Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
10 min — há 10 anos — Atualizado em: 9/1/2017, 8:50:51 PM
Neste ano em que comemoramos os 450 anos da fundação da cidade do Rio de Janeiro, uma homenagem é a narrativa das batalhas empreendidas “in signo crucis” pela libertação da cidade invadida pelos calvinistas franceses. Após 11 anos de existência, a França Antártica – empreendimento de hereges – chega ao fim na Guanabara, em meio a milagres e prodígios operados a favor dos portugueses.
Durante o século XVI, os estrangeiros que mais fustigaram o Brasil foram os calvinistas franceses.
Tentaram por todos os modos estabelecer-se em algum ponto de nosso território. Isso aconteceu no Rio de Janeiro, em 1555, através do marinheiro Nicolau Durand de Villegagnon, que para aqui veio com a missão de fundar a França Antártica. A origem de sua expedição esteve ligada aos problemas religiosos existentes entre católicos e protestantes na França de então.
O almirante francês Coligny, personagem de realce no governo de Henrique II, rei da França, era um dos principais seguidores da seita protestante dos huguenotes. Foi ele quem planejou fundar uma colônia protestante no Brasil, como asilo para seus correligionários políticos e religiosos, que fossem perseguidos em território francês.
Coligny convenceu Henrique II a colaborar com os equipamentos da expedição, e obteve apoio dos armadores interessados no comércio com o Novo Mundo.
A esquadra de Villegagnon era formada por 100 pessoas em três navios: dois armados e um de alimentos, que chegaram ao Rio deJaneiro no dia 10 de novembro de 1555. Os franceses fixaram-se na baía de Guanabara, na ilha de Sergipe [gravura ao lado], hoje Villegagnon, construindo ali o forte Coligny. Estabeleceram desde o dia da chegada boas relações com os índios tamoios, que desde o início da invasão tornaram-se seus aliados contra os portugueses.
Sentindo necessidade de reforços, Villegagnon pediu-os à França, demonstrando as.vantagens do empreendimento. Outras expedições se seguiram, de caráter colonizador e não militar como a primeira.
No dia 7 de março de 1557, chegaram ao Rio de Janeiro três navios com víveres e demais utensílios necessários à vida da neo-colônia, peças de artilharia e uns trezentos colonos e soldados – e até emissários protestantes enviados por Calvino! – numa esquadra comandada por Bois-Le-Comte, sobrinho de VilIegagnon.
Com o crescimento da colônia calvinista, várias foram as divergências religiosas com os católicos: os sinais de tormenta na França Antártica eram evidentes.
Villegagnon resolveu então regressar à França, numa tentativa de obter mais recursos para a conquista definitiva do Brasil. Sua missão, entretanto, fracassou, pois o rei Henrique II havia falecido e foram tantas e tais as queixas contra sua conduta, que decidiu abandonar a empreitada, não mais voltando ao Brasil. O comando da França Antártica foi entregue a Bois-le-Comte.
Caso se fixasse e crescesse, o estabelecimento dos franceses calvinistas no Rio de Janeiro poderia implicar nas mais funestas conseqüências para a unidade territorial, política e religiosa do Brasil. O comércio e a catequese já começavam a ressentir-se.
A chamada França Antártica degenerou num refúgio de calvinistas. A integridade católica da América corria perigo. Os franceses armaram e acirraram contra os portugueses os indígenas tamoios, que assolavam as costas, roubavam e matavam, e atreveram-se a ir até as portas de Piratininga, hoje São Paulo.
Por outro lado, corsários franceses passaram a interceptar o tráfico entre o Brasil e a Europa. Uma fortaleza francesa no Rio de Janeiro, separando o norte do sul, representava um grande perigo político.
O considerável número de protestantes que veio abrigar-se na Guanabara, transformou-se num grave fator de desordem, pois os franceses traziam consigo tormentas e contendas sem fim. Houve aqui conspirações, traições, fugas, execuções de pena capital, numa miniatura da França de então, abalada pelas dissensões políticas e religiosas.
Um quisto dessa natureza no Brasil, com razão inquietava os portugueses, e as reclamações e descontentamentos começaram em São Vicente, atingiram a Bahia, e daí para Portugal.
Os padres jesuítas, sob o comando de Nóbrega e Anchieta, entraram nesse movimento de opinião, e colaboraram ativamente para a expulsão dos hereges invasores.
No ponto a que haviam chegado as coisas, de duas uma: ou se abandonava o Rio de Janeiro, ou se o conquistava de vez e inteiramente. As situações dúbias equivaliam à morte, pois nem se povoava a terra, nem se convertiam as almas.
Nessa perspectiva, o perigo francês viera tumultuar o quadro.
O terceiro Governador Geral do Brasil na época, Mem de Sá, tinha a expulsão dos franceses como um de seus objetivos.
A 30 de novembro de 1559 chegava à Bahia, vinda de Portugal, uma frota comandada por Bartolomeu de Vasconcelos da Cunha, com a intenção de desalojar os invasores do Forte Coligny, situado numa ilha do Rio de Janeiro.
Mem de Sá não deixou passar a oportunidade, abastecendo a armada com gente de guerra, num total de 120 portugueses e 140 índios, distribuídos em duas naus e oito embarcações. A 16 de fevereiro de 1560 chegou à Guanabara, aguardando alguns dias para receber mais reforços de Santos e São Vicente.
A 15 de março, o governador ordenou o ataque ao Forte Coligny, onde havia 80 franceses e 800 índios tamoios, diz o Padre Nóbrega, em sua crônica da época.
A luta foi renhida durante dois dias e duas noites,quando então os franceses e seus índios aliados abandonaram a fortaleza fugindo todos para o continente.
Não se encontrou nenhum sinal de Religião católica, diz o padre Anchieta. Livro heréticos havia muitos.
O Forte não mais se reergueu na ilha Sergipe, mas os franceses, abrigado nas aldeia dos tamoios, não tardaram a ocupar novas posições no litoral da Guanabara, como na ilha de Paranapuã, atual Governador, e em Uruçumirim, atual Outeiro da Gloria.
Os hereges voltaram a se organizar e prosseguira na luta procurando dificultar as relações entre portugueses e indígenas, difundindo a discórdia entre eles, o que foi resolvido com o famoso armistício de Iperoig (hoje Ubaruba, no Estado de São Paulo) se abstivessem durante algum tempo de assediar as populações de Bertioga e São Vicente, situadas ao sul do Rio de Janeiro. E, dessa forma, a tribo dos tamoios dividiu-se, não podendo os franceses contar com a solidariedade dos indígenas de Iperoig, na medida em que estes deixaram de hostilizar as populações portuguesas da capitania de Sãos Vicente.
Diante das incessantes hostilidades dos franceses, Mem de Sá, voltou a solicitar reforços a Portugal, para expulsar definitivamente os intrusos da região. Atendendo ao pedido, chegou à Bahia, em 1563, uma frota comandada por Estácio de Sá, sobrinho do governador.
Em fins do mesmo ano, a esquadra saía de Salvador, recebendo reforços de gente e barcos no Espírito Santo, chegando ao Rio a 6 de fevereiro de 1564.
Mem de Sá havia confiado o comando a seu sobrinho, investindo-o como capitão-mor da futura colônia. Logo ao chegar à baía de Guanabara, Estácio de Sá apresou uma nau francesa e ocupou a ilha de Sergipe. Mas, hostilizado pelos índios, seguiu a 31 de março para São Vicente em busca de mais reforços para uma ação final.
Na preparação da nova expedição, Etácio de Sá recebeu grande ajuda do Padre Manoel da Nóbrega, que lhe concedeu um capelão militar, o padre Gonçalo de Oliveira, e o Padre Anchieta como cronista.
A 1º de março de 1565 desembarcou na Guanabara, lançando os fundamentos da nova cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, em honra do Rei de Portugal, D. Sebastião, e seu celeste patrono.
Poucos dias depois de sua fundação, as edificações provisórias já seriam atacadas por franceses e índios, e se seguiram investidas constantes, até a vitória portuguesa, quase dois anos depois.
Todos os dias eram de guerra, com ciladas e escaramuças. Mas a presença dos padres jesuítas, a proteção de São Sebastião, padroeiro da cidade desde sua fundação, e a valentia de Estácio de Sá, davam uma coragem religiosa à população, toda ela tornada guerreira, com a intenção única de expulsar o adversário, extinguir a heresia e seu aliado selvagem.
Prolongando-se esta situação, foi expô-la ao Governador, na cidade de Salvador, o Padre Anchieta, além de avistarem-se Nóbrega e Estácio de Sá. Chegaram à conclusão de que era necessária a intervenção no Rio de Janeiro de uma poderosa armada. A 23 de agosto de 1566, Mem de Sá recebeu de Portugal uma frota sob o comando de Cristóvão Cardoso de Barros, com três galeões. O Governador Geral juntou-lhe mais seis caravelões, e foi pessoalmente ao Rio socorrer o sobrinho, lá chegando no dia 18 de janeiro de 1567. O ataque contra os calvinistas franceses foi marcado para o dia 20 de janeiro, festa de São Sebastião.
A primeira investida dirigiu-se contra o forte reduto de Uruçumirim, o maior feito de armas desta conquista. Venceram os portugueses, mas, na batalha, Estácio de Sá foi atingido por uma flecha envenenada no rosto, vindo a falecer um mês depois. Logo em seguida, foram atacadas as guarnições de Paranapuã, que se rendeu após três dias de renhidos combates.
Foram muitos e notórios os milagres e prodígios ocorridos por ocasião da fundação do Rio de Janeiro e dos combates então travados. Conta a legenda que São Sebastião apareceu ao lado dos portugueses na batalha contra os franceses [quadro acima], incentivando-os na investida contra as posições inimigas, no dia de sua festa, 20 de janeiro de 1567. Por outro lado, as flechas atiradas contra os padres jesuítas não os atingiam, o que dava ânimo aos combatentes portugueses.
No final dos combates, os franceses e seus aliados indígenas ficaram com as fortificações arrasadas, sendo suas tropas desbaratadas, o que determinou sua expulsão definitiva do Rio de Janeiro.
Chegava ao fim, desta maneira, o ímpio sonho calvinista de instalação da França Antártica na Guanabara. Venceu o Brasil, triunfou a Civilização Cristã.
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BIBLIOGRAFIA:
1. Padre Serafim Leite, História da Companhia de Jesus no Brasil, t. I, Livraria Portugalia, Lisboa, 1938.
2. Francisco Adolfo de Varnhagen, História Geral do Brasil, Edições Melhoramentos, São Paulo, 1959.
3. História do Brasil, Bloch Editores, Rio de janeiro, 1972.
4. Helio Vianna, História do Brasil, Edições Melhoramentos, São Paulo, 1972.
5. Pedro Calmon, História do Brasil, Livraria José Olimpio Editora, Rio de janeiro. 1959.
6. J. de Souza A. Pizzarro e Araujo, Memórias Históricas do Rio de janeiro, Imprensa Nacional, Rio de janeiro, 1945.
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