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7 min — há 10 anos — Atualizado em: 9/1/2017, 8:52:56 PM
Nosso Senhor Jesus Cristo aparece a Dom Afonso Henriques em 1139, instaura o Reino de Portugal e prevê uma grande missão para seus descendentes em “terras muito remotas”, que se realizará no Brasil
Existe uma opinião difusa de que o Brasil ainda terá um papel muito importante a desempenhar no concerto das nações, uma esperança que se mantém desde o Descobrimento.
(Gravura acima: Azulejos, representação da Batalha de Ourique, comandada por Dom Afonso Henriques.)
Devemos aprofundar as razões dessa conjectura, fundamentando-a com vistas fazer dela uma certeza a respeito de nosso futuro.
De fato, pesquisando os anais da História, podemos verificar que a predileção da Divina Providência pelo Brasil foi anunciada pelo próprio Nosso Senhor Jesus Cristo, muito antes que as naus de Pedro Álvares Cabral aportassem nas terras de Vera Cruz no ano de 1500.
Foi na Batalha de Ourique, a 25 de julho de 1139, que os portugueses tiveram que enfrentar os infiéis maometanos, achando-se então os lusos em grande inferioridade numérica: cem mouros para cada lusitano, segundo muitos cronistas idôneos.
Narram os historiadores que nessa batalha o grande rei português, com onze mil soldados, desfez o exército dos cinco reis mouros. Os inimigos dos portugueses eram a flor dos maometanos espanhóis e africanos, belicosos, exercitados na guerra e confiados pelas vitórias de sua gente, com as quais sujeitaram a seu império grande parte do mundo daquele tempo. Mas valeu aos portugueses seu grande esforço, a ventura de seu príncipe, e sobretudo o particular e extraordinário auxílio dos Céus.
De acordo com antiga tradição, Nosso Senhor Jesus Cristo veio em auxílio dos católicos portugueses, prometeu a Dom Afonso Henriques a vitória e ordenou-lhe que se tomasse rei. Surgiu assim o reino luso, batizado por seu primeiro monarca como Terra de Santa Maria.
Na noite anterior à Batalha de Ourique, Nosso Senhor Jesus Cristo apareceu a Dom Afonso Henriques (imagem acima), conforme relato do próprio rei:
“Eu estava com meu exército nas terras de Alentejo, no Campo de Ourique, para dar batalha a Ismael e outros reis mouros que tinham consigo infinitos milhares de homens.
“Armado com espada e rodela saí fora dos reais, e subitamente vi à parte direita contra o nascente um raio resplandecente e indo-se pouco a pouco clarificando, cada hora se fazia maior, e pondo de propósito os olhos para aquela parte vi de repente no próprio raio o sinal da Cruz, mais resplandecente que o sol, e Jesus Cristo crucificado nela.
“Vendo pois esta visão, pondo à parte o escudo e espada, lancei-me de bruços, e desfeito em lágrimas comecei a rogar pela consolação de meus vassalos, e disse sem nenhum temor: a que fim me apareceis, Senhor? Quereis, por ventura, acrescentar fé em quem tem tanta? Melhor é por certo que Vos vejam os inimigos e creiam em Vós, que eu, que desde a fonte do batismo Vos conheci por Deus verdadeiro, Filho da Virgem e do Padre Eterno, e assim Vos conheço agora.
“O Senhor, com um tom de voz, suave, que minhas orelhas indignas ouviram, me disse: ‘Não te apareci deste modo para fortalecer teu coração neste conflito, e fundar os princípios de teu reino sobre pedra firme. Confia, Afonso, porque não só vencerás esta batalha, mas todas as outras em que pelejares contra os inimigos de minha Cruz.
‘”Acharás tua gente alegre e esforçada para a peleja, e te pedirá que entres na batalha com título de rei. Não ponhas dúvida, mas tudo quanto te pedirem lhe concede facilmente. Eu sou o fundador e destruidor dos reinos e impérios, e quero em ti e teus descendentes fundar para mim um império, por cujo meio seja meu nome publicado entre as nações mais estranhas. E comporás o escudo de tuas armas do preço com que Eu remi o gênero humano, e daquele por que fui comprado dos judeus, e ser-me-á reino santificado, puro na Fé e amado por minha piedade’”.
“Eu tanto que ouvi estas coisas, prostrado em terra, O adorei, dizendo: Por que méritos, Senhor, me mostrais tão grande misericórdia? Ponde pois vossos benignos olhos nos sucessores que me prometeis, e guardai salva a gente portuguesa. E se acontecer que tenhais contra ela algum castigo aparelhado, executai-o antes em mim e meus descendentes, e livrai este povo que amo como a único filho.
“Consentindo nisto, o Senhor disse: ‘Não se apartará deles nem de ti nunca minha misericórdia, porque por sua via tenho aparelhadas grandes searas e a eles escolhidos por meus segadores em terras muito remotas’.
“Ditas estas palavras desapareceu, e eu cheio de confiança e suavidade me tornei para o real”.
Dia afortunado aquele em que a Cruz, projetada no firmamento, fez nascer um povo abençoado, forte e piedoso, por cujo meio Nosso Senhor veria seu “Nome publicado entre as nações mais estranhas”, sempre que os portugueses plantassem essa mesma cruz em terras remotas.
Por isso pôde um dia Vieira proclamar: “Deus deu a Portugal um berço para nascer e o mundo inteiro para morrer”.
Seguindo essa trilha de heroísmo, em 1385 o rei Dom João I expulsava os mouros das terras portuguesas e subia ao trono.
Desde então suas vistas se voltaram para mais longe e os portugueses deram início à epopeia que os levaria a “dilatar a Fé e o Império” por todo o orbe. Durante mais de um século e meio, os atos de abnegação e dedicação pela Fé se multiplicaram.
Em todos estes feitos estava sempre presente Nossa Senhora, a quem D. Afonso Henriques consagrara este povo nascido sob o signo da Cruz.
Era Ela que acompanhava Vasco da Gama à Índia, ou que na linda imagem da Senhora da Esperança, viajava na armada de Cabral ao Brasil.
Entre os portugueses não havia quem não sentisse uma força sobrenatural, na convicção de que Deus combatia ao seu lado, por ser ele um soldado da Cruz. E sob este signo venciam, apesar de todas as incoerências e abusos que mancham qualquer empresa humana.
Após este longo itinerário de pensamentos e de evocações históricas, chegamos aos tempos atuais, e constatamos que há todo um trabalho de restauração a ser cumprido, mas que a Providência o deseja e o abençoará. Não tem outro sentido o fato de que a Mãe de Deus tenha querido falar em Fátima ao mundo inteiro. Sua Mensagem se dirige a todos os homens, mas de modo imediato ao povo português e aos que lhe são mais próximos pelo sangue e pela história. Pois Ela, no ano de 1500, estendeu seus braços imensos a uma vastíssima região que denominou Terra de Vera Cruz, depois Santa Cruz e, mais tarde, Brasil.
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BIBLIOGRAFIA:
Frei Antonio Brandão, A Batalha de Ourique –– Crônica de Dom Afonso Henriques – Livraria Civilização Editora, Porto, 1945.
João Ameal. História de Portugal. Livraria Tavares Martins, Porto, 1958, 4ª edição.
A vitória dos portugueses contra os mouros em Ourique e o aparecimento de Nosso Senhor Jesus Cristo a Dom Afonso Henriques, de tal maneira marcaram a alma e os destinos de Portugal na época, que o célebre poeta luso Luís de Camões, narra esses acontecimentos em seu famoso “Lusíadas”:
Mas já o príncipe Afonso aparelhava!
O lusitano exército ditoso
Contra o Mouro, que as terras habitava!
De além do claro Tejo deleitoso
Já no campo de Ourique se assentava!
O arraial soberbo e belicoso
Defronte do inimigo Sarraceno
Posto que em força e gente tão pequeno
Em nenhuma outra coisa confiado
Senão no sumo Deus, que o céu regia que tão pouca era o povo batizado
Que pera um só cem Mouros haveria!
Julga qualquer juízo sossegado
Por mais temeridade que ousadia!
Cometer um tamanho ajuntamento
Que pera um cavaleiro houvesse cento
Cinco reis mouros eram os inimigos
Dos quais o principal Ismar se chama!
Todos experimentados nos perigos
Da guerra, onde se alcança a ilustre fama!
A matutina luz serena e fria!
As estrelas do polo já apartava!
Quando na cruz o filho de Maria!
Amostrando-se a Afonso o animava!
Ele adorando quem lhe aparecia
Na Fé todo inflamado, assim gritava:
“Aos infiéis, Senhor. aos infiéis,!
E não a mim, que creio o que podeis”!
Com tal milagre os ânimos da gente
Portuguesa inflamados levantaram
Por seu rei natural este excelente
Príncipe, que do peito tanto amavam.
E diante do exército potente
Dos inimigos, gritando o céu tocavam!
Dizendo em alta voz:
“Real, real,! Por Afonso, alto rei de Portugal”.
Luís de Camões
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