
Com a emenda 77, cada doméstica como que recebe um número, e passa a fazer parte de uma engrenagem. A dona ‒ se aguentar o tranco financeiro ‒ é, como imagina essa lei, aquela mulher ríspida e exigente, que transmite as ordens pelo celular para não falar pessoalmente com a empregada e quer ver o serviço pronto, rápido e sem conversa. Ela não é a patroa, mas a empregadora; há uma diferença de matiz entre as duas palavras. Ainda como essa lei a imagina, ralha por causa das menores irregularidades, e se afunda depois em sua vida de luxo e altíssimo nível. A pobre doméstica se sente tratada com desprezo, como a peça de uma máquina. Sempre segundo o contexto dessa lei, a patroa ‒ desculpe, a empregadora ‒ bem rica para poder pagar os novos encargos trabalhistas, a olha como pelo lado contrário de um binóculo imaginário, que em vez de aumentar diminui tudo enormemente. E depois paga, ou manda seu contador pagar, também olhando pelo lado inverso do binóculo, ou seja, sem um centavo a mais do que manda a lei. (mais…)