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Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo

A Igreja na Idade Média: Papado

Por Plinio Corrêa de Oliveira

8 minhá 3 anos — Atualizado em: 11/26/2021, 4:21:56 PM


Continuamos as aulas do Prof. Plinio sobre a Igreja na Idade Média. Hoje, veremos o Papado.

“Faltava-nos estudar a situação da Igreja dentro da organização política da Idade Média. Mas, como a matéria é extraordinariamente complexa e vasta, de um lado, e como, por outro lado, existem muitas dificuldades em se fazer caber isso dentro de 45 minutos de uma aula, eu acho que o mais interessante consiste em nós examinarmos a matéria considerando-a [no estudo] da posição política do Papa na Idade Média.

O Papa personifica e reúne em si toda a Igreja Católica

Papado na Idade Média

Uma vez que o Papa personifica e reúne em si toda a Igreja Católica, no estudo da pessoa do Papa e da posição da pessoa do Papa se pode entrever todo o resto da situação da Igreja Católica dentro da Idade Média. Para que nós entendamos bem a imensidade das atribuições que o Papa exercia na Idade Média, nós precisamos tomar como ponto de partida dois pressupostos doutrinários.

Um deles foi o que eu dei na aula passada: para o homem na Idade Média era uma coisa certa que a Igreja Católica era a verdadeira. Mas certa não de uma certeza subjetiva e pessoal, mas de uma certeza objetiva, de tal maneira, que qualquer pessoa que quisesse se inteirar do assunto devidamente, e com as retas disposições, com a graça de Deus que não falta a ninguém, chegaria a ver certamente que a Igreja Católica é verdadeira.

Portanto, a veracidade da Igreja Católica era uma coisa tão indiscutível quanto eu posso tomar a veracidade do fato de que há um microfone aqui sobre esta mesa. Nessas condições, nós podemos passar para a análise de outra ordem de idéias.

Lei Natural

Nas aulas do “X”, ele já tratou com os senhores o assunto da lei natural, da lei revelada, mas eu quero lembrar apenas algo sobre isto. A lei natural, no que diz respeito ao homem, leva necessariamente à boa ordem dentro das relações humanas, uma vez que todo corpo que está disposto segundo a sua própria natureza está em ordem. E nós chamamos ordem propriamente isto: é a reta disposição de uma coisa segundo sua natureza.

Meu relógio, por exemplo, está em ordem, porque as várias partes dele estão dispostas segundo sua natureza. Se houvesse alguma coisa disposta fora da natureza de alguma dessas partes, o relógio estaria em desordem.

A ordem entre os homens consiste em que eles estejam dispostos entre si segundo sua natureza, e para que haja bem estar na humanidade, para que haja progresso na humanidade, para que, enfim, toda a organização social tenha o seu devido desenvolvimento, o ponto essencial é que a ordem natural seja atendida.

O homem pode em rigor conhecer essa ordem natural pela sua razão. Mas, de fato, ele não a conhece, porque depois do pecado original a inteligência humana tornou-se sujeita a erro, nós nos enganamos facilmente a respeito das coisas. E nós nos enganamos acima de tudo nas coisas que nos incomodam. E a prova disso é o seguinte: em geral, todos nós temos uma noção muito completa dos nossos direitos; nós temos, porém, uma noção muito menos completa dos nossos deveres.

Por que isso? Por que nós nos enganamos tanto sobre os nossos deveres e tão pouco sobre os nossos direitos? É que a noção dos nossos deveres nos incomoda e a nossa inteligência mais facilmente oblitera as coisas. Nós nos iludimos e tomamos o caminho errado.

Se bem que um ou outro homem possa conhecer todas as regras da ordem natural, é certo, diz São Tomás de Aquino, que nenhum povo pode conhecer pela razão todas as regras da ordem natural. E daí decorre que nenhum povo pode organizar-se segundo as regras da lei natural. Portanto, nenhum povo tem, pela sua natureza, a capacidade de atingir a plena ordem, que é a condição prévia de sua plena felicidade.

Os Dez Mandamentos

Foi por isso, diz São Tomás de Aquino, que Deus revelou a ordem natural nos Evangelhos; e foi do alto do Monte Sinai que Ele ensinou aos homens os 10 Mandamentos para que o homem conhecesse com toda certeza quais eram os fundamentos da ordem natural.

A isso se acrescenta outro ponto: os 10 Mandamentos carecem de interpretação. Nós sabemos disso em nossa vida cotidiana. A toda hora nós temos dúvidas. Por exemplo: não roubar, está bem. Mas tal negócio é roubo? É um problema. A todo momento nós precisamos de interpretações dos 10 Mandamentos.

Por causa disso Jesus Cristo instituiu a Igreja Católica, a instituição que, com caráter infalível, interpreta os 10 Mandamentos. E então, com base na Igreja Católica e com base no Papa, que é a cabeça da Igreja Católica, nós temos a ordem humana bem assentada.

Os homens fiéis à Igreja Católica não podem iludir-se sobre a lei natural nem no seu sentido, nem no seu texto, nem na sua interpretação. Eles têm uma autoridade que interpreta a lei natural para eles: é só cumpri-la. O Papa, como mestre que ensina a lei natural, é o fundamento da ordem no mundo inteiro.

Se nós aceitarmos esse princípio estaremos dentro da Doutrina Católica; se nós não aceitarmos esse princípio, acontece que a ordem natural fica entregue às nossas interpretações. Como acontece entre os protestantes.

Divórcio na Igreja Anglicana

Por exemplo, na Igreja Anglicana, há algum tempo atrás discutiam a questão do divórcio entre os anglicanos. A maior parte dos bispos anglicanos foi contraria ao divórcio. Mas alguns se pronunciaram favoráveis ao divórcio. Como eles não têm uma autoridade infalível, ficaram se olhando como nós nos estamos olhando aqui. Não tinham mais nada o que dizer. “O senhor é a favor? Sim, sou. Pois, eu sou contra. Está bem: o senhor continua bispo em tal lugar e eu em tal lugar”. Está encerrado o diálogo. Não há uma autoridade para decidir sobre um ponto fundamental como é esse ponto do divórcio, e já se abre entre eles uma frincha ( a esse ponto poderíamos ajuntar as discussões atuais entre os Anglicanos da Inglaterra sobre o sacerdócio feminino, episcopado feminino, ordenação de homossexuais, etc., que estão levando os Anglicanos a divisões sem conta ).

Igreja-Estado

Quer dizer, toda a ordem humana repousa, desde que nós sejamos católicos, sob a crença no Papa. Um povo só atinge a plenitude de seu progresso, de sua grandeza, de sua normalidade, se ele obedecer às interpretações que o Papa der sobre a ordem natural. Se nós admitimos isto, então nós compreenderemos facilmente que não há separação entre a Igreja e o Estado. A separação entre a Igreja e o Estado é uma utopia.

O fundamento da vida do Estado é o ensinamento da doutrina da Igreja. O Estado respira, tem como sangue o conjunto de doutrinas da Igreja sobre a ordem natural. De maneira que o Estado, em vez de estar separado da Igreja, não só está unido à Igreja, mas é seu discípulo. A Igreja lhe ensina as leis naturais, em conformidade com as quais têm que estar todas as suas leis.

O Estado é o organismo que faz as leis positivas

Temos aqui definido o 1º ponto das relações entre o Estado e a Igreja. O Estado é o organismo que faz as leis positivas que aplicam a lei natural definida pela Igreja. E o poder da Igreja é portanto um poder muito mais eminente do que o poder do Estado. Estes conceitos explicam uma série de documentos pontifícios importantes, muito significativos da Idade Média.

Assim, nós temos a carta Solitas Benignitatis, do Papa Inocêncio III a Aleixo, Imperador do Oriente no ano de 1201, em que ele dizia que a esfera espiritual, que é a esfera da Igreja, é superior ao Estado, assim como a alma é superior ao corpo. De outro lado, acrescentava ele, a esfera espiritual é como o dia iluminado pelo sol, que é a Igreja; e a esfera temporal é como a noite iluminada pela lua, que é o Estado.

A comparação é muito significativa, pois a lua recebe toda sua luz do sol. Os senhores sabem que isso o Papa não sabia. Mas, enfim, é a realidade das coisas que a lua é satélite de um satélite. Compreendem como fica demarcada a diferença de posição entre a lua e o sol…

O Papa Inocêncio III, ainda numa carta a Oto, rei dos romanos, acrescentava: o Estado é a lua que brilha na noite (na noite dos assuntos temporais) por exercer o poder do gládio entre os hereges atingidos pela cegueira da alma, punir as injúrias feitas a Jesus Cristo e aos cristãos, vingar os malfeitores, exaltar os bons.

Os Srs. imaginem o Papa escrevendo hoje esta carta ao presidente Truman (aula de 1954), para explicar como deve ser organizada a nação norte-americana, dizendo: no governo norte-americano, a Santa Sé é como o sol e o governo norte-americano está para a Santa Sé como a lua está para o sol; e o go

verno norte-americano brilha na noite para [elucidar] os hereges, para combater os inimigos do nome de Jesus Cristo etc. Isto é uma coisa que hoje não se compreenderia. Dir-se-ia, fazendo um mau trocadilho, que o Papa está no mundo da lua.

A Igreja é o Eixo em torno do qual gravita o Estado

Qual era a razão disso? Nós esquecemos completamente a verdadeira posição da Igreja em função do Estado. Nós supomos que a Igreja e o Estado são duas colunas. Não são duas colunas: a Igreja é um eixo e o Estado é algo que gravita em torno desse eixo. Esta é que é a realidade da coisa.”

***

Continuaremos no próximo Post o desenvolvimento do tema.

Os Estados saíram da órbita do Papado e caíram na ditadura da ONU, OMS.

https://www.pliniocorreadeoliveira.info/DIS_SD_1954_Idade_Media_07.htm

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Plinio Corrêa de Oliveira

Plinio Corrêa de Oliveira

557 artigos

Homem de fé, de pensamento, de luta e de ação, Plinio Corrêa de Oliveira (1908-1995) foi o fundador da TFP brasileira. Nele se inspiraram diversas organizações em dezenas de países, nos cinco continentes, principalmente as Associações em Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), que formam hoje a mais vasta rede de associações de inspiração católica dedicadas a combater o processo revolucionário que investe contra a Civilização Cristã. Ao longo de quase todo o século XX, Plinio Corrêa de Oliveira defendeu o Papado, a Igreja e o Ocidente Cristão contra os totalitarismos nazista e comunista, contra a influência deletéria do "american way of life", contra o processo de "autodemolição" da Igreja e tantas outras tentativas de destruição da Civilização Cristã. Considerado um dos maiores pensadores católicos da atualidade, foi descrito pelo renomado professor italiano Roberto de Mattei como o "Cruzado do Século XX".

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