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Plinio Corrêa de Oliveira
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01/08 – Santo Afonso Maria de Ligório, Bispo, Confessor e Doutor da Igreja


O século XVIII não se notabilizou pela profundidade de sua fé. No entanto, produziu três dos maiores missionários da Igreja: São Leonardo do Porto Maurício, São Paulo da Cruz e Santo Afonso Maria de Ligório, cuja festa comemoramos hoje.

Afonso Maria Antônio João Cosme Damião Miguel Gaspar de Liguori nasceu numa família de antiga nobreza, na casa de campo de seu pai, em Marianella, perto de Nápoles, em 27 de setembro de 1696. Ele foi batizado dois dias depois, na igreja de Nossa Senhora das Virgens, em Nápoles. Seu pai, José de Liguori, homem de grande virtude e probidade, era oficial da Marinha e capitão das Galés Reais. A mãe era descendente de espanhóis, em cujo sangue nós podemos ver uma explicação para a enorme tenacidade de propósito que distinguiu o santo desde seus primeiros anos.

O mais velho de sete filhos e a esperança de sua casa, Afonso foi brilhante nos estudos, fazendo grande progresso em todos os tipos de aprendizado. Não foi enviado à escola, mas educado por tutores sob os olhares do pai, que o fazia praticar o cravo três horas por dia, de modo que aos 13 anos ele já brilhava com a perfeição de um mestre. Equitação e esgrima eram suas recreações, além de um jogo de cartas à noite.

Afonso se tornou Doutor em Direito aos 16 anos, embora a idade fixada pelos estatutos fosse aos 20 anos. Logo depois iniciou seus estudos para a Ordem dos Advogados, começando a exercer a profissão nos tribunais aos 19 anos.

Nos oito anos cheios de trabalho de sua carreira de advogado, nunca perdeu uma causa. Mesmo que haja nisso algum exagero, a tradição mostra que ele foi extraordinariamente capaz e bem-sucedido. De fato, apesar de sua juventude, ele parece ter sido aos 27 anos um dos líderes do tribunal napolitano.

Santo Afonso teve a graça de nascer de pais profundamente religiosos e de genuína fé. Sumamente piedoso e de vida imaculada, D. José queria o mesmo para o filho. Todos os anos, ambos faziam um retiro juntos em alguma casa religiosa. Afonso, auxiliado pela graça divina, não desapontou o cuidado de seu pai. De modo que, de uma infância pura e modesta, passou para a maturidade sem reprovação. Um companheiro, Balthasar Cito, que mais tarde se tornou um juiz ilustre, foi questionado nos últimos anos sobre se Afonso já mostrara sinais de leviandade em sua juventude. Ele respondeu enfaticamente: “Nunca! Seria um sacrilégio dizer o contrário”. Por outro lado, o confessor do santo declarou que ele preservou sua inocência batismal até a morte.

Por volta do ano de 1722, quando Afonso tinha 26 anos, começou a ser atraído pela sociedade e a negligenciar a oração e as práticas de piedade que tinham sido parte integrante de sua vida. Começou também a ter prazer na atenção com a qual era recebido em toda parte.

Mas chegara a hora da Providência. Em 1723 houve um processo nos tribunais entre um nobre napolitano cujo nome não chegou até nós, e o Grão-duque da Toscana, cuja rica propriedade estava em jogo. Afonso foi um dos principais advogados, não sabemos de que lado. Quando chegou o dia, o futuro Santo fez um brilhante discurso de abertura, e sentou-se, confiante na vitória. Mas antes que se chamasse uma testemunha, o advogado adversário lhe disse em tom frio: “Seus argumentos são falhos. Você ignorou um documento que destrói todo o seu caso”. Foi-lhe entregue então uma prova que ele lera e relera muitas vezes, mas sempre em sentido contrário ao que agora via. Afonso ficou pálido, permaneceu espantado por um momento, e em seguida, disse com voz alquebrada: “Você está certo. Eu estava enganado. Este documento lhe dá o caso”. Ele sentiu como se sua carreira estivesse arruinada. Deixou a Corte, dizendo: “Mundo, eu te conheço agora. Tribunais, vós nunca mais me vereis”.

Confiante de que algum sacrifício especial era requerido dele, embora ainda não soubesse qual, não retornou à sua profissão, mas passou os dias em oração, procurando conhecer a vontade de Deus. Após um curto intervalo, em 28 de agosto de 1723 o jovem advogado foi realizar um ato de caridade favorito: visitar os doentes no Hospital dos Incuráveis. De repente, viu-se cercado por uma luz misteriosa; a casa parecia balançar, e uma voz interior lhe disse: “Deixe o mundo e se entregue a Mim”. Isso ocorreu duas vezes.

Afonso deixou o hospital e foi à igreja da Redenção dos Cativos. Ali colocou sua espada diante da estátua de Nossa Senhora e fez uma solene resolução de entrar no estado eclesiástico, oferecendo-se como noviço aos Padres do Oratório.

O pai, entretanto, relutou muito em aceitar. Mas finalmente concordou em permitir que seu filho se tornasse sacerdote, desde que desistisse de sua proposta de se fazer religioso e continuasse a viver em casa. Ao que Afonso, por conselho de seu diretor, concordou.

Em 6 de abril de 1726 foi ordenado diácono, pregando logo depois seu primeiro sermão. E em 21 de dezembro desse mesmo ano foi ordenado sacerdote aos trinta anos.

Por seis anos trabalhou em Nápoles e arredores, dando missões para a Propaganda e pregando aos pobres da capital. Com a ajuda de dois leigos convertidos de uma vida má – Pedro Barbarese e Nardone, professor e velho soldado respectivamente –, ele recrutou milhares dos pobres em uma espécie de confraternidade chamada “Associação das Capelas”, que existe até hoje. Então Deus o chamou para o seu trabalho da vida.

Conduzido pela Providência, Santo Afonso foi morar no “Colégio Chinês”, fundado pelo apóstolo da China, Mateus Ripa. Lá encontrou o Pe. Tomas Falcoia, com quem manteve grande amizade durante toda a sua vida. Muitos anos antes, em Roma, Falcoia tivera a visão de uma nova família religiosa de homens e mulheres, cujo objetivo específico deveria ser a perfeita imitação das virtudes de Nosso Senhor. Depois de várias tentativas, fundou um conservatório para religiosas em Scala. Em 1724 nele ingressou a jovem Julia Crostarosa, que se tornou em religião Irmã Maria Celeste. Ela teve uma série de visões das quais resultou uma nova Regra para sua comunidade religiosa.

Em 8 de outubro de 1730 Falcoia foi sagrado Bispo de Castellamare e quis pôr em vigor a Regra escrita pela Irmã Maria Celeste. Ocorreu que Afonso tinha ido com alguns companheiros a Scala no início do verão de 1730, como era incapaz de ficar ocioso, pregou aos pastores das montanhas com tanto sucesso que o bispo de Scala, D. Nicolas Guerriero, lhe implorou que voltasse para pregar um retiro em sua catedral.

Ao ouvir isso, Falcoia fez análogo pedido a seu amigo, para que desse ao mesmo tempo um retiro para as freiras de seu Conservatório. Afonso concordou com ambos os pedidos, e em setembro de 1730 partiu com seus dois amigos, João Mazzini e Vicente Mannarini. O resultado do retiro para as freiras foi que o jovem sacerdote, que antes tinha sido precavido por relatos em Nápoles contra a proposta da nova Regra, tornou-se seu firme defensor, e até obteve permissão do Bispo de Scala para que ela fosse implantada no convento da Irmã Maria Celeste. Em 1731, o convento adotou unanimemente a nova Regra, juntamente com o hábito vermelho e azul, as cores tradicionais da vestimenta de Nosso Senhor.

Um ramo do novo Instituto visto por Falcoia vira em visão foi assim estabelecido. O outro não demoraria muito. Sem dúvida, o bispo esperava que o ardente sacerdote, que lhe era tão dedicado, pudesse, sob sua direção, ser o fundador da nova Ordem que ele tinha no coração. Uma nova visão da Irmã Maria Celeste parecia mostrar que tal era a vontade de Deus. Em 3 de outubro de 1731, véspera da festa de São Francisco, ela viu Nosso Senhor com São Francisco à direita e um sacerdote à esquerda. Uma voz disse: “Este é aquele a quem escolhi para ser o chefe do Meu Instituto, o Prefeito Geral de uma nova Congregação de homens que trabalhará para a Minha glória”. O padre era Afonso. Logo depois, Falcoia comunicou ao Santo seu desejo de que ele deixasse Nápoles e estabelecesse uma Ordem de missionários em Scala, a qual deveria trabalhar acima de tudo para os pastores negligenciados das montanhas. Assim nasceu a congregação do Santíssimo Redentor.

Como toda obra de Deus, ao longo dos anos a congregação dos Redentoristas experimentou muitos contratempos, divisões e rupturas.

Em 1º de abril de 1733, todos os companheiros de Afonso, com exceção de um irmão leigo, Vitus Curtius, o abandonaram e fundaram a Congregação do Santíssimo Sacramento. Confinada ao Reino de Nápoles, ela foi extinta pela Revolução Italiana em 1860. As dissensões se espalharam até as freiras. A Irmã Maria Celeste deixou Scala para fundar um convento em Foggia, onde morreu em odor de santidade no dia 14 de setembro de 1755. Ela foi declarada Venerável em 11 de agosto de 1901.

Santo Afonso, entretanto, continuou seu empreendimento. Em 1746 a nova Congregação tinha quatro casas no Reino de Nápoles. Em 1749 a Regra e o Instituto dos homens foram aprovados pelo Papa Bento XIV, e em 1750, a Regra e o Instituto das freiras.

O Santo teve também que arcar com o episcopado, sendo obrigado, por obediência, a aceitar a Diocese de Santa Ágata dos Godos.

Durante sua longa vida, sem contar sua última doença, Santo Afonso recebeu oito vezes os sacramentos dos moribundos. A pior de todas as suas doenças ocorreu durante o seu episcopado, quando foi acometido por um terrível ataque de febre reumática que durou de maio de 1768 a junho de 1769, deixando-o paralisado até o fim de seus dias. Foi o que ocasionou em Santo Afonso a cabeça curvada que notamos em seus retratos. No começo era tão curvada, que a pressão do queixo produziu uma ferida perigosa em seu peito. Embora os médicos conseguissem endireitar um pouco o pescoço, no resto de sua vida o Santo tomou as refeições através de um tubo. E nunca mais teria podido celebrar a Missa se um prior agostiniano não lhe tivesse ensinado como se sustentar numa cadeira, na qual, com a ajuda de um acólito, pudesse levar o cálice aos lábios. Mas, apesar de suas enfermidades, Clemente XIII (1758-69) e Clemente XIV (1769-74) obrigaram Santo Afonso a permanecer em seu posto. Em fevereiro de 1775, no entanto, Pio VI foi eleito Papa e no mês seguinte permitiu que o Santo renunciasse à sua Sé.

Santo Afonso escreveu muitas obras, sobretudo de Teologia Moral. As mais conhecidas são “Visitas ao Santíssimo Sacramento” e “Glórias de Maria”. Nesta deixou consignado sua filial devoção à Mãe de Deus.

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