Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
8 min — há 12 anos — Atualizado em: 9/1/2017, 9:29:33 PM
Continuação da publicação de excertos da obra de Anna Bramwell, “Ecology in the 20th Century, A History”, Yale University Press, New Haven, Ct., and London, 1989.
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Johann von Thunen (1785-1850), economista e geógrafo alemão, autor do livro “O Estado Isolado” foi considerado o mentor intelectual dos Nacional Socialistas alemães e dos comunistas alemães-orientais do pós-guerra.
Os ecologistas ainda o citam hoje em dia.
Defendia a vida rural camponesa numa estrutura social na qual “o Estado não pode existir enquanto determinante da vida moral, econômica e social.”
Queria a imigração em massa para a América do Norte, onde o solo fértil poderia realizar sua utopia.
Leia mais
1) O panteísmo monista do fundador Ernst Haeckel
2) O extremismo do fundador superado pelos discípulos
“A natureza revela seus segredos ao camponês que traz modificações para a vida social”. A consequência desta filosofia econômica esquerdista na reforma agrária foi mais tarde assumida pelo socialismo de Estado.
Reestruturando o planeta em clave anárquica
A geografia, aparentemente a mais positivista das ciências, suscitou numerosos reformadores sociais, precursores dos ecologistas. De fato, era pequeno o passo que separava a descrição do uso do solo e sua estrutura da recomendação de reformas específicas.
A geopolítica, disciplina inventada por Halford Mackinder e Karl Haushofer, elaborou o conceito de Raubwirtschaft, “economia exploradora”.
Já em 1905, Elisée Reclus, anarquista francês, escrevera uma obra em 19 volumes para provar o “efeito quase exclusivamente destrutivo do homem sobre o meio ambiente”.
O estudioso franco-russo, Eduard Petrie, escreveu em 1883 que a colonização de estilo ocidental destruiu não apenas o ambiente físico, mas a cultura e o espírito — etocídio — das tribos primitivas.
Outro importante radical destas primeiras correntes ecológicas foi Patrick Geddes (1832-1932), defensor encarniçado da volta-ao-solo descentralizadora.
Geddes esperava que a sociedade moderna iria abandonar a produção industrial e o uso de energia, passando para o uso “biológico” de energia tendo a aldeia como modelo social. Desejava fundar uma nova sociedade descentralizada com base no binômio camponês-aldeia.
O planejamento de casas e aldeias, de regiões e nações era o objetivo de Lewis Mumford, discípulo de Geddes.
Em 1940 advogou o estabelecimento de um governo mundial para reordenar a população da terra de modo mais belo e eficiente. A principal tarefa do século XX seria reestruturar o planeta…
A despeito dos repetidos fracassos do planejamento social, a ecologia política caiu no paradoxo de manter a crença de que o homem é capaz de interferir benevolamente na vida de outro homem.
A importância dos ecologistas energéticos reside no fato de que eles estabeleceram as bases para o cálculo do futuro das sociedades humanas. Embora muitos fossem ainda eurocêntricos, alguns já eram tão universalistas e anti-ocidentais quanto os ecologistas de hoje.
Alguns deles foram socialistas libertários, inspirados por Morris ou Ruskin, defensores da aldeia e da sociedade camponesa.
Todos eles acreditavam em reformas baseadas em cálculos científicos e em sua própria visão de decadência e desastre.
Todos eram racionalistas, todos rejeitavam as instituições políticas vigentes, advogando um governo mundial por meio de instituições apolíticas.
Quando a crise do petróleo ameaçou o Ocidente no início da década de 70, reapareceram os mesmos argumentos acerca dos recursos finitos, bem como os mesmos planos para reestruturar a sociedade, de molde a fazer o uso mais econômico possível do solo e da energia.
O ecologismo do início do século XX defendia a ideia de que trabalhador rural deve possuir a terra em que trabalha.
Porque a reforma agrária significa a partilha das grandes propriedades, era vista como um movimento de esquerda. Na Inglaterra, os grupos pró reforma agrária eram constituídos de pessoas provenientes da classe média alta.
Rudolf Steiner e o III Reich
Que importância as ideias ecológicas tiveram para o III Reich?
É difícil avaliar como o nazismo foi visto em diferentes épocas por seus apoiadores.
Existe um corpo de discursos e livros que esboçam a ideologia nazista, mas longe de ser completo. Os discursos de Hitler nunca foram colecionados e publicados na íntegra, mesmo no original alemão. Do que existe, pode-se porém deduzir uma ideologia.
Felizmente, não é preciso esticar um mosquito para mostrar que havia um veio de ideias ecológicas entre os nazistas.
A prova é ampla; ela existe nos arquivos ministeriais e pessoais do III Reich.
Uma discussão sobre as ideias verdes e ecológicas, presentes no nazismo, está fadada a ter um efeito explosivo. Há também possíveis consequências políticas.
O Partido Verde na Alemanha de hoje é popular entre muitos intelectuais descontentes, por parecer puro e não tisnado pelo passado. É um potencial aliado do SPD, e portanto opositor da Democracia Cristã de direita.
Os verdes adotaram as posições da extrema esquerda: feminismo, igualitarismo e agitação anti-nuclear.
Uma ligação entre as ideias verdes em moda atualmente e o nazismo poderia suscitar incômodos e até mesmo vitupérios.
Houve dois níveis de apoio à ecologia no IIIº Reich. O primeiro, a nível ministerial; o segundo, a nível administrativo, nos órgãos do Partido.
Os dois ministros simpáticos às ideias ecológicas foram Rudolf Hess e Walter Darre, líder camponês e Ministro da Agricultura entre 1932 e 1942.
Fritz Todt, presidente da Organização Todt, era também um ecologista. Hess era seguidor de Rudolf Steiner e homeopata.
O escritório de Hess empregava diversos ecologistas, entre os quais Anthony Ludovici, que escreveu largamente sobre a necessidade de um uso planejado da terra, orgânico e ecologicamente equilibrado.
Havia milhares de fazendeiros bio-dinâmicos alistados na “Guerra da Produção” nazista.
Tamanho era o número dos alternativos ligados a Hess na Chancelaria que Martin Bormann fez circular um memorando pedindo o fim dos “círculos ocultos e confessionais”.
Isto mostra a frincha dentro do Nacional Socialismo entre os homens práticos e os alternativos, individualistas rebeldes contra as estruturas da República de Weimar e que trouxeram suas crenças para o IIIº Reich.
A Alemanha nazista foi o primeiro país da Europa a formar reservas naturais.
Foi o primeiro país a insistir na plantação de árvores de espécie mista para conservar o equilíbrio ecológico; a introduzir leis para proteger o habitat da vida selvagem etc.
Apesar de a Alemanha ter — segundo se acreditava — uma carência aguda de terras, era considerado sacrossanto o solo arborizado.
Quando parte da Polônia foi incorporada à Alemanha em 1939, 25% de todas as terras aráveis foram reservadas para serem florestadas. Na década de 30, 2/5 de todo o solo alemão estava reservado para florestas.
A folha de carvalho era o símbolo das SS.
Houve tensão entre a Alemanha e a Itália quando Mussolini insistiu em continuar cortando árvores no Sul do Tirol.
A era do camponês integrado na terra
Entre as duas grandes guerras havia se difundido a ideia de que o campesinato tinha uma missão “especial”.
Rudolf Steiner, fundador da antroposofia, inspirou em 1925, uma nova escola de agricultura bio-dinâmica que visava a preservar o espírito do solo e cuidar para que este fosse arado de acordo com sua teoria de forças-vivas e influências magnéticas do cosmos.
Os fertilizantes artificiais eram rejeitados enquanto coisa morta feita pelo homem.
A terra era um ser vivo: o solo, seu olho ou orelha. A agricultura deveria fazer parte de uma unidade orgânica mundo-terra.
Depois do voo de Hess para a Inglaterra, o movimento bio-dinâmico foi perseguido.
Todos os que estavam ligados às ideias de Hess — homeopatas e naturistas — tornaram-se suspeitos.
Walter Darre, Ministro da Agricultura, devotou seus dois últimos anos a fazer campanha em prol das fazendas orgânicas, em sentido contrário à vontade de Backe, Bormann e Goering.
Um terço da liderança nazista apoiou a campanha de Darre; outro terço era favorável às ideias orgânicas, mas negou-se a apoiá-las devido a suas ligações com Rudolf Steiner e as ideias antroposóficas; e o terço restante foi hostil.
Himmler fundou fazendas orgânicas experimentais para plantar ervas para os remédios dos SS.
O diretor do Bureau SS para Raças e Colonização, Gustav Pancke, visitou a Polônia em 1939 para criar fazendas orgânicas.
Por insistência de Himmler, foram aprovadas leis anti-vivisecção.
O treinamento dos SS incluía aprender respeitar a vida animal.
À maneira dos ecologistas de hoje, os nazistas se opunham ao capitalismo e ao sistema de mercado orientado para o consumidor.
Com seu programa “Volta à terra” o III Reich alcançou seus maiores sucessos e fracassos ecológicos.
O programa de colonização era essencial para os planos nazistas de criar uma Alemanha rural.
Ele iria varrer a antiga nobreza por meio da reforma agrária e estabelecer uma nova nobreza camponesa.
O ímpeto retórico dos nazistas agrários radicais voltava-se para a formação de uma Alemanha que integrasse uma Internacional Camponesa da Europa do Norte, onde as fazendas seriam dirigidas de acordo com o alvitre dos comitês de conselheiros locais.
Tal retórica, comportando um ataque em larga escala contra a economia capitalista e o direito de propriedade, defendia que o comércio exterior e a industrialização haviam sido elaborados por capitalistas manipuladores para forçar as populações rurais a confluírem para as cidades.
O sistema industrial teria sido construído para impedir as autonomias locais e a auto-suficiência. O remédio seria a total ruralização da Alemanha.
O fracasso militar na II Guerra Mundial pôs fim às tentativas mas não à utopia.
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