Tiempo” de Bogotá
Fac-simile do manifesto publicado pela Sociedad Colombiana Tradición y Acción no jornal “El Tiempo” de Bogotá

As negociações claudicantes do governo colombiano com as Farc:

Quando começou o chamado “Processo de Paz”com as Farc, em setembro do ano passado, a opinião pública colombiana não foi unânime em relação ao desenvolvimento das negociações. A maioria concedeu credibilidade às boas intenções das Farc e um setor minoritário manteve uma atitude de desconfiança e perplexidade, pois não acreditava na honestidade dos grupos terroristas.

No momento oportuno, a Sociedad Colombiana Tradición y Acción se dirigiu ao País, em documento publicado no jornal “El Tiempo” (21 de outubro de 2012), afirmando que essas negociações estavam condenadas ao fracasso. Sempre dissemos que através das claudicações do Estado ante as exigências dos terroristas jamais se alcançará a verdadeira paz para a nossa Pátria.

Pouco mais de um ano depois de iniciada essa farsa, a opinião colombiana é clara e contudente, modificando radicalmente sua percepção sobre o avanço das negociações. A imensa maioria está abrindo os olhos diante do engano e do cinismo das Farc, que estão submetendo o País a uma extorsão inaceitável, e tão-só uma minoria, da qual fazem parte os áulicos do governo, ainda aceita que o futuro do País possa ser desenhado de comum acordo com os que o destruíram durante 50 anos.

O povo colombiano não pode aceitar que um punhado de terroristas, que ele rechaça e despreza pela enormidade de seus crimes, queira desenhar a seu bel-prazer o País no qual estamos vivendo 45 milhões de compatriotas. Ao longo de três décadas de diálogos fracassados, os guerrilheiros demonstraram à saciedade que são especialistas em mentir, enganar e manter farsas internacionais com o objetivo de se fortalecer e continuar uma guerra insensata que não tem cabimento nos tempos atuais.

Por que mudou a percepção do povo colombiano sobre o processo de paz? Pela simples razão de que ninguém pode enganar todo o mundo durante todo o tempo.

Uma verdade tão simples explica a indignação crescente em todos os setores de opinião, porque a realidade evidente que todos veem, mas que o governo não quer ver, é que as Farc estão caçoando uma vez mais do País e do mundo. Prova disso são os recentes ataques ao Exército, à Polícia e à população civil nas rodovias do Departamento [Estado] de Antioquia, e em Inzá, no Cauca, arrasada demencialmente com bombas.

Inexplicavelmente, vemos um Estado vitorioso na luta contra a guerrilha que atua como se tivesse sido derrotado, e uma guerrilha derrotada que atua como se fosse vitoriosa. E cumpre lembrar que a verdadeira paz jamais se obterá mediante a claudicação do Estado diante das exigências arrogantes dos terroristas.

A guerrilha marxista das Farc é a única e verdadeira inimiga da paz, acusação que injustamente se faz àqueles que manifestam sua perplexidade em relação ao chamado “processo de paz”. Mas vejamos de modo muito resumido as dimensões dos temas fundamentais que estão sendo negociados:

1 — Reforma Agrária e Zonas de Reserva Camponesa: A guerrilha marxista sempre desejou a expropriação das terras mais adequadas à agricultura e à pecuária. Além de impor uma Reforma Agrária socialista e confiscatória, que é a maior fonte de pobreza do campo, serão criadas 150 Zonas de Reserva Camponesa, que não se sabe bem o que são, mas que se parecem com 150pequenos “caguãs” [NdR: referência ao imenso território cedido pelo governo do ex-presidente Pastrana aos guerrilheiros em San Vicente del Caguán, no qual o Exército estava proibído de entrar] disseminados por toda a Colômbia.

2 — Os vínculos das Farc com o narcotráfico: É muito pouco o que a guerrilha disse sobre seus vínculos estreitos com o narcotráfico. As Farc se converteram em um dos mais poderosos cartéis de droga existentes no mundo, ao absorver todos os antigos cartéis que desapareceram. As somas gigantescas de dinheiro produzido por essa atividade criminosa constituem a principal fonte de financiamento dos grupos subversivos, sem que ninguém se atreva a denunciar onde esse dinheiro é escondido, quem o maneja e quais são seus principais beneficiados. Falou-se disso nas conversações de paz? As Farc continuarão com o negócio do narcotráfico? A Colômbia e o mundo exigem uma explicação sobre esses vínculos, que são evidentes.

3 — A guerrilha não entrega as armas: Já foi anunciado pelas Farc, com toda a arrogância que as caracteriza, que a foto da entrega das armas jamais se concretizará. A guerrilha afirmou que nunca as entregará como garantia dos acordos pactados.

Não entregam os sequestrados, pois dizem não tê-los: Primeiro disseram que não tinham sequestrados, afirmação que o governo aceitou como verdadeira no começo das negociações. Entretanto, ambas as partes, governo e terroristas, fazem malabarismos para ocultar que as Farc continuamente sequestram algum cidadão, submetendo-o à infâmia de pagar pelo seu resgate.

5 — Acesso dos terroristas a cargos eletivos: Os representantes dos grupos terroristas chegarão ao Congresso da República, às Assembleias Legislativas e às Câmaras Municipais em número ainda não determinado, por concessão do Estado e não pelos votos que consigam em eleições livres. Esta é a democracia que nos querem impor à força?

*   *   *

Haveria muitos outros aspectos absurdos e inaceitáveis nessas negociações, que mais parecem claudicações e que não podem ser aceitos pela opinião pública colombiana. Só para enumerar alguns deles, sem entrar em análise mais detalhada, figura o tema da redução do tamanho do Exército e da Polícia Nacional, além da exigência da guerrilha de abolir os tratados comerciais firmados recentemente com várias nações; e, evidentemente, o indulto e o perdão para todos os crimes cometidos por ela ao longo de 50 anos de terrorismo.

Diante de todos esses aspectos das negociações, é muito importante considerar que todas elas estão sendo feitas de forma secreta, ocultando-as da opinião pública e na contramão do que desejamos os 45 milhões de colombianos. Não queremos que um governo que foi eleito para continuar as boas obras do governo anterior queira nos entregar agora nas garras dos inimigos da Pátria e da civilização cristã, conduzindo-nos enganados para o inferno da guerra, enquanto de modo mentiroso nos fala de paz.

Um último aspecto que passou despercebido, mas que não deixa de ter grande importância, são os vínculos da guerrilha colombiana com o ditador Ortega, da Nicarágua. Este sinistro personagem sempre apoiou os grupos guerrilheiros colombianos e agora pretende valer-se de artimanhas internacionais para apoderar-se de nossos territórios marítimos. A exemplo das Farc, ele utiliza o princípio marxista de avançar e exigir benefícios quando a outra parte é débil.

Como vimos fazendo no decurso de mais de uma década, Tradición y Acción não pode deixar de pedir a assistência da Providência, e em especial da Padroeira da Colômbia, a Virgem Nossa Senhora de Chiquinquirá, para que nos proteja das consequências funestas desses acordos.

A Colômbia deseja um rumo diferente daquele que nossos governantes nos estão impondo. Quando os índices de popularidade do governo atingiram índices irrisórios e a aceitação da opinião pública aos grupos terrorista é nula, o que existe na realidade é um imenso clamor, surgido do mais profundo da opinião do País, exigindo uma mudança de rumo que nos salve do desastre a que estamos sendo conduzidos.

Em circunstâncias similares, diante da infrene agressão nazista contra toda a Europa, a qual desfechou na Segunda Guerra Mundial, Churchill descreveu a situação com uma frase lapidar — referindo-se aos políticos entreguistas diante de Hitler — que se aplica por inteiro ao nosso conflito: “Tínheis a escolher entre a vergonha e a guerra; escolhestes a vergonha e agora tereis a guerra”.

Queira Deus que nossos governantes escutem oportunamente este clamor. E que as mais altas autoridades políticas e religiosas do mundo ocidental, que deram seu apoio incondicional a este “processo de paz”, sejam esclarecidas e possam vê-lo com os olhos da verdade.

Sociedad Colombiana Tradición y Acción

www.colombia-autentica.org

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