Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
3 min — há 4 anos — Atualizado em: 11/23/2020, 5:01:49 AM
Na cidade francesa de Béthune, há mais de 800 anos a Irmandade dos Charitables de Saint-Éloi dá sepultura cristã aos mortos abandonados e àqueles que todos evitam tocar, em decorrência de certas enfermidades. Essa obra existe desde 1188, quando a calamitosa peste negra ceifou a vida de metade dos moradores de algumas cidades europeias. Nessa época o bispo-mártir Santo Elói (588-660) apareceu em sonhos a dois ferreiros, pedindo-lhes que “formassem uma instituição de caridade para enterrar os cadáveres”.
A Irmandade passou por maus momentos ao longo de sua história. A Revolução Francesa, que prometia liberdade e fraternidade, mas era essencialmente igualitária e anticristã, proibiu seus membros de exercer suas funções caritativas, tendo inclusive decapitado três deles. Durante a Segunda Guerra Mundial eles tiveram de desobedecer ao exército alemão, que lhes vetava enterrar 100 combatentes franceses. Felizmente não sofreram reprimenda.
Em suas casas eles se vestem com solene contenção, e suas esposas são responsáveis para que os uniformes estejam sempre impecáveis. O encontro para os sepultamentos acontece na porta do cemitério. Eles rodeiam o carro fúnebre enquanto o prior diz algumas palavras em espírito de oração. Em seguida, acompanhados pela família, penetram processionalmente, com firmeza, pelo portão do cemitério. Os membros da Irmandade constituem a escolta que canta o último adeus para os que deixaram este mundo, realizando “uma cerimônia nobre, como se fosse para um rei”.
Patrick Tijeras, de 55 anos, filho de imigrantes espanhóis, é o mais recente integrante da Irmandade. Trabalha na logística, e afirmou: “O que me levou a entrar na Irmandade foi sua elegância em dar dignidade aos mortos. Estamos lá para lhes oferecer uma cerimônia nobre, como a de um rei. Em Béthune, todos os habitantes um dia serão reis”.
A Irmandade não tem atualmente vinculação religiosa, e provavelmente por esta razão ela não sofreu as devastações da revolução eclesiástica pós-conciliar. Seu atual prior Robert Guénot, hoje com 72 anos, não temeu enfrentar a atual pandemia da covid-19, pois trata-se apenas de mais uma com a qual os Caridosos de Santo Elói tiveram que lidar ao longo de seus oito séculos de existência. No departamento de Pas de Calais há 40 irmandades semelhantes, mas a de Santo Elói é uma das poucas que continuam seu trabalho de apostolado durante a epidemia chinesa.
Desde a Idade da Luz, que foi a civilização cristã medieval, lá continuam eles organizando essa cerimônia para quem quer que seja —sem recursos ou coberto de ouro, sob as bombas de uma guerra ou ante o espectro invisível de uma pandemia. Sem dúvida, uma glória acumulada durante oito séculos, atendendo a um pedido de Santo Elói e sob a sua bênção protetora.
Considerações sobre os funerais e o luto
Outrora o transporte fúnebre era feito a pé, por personagens que caminhavam com fisionomia compungida e passo cadenciado. O aspecto de conjunto do cortejo era grave e solene, exprimindo adequadamente a terrível majestade da morte.
Costumes sociais deste feitio manifestam bem que o homem tomava perante a morte uma atitude de cristão: nem fugia dela espavorido, nem procurava disfarçar sob aparências anódinas o que ela tem de terrível. Pois o filho da Igreja crê na Redenção e na Ressurreição. (Plinio Corrêa de Oliveira, Catolicismo, nº 11, novembro/1951).
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