Gustavo A. Solimeo
O estudo do socialismo deixa clara a total incompatibilidade entre essa ideologia e a doutrina da Igreja. Isso explica porque o socialismo foi firmemente condenado por todos os Papas, desde que começou a tomar uma importância particular durante o pontificado de Pio IX (o ”Manifesto comunista” de Marx e Engels foi publicado em 1848).
Não poucos, entretanto, em nossos dias, parecem ignorar que o socialismo é condenado pela Igreja. Outros pensam que o magistério da Igreja sobre o socialismo mudou.
Por essa razão pareceu útil apresentar aqui uma compilação de textos pontifícios, começando com Pio IX e terminando com Bento XVI. Como se verá, os pronunciamentos pontifícios contra o socialismo são muito numerosos, claros e consistentes.[1]
PIO IX (1846-1878):
“Transtorno absoluto de toda a ordem humana”
“… tampouco desconheceis, Veneráveis Irmãos, que os principais autores desta intriga tão abominável não se propõem outra coisa senão impelir os povos, agitados já por toda classe de ventos de perversidade, ao transtorno absoluto de toda a ordem humana das coisas, e entregá-los aos criminosos sistemas do novo socialismo e comunismo”[2].
LEÃO XIII (1878-1903):
“Monstro horrendo”
“… o “comunismo”, o “socialismo”, o “nihilismo”, monstros horrendos que são a vergonha da sociedade e que ameaçam ser-lhe a morte”[3].
“Ruína de todas as instituições”
“… suprimi o temor de Deus e o respeito devido às suas leis; deixai cair em descrédito a autoridade dos príncipes; dai livre curso e incentivo à mania das revoluções; dai asas às paixões populares, quebrai todo freio, salvo o dos castigos, e pela força das coisas ireis ter a uma subversão universal e à ruína de todas as instituições: tal é, em verdade, o escopo provado, explícito, que demandam com seus esforços muitas associações comunistas e socialistas”[4].
Seita destruidora da sociedade civil
“… esta seita de homens que, debaixo de nomes diversos e quase bárbaros se chamam socialistas, comunistas ou nihilistas, e que, espalhados sobre toda a superfície da terra, e estreitamente ligados entre si por um pacto de iniqüidade, já não procuram um abrigo nas trevas dos conciliábulos secretos, mas caminham ousadamente à luz do dia, e se esforçam por levar a cabo o desígnio, que têm formado de há muito, de destruir os alicerces da sociedade civil. É a eles, certamente, que se referem as Sagradas Letras quando dizem: ‘Eles mancham a carne, desprezam o poder e blasfemam da majestade’ (Jud. 8)”[5].
Seita pestífera
“… todos sabem com que gravidade de linguagem, com que firmeza e constância o Nosso glorioso Predecessor Pio IX, de saudosa memória, combateu, quer nas suas Alocuções, quer nas suas Encíclicas dirigidas aos Bispos de todo o mundo, tanto os esforços iníquos das seitas, como nomeadamente a peste do socialismo, que já irrompia dos seus antros”[6].
Seita demolidora
“… os socialistas e outras seitas sediciosas que trabalham há tanto tempo para arrasar o Estado até aos seus alicerces”[7].
“Seita abominável”
“É necessário, … que trabalheis para que os filhos da Igreja Católica não ousem, seja debaixo de que pretexto for, filiar-se na seita abominável (do socialismo), nem favorecê-la”[8].
Inimigo da sociedade e da Religião
“… temos necessidade de corações audaciosos e de forças unidas, numa época em que a messe de dores que se desenvolve diante de nossos olhos é demasiado vasta, e em que se vão acumulando sobre nossas cabeças formidáveis perigos de perturbações ruinosas, em razão principalmente do poder crescente do socialismo. Esses socialistas insinuam-se habilmente no coração da sociedade. Nas trevas das suas reuniões secretas e à luz do dia, pela palavra e pela pena, impelem a multidão à revolta; rejeitam a doutrina da Igreja, negligenciam os deveres, só exaltam os direitos, e solicitam as multidões de desgraçados, cada dia mais numerosos, que, por causa das dificuldades da vida, se deixam prender a teorias enganosas e são arrastados mais facilmente para o erro. Trata-se ao mesmo tempo da sociedade e da Religião. Todos os bons cidadãos devem ter a peito salvaguardar uma e outra com honra”[9].
Perigo para os bens materiais, a moral e a Religião
“… era o Nosso dever advertir publicamente os católicos dos graves erros que se ocultam sob as teorias do socialismo, e do grande perigo que daí resulta, não somente para os bens exteriores da vida, mas também para a integridade dos costumes e para a Religião”[10].
“Germe funesto”
“… a Igreja do Deus vivo, que é ‘a coluna e o sustentáculo da verdade’ (1 Tim. 3,15), ensina as doutrinas e princípios cuja verdade consiste em assegurar inteiramente a salvação e tranqüilidade da sociedade e desarraigar completamente o germe funesto do socialismo”[11].
Serpente perigosa
Os comunistas, os socialistas e os niilistas são uma “peste mortal que se introduz como a serpente por entre as articulações mais íntimas dos membros da sociedade humana, e a coloca num perigo extremo”[12].
Negação das leis humanas e divinas
Os socialistas, os comunistas e os niilistas “nada deixam intacto ou inteiro do que foi sabiamente estabelecido pelas leis divinas e humanas para a segurança e honra da vida”[13].
O socialismo diverge diametralmente da Religião Católica
“… ainda que os socialistas, abusando do próprio Evangelho, a fim de enganarem mais facilmente os espíritos incautos, tenham adotado o costume de o torcerem em proveito da sua opinião, entretanto a divergência entre as suas doutrinas depravadas e a puríssima doutrina de Cristo é tamanha, que maior não podia ser. Pois ’que pode haver de comum entre a justiça e a iniquidade? Ou que união entre a luz e as trevas?’ (2 Cor. 6, 14)”[14].
1-A maioria dos excertos de documentos pontifícios desta compilação, bem como as respectivas ementas, foram tomados de Plinio Corrèa de Oliveira et. alii,Reforma Agrária Questão de Consciência, Editora Vera Cruz, São Paulo, 1962, 4ª ed., XX – 498 pp.
2- Pio IX, Encíclica Noscitis et Nobiscum, 8 de dezembro de 1849 – Colección Completa de Encíclicas Pontifícias”, Editorial Poblet, Buenos Aires, pág. 121.
3- Leão XIII, Encíclica Diuturnum Illud, 29 de junho de 1881 – Editora Vozes Ltda., Petrópolis, pág. 16.
4- Leão XIII, Encíclica Humanum Genus, de 20 de abril de 1884 – Editora Vozes Ltda., Petrópolis, págs. 20-21.
5- Leão XIII, Encíclica Quod Apostolici Muneris, 28 de dezembro de 1878 – Editora Vozes Ltda., Petrópolis, págs. 3-4.
6- Leão XIII, Encíclica Quod Apostolici Muneris, 28 de dezembro de 1878 – Editora Vozes Ltda., Petrópolis, pág. 7.
7- Leão XIII, Encíclica Libertas Praestantissimum, 20 de junho de 1888 – Editora Vozes Ltda., Petrópolis, pág. 16.
8- Leão XIII, Encíclica Quod Apostolici Muneris, 28 de dezembro de 1878 – Editora Vozes Ltda., Petrópolis, pág. 14.
9- Leão XIII, Encíclica Graves de Communi, 18 de janeiro de 1901 – Editora Vozes Ltda., Petrópolis, págs. 15-16.
11-Leão XIII, Encíclica Quod Apostolici Muneris, 28 de dezembro de 1878 – Editora Vozes Ltda., Petrópolis, pág. 7.
12- Idem, pág. 3.
13- Idem, pág. 4.