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10 min — há 3 anos — Atualizado em: 6/28/2021, 6:34:13 PM
Para Francisco a Eucaristia é o “Pão dos pecadores”: Para a Igreja é o
“Pão dos Anjos”
Luiz Sérgio Solimeo
A solenidade de Corpus Christi é a grande festa litúrgica em louvor do Santíssimo Sacramento.
Teve origem na Idade Média, por inspiração de St. Juliana of Mont Cornillon (1193- 1258), sendo aprovada pelo Papa Urbano IV através da Bula Transiturus, de 8 September, 1264. O Papa pediu a São Tomás de Aquino que compusesse o ofício litúrgico da festa. Assim, devemos ao gênio teológico de São Tomás, que ademais era também poeta inspirado, o belo hino Lauda Sion, Seqüência da Missa da nova festa.
Em seus versos encontramos a bela expressão “Ecce panis angelorum” (Eis o Pão dos Anjos), a qual passou a ser usada com frequência para designar a Santa Comunhão. O que se entende, uma vez que esta só pode ser recebida em estado de graça, o qual estado faz os homens assemelharem-se a Anjos.
Francisco aproveitou-se da comemoração da festa de Corpus Christi, no último dia 6 de junho, para mudar o significado do sacramento da Eucaristia, dando-lhe um sentido inteiramente contrário ao que a Igreja ensinou até hoje. Assim, mudando a poética, mas teologicamente segura, formulação de São Tomás, ele transforma o “Pão dos Anjos” em “Pão dos pecadores.”
No Angelus dessa festa, como já o fizera em outra ocasião ( ), ele apresentou o traidor Judas como exemplo da misericórdia divina. Disse que, na Santa Ceia, Jesus sabia da traição de Judas, e “o que faz Jesus? Ele reage ao mal com um bem maior. Ele responde ao não de Judas com o sim da misericórdia. Ele não pune o pecador, mas dá sua vida por ele”( ). Do mesmo modo compara Francisco: “Quando nós recebemos a Eucaristia, Jesus faz a mesma coisa conosco: Ele nos conhece; Ele sabe que somos pecadores; e Ele sabe que cometemos muitos erros, mas Ele não desiste em juntar sua vida com a nossa vida.” Concluindo seu raciocínio, ele diz que Jesus “sabe que nós precisamos disso, porque a Eucaristia não é o prêmio dos santos, não; ela é o pão dos pecadores. É por isso que Ele nos exorta: ‘Não tenham medo! Tomai e comei’.”
Das palavras acima e do exemplo de Judas, ao designar a Eucaristia como “Pão dos pecadores”, fica a suspeita de que Francisco estaria afirmando que o efeito próprio da Comunhão é perdoar os pecados mortais (e não apenas os veniais), o que contraria o Concílio de Trento: “Can. 5. Se alguém disser que o fruto especial da Santíssima Eucaristia é a remissão dos pecados, ou que ela não produz outros frutos: seja anátema”( ).
Outro erro que também parece insinuado nas palavras de Francisco, igualmente contrário a esse Concílio e às Escrituras, é que não se requer o estado de graça para receber a Santa Comunhão. Diz o mesmo Concílio de Trento, citando São Paulo: “Seguramente, quanto mais santo e divino esse sacramento é entendido pelo Cristão, mais diligentemente ele deve pôr toda a atenção em aproximar-se dele, não o recebê-lo senão com a maior reverência e santidade, especialmente porque lemos no Apóstolo [São Paulo] estas palavras cheias de terror: Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor (I Cor. 11:29).
Portanto, aquele que for comungar deve se lembrar do preceito do Apóstolo: Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice.” Os moralistas Antonio Lanza e Pietro Palazzini dizem que, “[p]or direito divino não podem acercar-se licitamente da Comunhão todos os que se acham em pecado mortal”( ).
Os mesmos teólogos moralistas sintetizam como segue os efeitos da Comunhão Eucarística: “Os efeitos específicos da Santa Comunhão são: a) unir-nos com Jesus Cristo e com seu Corpo Místico, a Igreja, de maneira mais íntima; b) aumentar em nós a graça santificante; c) nutrir e fortificar a vida espiritual; d) enfraquecer a concupiscência; e) dar-nos um sinal da vida eterna. Os efeitos serão tanto mais abundantes quanto melhores sejam as disposições [com que se recebe]”( ).
É certo que a Comunhão pode indiretamente apagar um pecado mortal quando a pessoa, sem ter noção de que está em pecado, comunga piedosamente. Nesses casos, raros, “os teólogos inclinam-se para a opinião que, nesses casos excepcionais, a Eucaristia pode restaurar a alma ao estado de graça”( ).
Em vista da nova concepção sobre a Eucaristia como “Pão dos pecadores”, apresentada por Francisco, entende-se melhor porque ele, na Exortação Apostólica Amoris Laetitia, em nota, abriu a possibilidade da Comunhão a pessoas vivendo em adultério ( ). Diz ele nessa exortação Apostólica que uma pessoa pode estar numa “objetiva situação de pecado”, mas mesmo assim “vivendo na graça de Deus, pode amar e pode crescer na vida da graça e caridade, enquanto recebendo a ajuda da Igreja para este fim”. E, em nota afirma que “Em certos caso, isto [a ajuda] pode incluir os sacramentos” porque a Eucaristia “não é o prêmio para o perfeito, mas o poderoso remédio e alimento para os fracos”( ).
O que está dito na Amoris Laetitiae de modo um tanto confuso, os bispos da província de Buenos Ayres, Argentina, tornaram inteiramente claro. Dizem eles que em certos casos, quando não há possibilidade de anulação do primeiro matrimônio, “Amoris laetitia abre a possibilidade do acesso aos sacramentos da Reconciliação e da Eucaristia (cf. notas 336 y 351). Estes, por sua vez, dispõem a pessoa a continuar maturando e crescendo com a força da graça”( ).
Em sua resposta a esse bispos, Francisco elogia sua tomada de atitude e acrescenta: “O escrito é muito bom, e explica cabalmente o sentido do capítulo VIII de Amoris laetitia. Não há outras interpretacões”( ). Assim, Francisco considera autêntica a interpretação dos bispos argentinos, segundo a qual casais em adultério podem receber a absolvição sacramental e a Comunhão, sem abandonarem sua situação de pecado. O que é perfeitamente consistente com a doutrina segundo a qual a Eucaristia é o “Pão dos pecadores.”
Não é ocioso acrescentar que, conforme a doutrina tradicional sancionada no Concílio de Trento, uma confissão feita sem o arrependimento e o propósito firme de abandonar o pecado é nula e profana o sacramento.
Em 19 de setembro de 2016, quatro Cardeais da Santa Igreja, Carlo Caffarra, Joachim Meisner (ambos falecidos), Raymond Burke e Walter Brandmüller dirigiram uma interpelação, sob a forma de dubia (dúvidas) a Francisco sobre as novas doutrinas contidas na Amoris Laetitia, especialmente referentes à Eucaristia e à Penitência. Perguntavam: “Seguindo as afirmações da Amoris Laetitia (300-305), é agora possível dar absolvição na Confissão e, portanto, admitir à Santa Comunhão àquele que, embora ligado por um válido vínculo matrimonial, vive com diferente pessoa more uxorio [como esposos] sem preencher as condições previstas pela Familiaris Consortio, 84, e posteriormente reafirmada pela Reconciliatio et Paenitentia, 34, e Sacramentum Caritatis, 29 [ou seja, de viverem como irmãos].
Pode a expressão “em certos casos” que se encontra na Nota 351 (305) da exortação Amoris Laetitia ser aplicada às pessoas divorciadas que estão em nova união e continuam a viver more uxorio?”( ). Francisco não respondeu até hoje estas Dubia, as quais passaram a ser de domínio público em todo o orbe católico. No ano seguinte, 16 de Julho de 2017, um grupo de teólogos e intelectuais católicos publicou um documento, Correctio filialis de haeresibus propagatis, no qual mostravam a mesma preocupação dos Cardeais, sendo porém mais taxativos. Eles afirmaram que “várias passagens da Amoris laetitia, em conjunção com atos, palavras e omissões de Vossa Santidade, são de molde a propagarem sete proposições heréticas”( ).
Chamar a Santa Eucaristia de “Pão dos pecadores” não é proferir uma blasfêmia? Os sacramentos conferem a graça àqueles que os recebem dignamente. Nenhum dos Sacramentos pode ser ministrado a um adulto que não esteja em condições de recebê-lo. Mesmo no caso da Penitência ou Confissão (atualmente chamado Sacramento da Reconciliação), para produzir seus efeitos de restaurar o estado de graça no pecador, é preciso que este confesse seriamente seus pecados, com arrependimento ainda que imperfeito (atrição), e com o propósito de deixar o pecado.
Segundo Lanza-Palazzini, “Quem conscientemente, sem as disposições devidas, recebe o Sacramento, comete um pecado grave de sacrilégio, porque torna inútil o rito instituído por Cristo como sinal eficaz da graça.” E concluem: “A profanação de uma coisa santíssima é uma grave injúria contra o Divino Fundador. Em concreto, para receber os Sacramentos dos vivos ( ) se exige o estado de graça; se falta este, comete-se sacrilégio”( ).
É bem evidente que, objetivamente, no foro externo, estão em estado de pecado não somente quem comete o aborto e quem o realiza, mas o político que aprova leis que o favoreçam. Pelo menos de pecado de escândalo por negarem, na prática, uma doutrina sempre ensinada pela Igreja, e que é também de lei natural. Essa doutrina singular de que a Eucaristia, o “Pão dos Anjos”, é o “Pão dos pecadores” tem consequências práticas muito sérias. Pois ninguém pode negar que Francisco seja pelo menos omisso nesta matéria.
Em lugar de apoiar os bispos corajosos que tomam a sério a doutrina católica e publicamente mostram a incompatibilidade de estes políticos receberem a Sagrada Comunhão, ele, ao contrário, sempre favorece os prelados concessivos.
Terminemos com os versos de São Tomás de Aquino que são rezados na Sequência da Missa da Festa de Corpus Christi:
Eis o pão dos Anjos que se torna alimento dos peregrinos: verdadeiramente é o pão dos filhos de Deus que não deve ser lançado aos cães.
As figuras o simbolizam: é Isaac que se imola, o cordeiro que se destina à Páscoa, o maná dado a nossos pais.
Bom Pastor, pão verdadeiro, Jesus de nós tende piedade.
Sustentai-nos, defendei-nos, fazei-nos na terra dos vivos contemplar o Bem supremo.
Ó Vós que tudo sabeis e tudo podeis, que nos alimentais nesta vida mortal, admiti-nos no Céu, à vossa mesa, e fazei-nos co-herdeiros na companhia dos que habitam a cidade santa. Amém. Aleluia.
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