Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
4 min — há 9 anos
Por ter crescido desmesuradamente e se tornado uma cidade cosmopolita, São Paulo perdeu muito de seu charme e se despersonalizou. Hoje em dia, pouca diferença faz estar em São Paulo ou em qualquer outra grande cidade do mundo. Elas se equivalem pelo anonimato de seus habitantes, pela extravagância padronizada dos trajes, pela feiúra uniforme da arquitetura.
Entretanto, São Paulo teve durante muito tempo uma expansão apenas moderada, desenvolvendo com originalidade e bom gosto características próprias. Não se trata de indagar se estas eram melhores ou piores do que as de outras cidades. O importante é que, embora se possam apontar defeitos, São Paulo adquiria com naturalidade as feições que ela era chamada a realizar, nos planos da Providência.
Dessa realidade nos restaram símbolos expressivos. Aqui citamos alguns deles que resistem à invasão da modernidade.
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Comecemos pelo Museu do Ipiranga, com seu soberbo jardim, em cujo extremo o Monumento da Independência abriga os restos mortais de D. Pedro I. O quadro é imponente, grandioso mesmo, mas de uma grandeza amena e acolhedora para com os que ali vão com espírito contemplativo. De algum modo, o local representa a ligação íntima e indissociável de São Paulo com todas as outras regiões deste nosso imenso e querido Brasil.
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Não se pode falar em símbolos de São Paulo sem mencionar o Pátio do Colégio, lugar abençoado do Planalto de Piratininga, em que a figura magnânima de Anchieta, apoiado por Nóbrega, lançou os fundamentos de um colégio para catequizar os índios e iniciá-los nas primeiras letras, intuindo talvez que era a edificação de uma grande cidade que assim se iniciava. A capela que ali se encontra restaurada contém como preciosas relíquias um fêmur de Anchieta e o manto que ele usou. No centro da praça, um monumento à fundação da cidade; e num canto dela um pequeno jardim gradeado, com bancos que permitem um agradável repouso.
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A Estação da Luz, com seu imponente estilo inglês, incorporou-se definitivamente à paisagem da urbe e tornou-se um de seus símbolos. Já foi a principal porta de entrada da cidade. No tempo em que o café constituía o grande produto de exportação do estado de São Paulo, era através da Estação da Luz que as sacas da rubiácea desciam até o porto de Santos para serem embarcadas.
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Toda cidade católica reverencia piedosamente seus mortos ilustres. E São Paulo foi uma cidade muito católica, além de possuir aspectos marcadamente aristocráticos. Essa simbiose católico-aristocrática ainda pode ser percebida no ambiente imponderável do cemitério da Consolação. As grandes famílias que constituíram o cerne da vida social, cultural, política ou econômica da cidade depositaram nesse campo-santo os restos de seus entes queridos que esperam a ressurreição do último dia. Sente-se ali uma paz e uma suavidade cheia de elevação. E, notadamente junto a certos túmulos, um convite à oração calma e esperançosa.
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A este conjunto, necessariamente incompleto, a valsa Lampião de Gás acrescenta alguns itens da memória histórica que podem ser tomados como simbólicos. Apesar de chorosamente nostálgica, foi considerada a seu tempo uma “ode à São Paulo antiga”. Depois de rememorar quadros da cidade de outrora, eis sua última estrofe:
Minha São Paulo, calma e serena,
que era pequena mas grande demais,
agora cresceu, mas tudo morreu,
lampião de gás, que saudades me traz.
Gregorio Vivanco Lopes
173 artigosAdvogado, formado na Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Autor dos livros "Pastoral da Terra e MST incendeiam o Brasil" e, em colaboração, "A Pretexto do Combate Á Globalização Renasce a Luta de Classes".
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