Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
5 min — há 3 anos
Transcrição dos comentários do Prof. Plinio, para sócios e cooperadores da TFP, sem revisão do autor.
A ficha é tirada do livro “Os Santos Militares”, do General Silveira Mello. A síntese biográfica é a seguinte:
“Edmundo era filho de Opa, rei da Estânglia. É um dos pequenos reinos que compunha a Inglaterra primitiva – e nasceu por volta de 840 quando o cristianismo já estava disseminado nos estados ingleses. O rei, seu pai, homem de grande piedade, quando viu o filho com 15 anos, abdicou em seu favor e retirou-se para Roma a fim de consagrar seus últimos dias ao recolhimento e à oração.”
“Edmundo, que fora muito bem-educado na Religião Católica, tornou-se modelo de cristão para seu povo. Justo e bom, era homem de invulgar energia. Percebeu cedo o perigo que representava os escandinavos para seu país e preparou-se militarmente, assim como dispôs seu povo, para uma possível guerra.”
Os escandinavos eram, naquele tempo, o grande perigo dos povos civilizados. Hoje tão pacíficos, foram no passado os tiranos dos mares. Eles ocupavam a Escandinávia e deitavam aquelas migrações pelos mares, que iam descendo pelos vários lugares da Europa e que representavam, vamos dizer, a última leva se quiserem, das invasões bárbaras na Europa.
Para se ter uma idéia um pouco de qual era o espírito deles, alguns usavam o título de reis do mar, porque eles eram reis de povos que viviam em barcos e fazendo pirataria de um lado e de outro, de maneira que então reinavam no mar; era mulher, filhos, tudo mais, iam em barcos. Aliás, uns barcos com umas proas lindas, de uma audácia e de uma arrogância de que a Suécia e Dinamarca perderam completamente o segredo. Com a queda das proas, caiu tudo. Falam de “figuras de proa”; a gente poderia dizer que cada povo tem a proa que merece. E quando um povo já não tem mais coragem de ter proa é porque já não vale mais nada.
Eram, entretanto, os grandes inimigos daquele tempo. De maneira que então preparar o povo dele contra essa invasão, era enfrentar o inimigo por excelência.
“Não se enganou em suas previsões. Atacaram os dinamarqueses o Reino inglês. No primeiro combate foram duramente rechaçados, mas unindo esforços num grande número venceram a Santo Edmundo e o aprisionaram em Oxon.”
Era naturalmente porque foi uma primeira leva que atacou o Reino dele, mas eram muitos os que tinham desembarcado em vários pontos da Inglaterra. Concentraram-se e naturalmente esmagaram por seu número grande.
“O chefe e adversário fez várias propostas de paz ao santo rei, que ele recusou por ser contra a Religião Católica e os direitos de seus súditos. Foi duramente supliciado e por fim decapitado. Foi martirizado a 20 de novembro de 870. Um Concílio nacional reunido em Oxford em 1122 tornou obrigatória a festa do mártir. Suas relíquias, inclusive um saltério que usava diariamente, foram venerados na Abadia de Cluny até o surto da heresia protestante.”
Os senhores estão vendo de que se trata. Esse homem foi preso e levado para Oxon, que se não me engano, é na própria Dinamarca e ali ele foi intimado a fazer negociações de paz pelas quais entregava seu reino aos vencedores.
Ora, acontece que ele não queria fazer essa entrega porque seria ceder aos pagãos e favorecer o restabelecimento do paganismo naquele local. Ele resistiu, então e foi martirizado.
Os senhores veem a alta consciência que tinha esse homem – entretanto um filho de bárbaro – do papel de rei, de suas obrigações e das relações entre os assuntos políticos e religiosos.
Hoje se fala frequentemente em separação da política e da Religião… ao mesmo tempo que a Religião mais do que nunca intervém na política e que a política tem pânico de intervir na religião… Naquele tempo, os senhores veem a noção que Santo Edmundo tinha. Sua queda, a implantação de uma dinastia de reis pagãos trariam a paganização do Estado e dos indivíduos. Seria, portanto, a apostasia daqueles povos, a perdição das almas. O nexo entre a vida política, a forma do Estado e a forma religiosa, como ele compreendia isso bem e como então se manteve fiel até o fim. E apesar de ser maltratado por causa de sua fidelidade a Nosso Senhor, assim perseverou, sendo depois martirizado.
Por que razão queriam que renunciasse? Naturalmente porque ele continuava a ter prestígio, senão sua renúncia não adiantaria de nada, era difícil consolidar a conquista enquanto não houvesse uma prova de que o Rei renunciara.
Talvez quisessem até levá-lo ao seu próprio reino para ele declarar aos seus súditos que tinha renunciado. E se ele não quis fazê-lo, foi pela esperança de que seus súditos organizassem uma reação, uma espécie de guerrilha contra o ocupante para salvar a Fé. E Santo Edmundo regou, assim, com seu sangue a esperança de uma restauração católica.
Os senhores considerem que lindo exemplo para os governantes modernos, seja para os civis, seja para os eclesiásticos.
De outro lado, os senhores também observem como o sangue desse rei valeu porque de fato a Inglaterra acabou se cristianizando inteira e até o protestantismo foi uma nação católica que durante algum tempo se chamou a “ilha dos santos”, tal foi o número de santos que lá floresceram.
Com esses dados devemos pedir a Nossa Senhora que proporcione muitos homens de Estado e muitos homens de Igreja que tenham esse espírito.
Porque enquanto os povos católicos, no campo temporal e sobretudo no espiritual, não são governados por homens dispostos a derramar seu sangue, não são dirigidos por quem preste. Só governa bem quem está disposto a ir na fidelidade a seus princípios até o martírio, na fidelidade a seu cargo até o martírio, do contrário não vale de nada.
Assim como um militar que não está disposto a morrer é igual a zero, assim um bispo, um príncipe, um rei, um alto governante que não esteja disposto a morrer para o cumprimento de seu dever é igual a absolutamente zero.
Os altos cargos exigem a alta coragem. São os cargos pequenos que podem se acomodar com o valor moral normal.
Os grandes cargos exigem o grande espírito de dedicação, o grande sacrifício.
Os grandes cargos… Deus o que dá de mais alto a um homem é um cargo? O que vale mais: um cargo ou uma vocação? Não há situações em que uma vocação vale mais do que um cargo?
Pensemos no exemplo desse rei para termos sempre a deliberação de sermos fiéis até a morte, à vocação que a Providência chama cada um.
Fonte: https://www.pliniocorreadeoliveira.info/DIS_SD_701120_Santo_Edmundo.htm#.YZgpEGDMKMo
Plinio Corrêa de Oliveira
557 artigosHomem de fé, de pensamento, de luta e de ação, Plinio Corrêa de Oliveira (1908-1995) foi o fundador da TFP brasileira. Nele se inspiraram diversas organizações em dezenas de países, nos cinco continentes, principalmente as Associações em Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), que formam hoje a mais vasta rede de associações de inspiração católica dedicadas a combater o processo revolucionário que investe contra a Civilização Cristã. Ao longo de quase todo o século XX, Plinio Corrêa de Oliveira defendeu o Papado, a Igreja e o Ocidente Cristão contra os totalitarismos nazista e comunista, contra a influência deletéria do "american way of life", contra o processo de "autodemolição" da Igreja e tantas outras tentativas de destruição da Civilização Cristã. Considerado um dos maiores pensadores católicos da atualidade, foi descrito pelo renomado professor italiano Roberto de Mattei como o "Cruzado do Século XX".
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