Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
4 min — há 8 anos — Atualizado em: 9/1/2017, 8:47:54 PM
No dia 9 de setembro último, desrespeitando proibição do Conselho de Segurança, a Coreia do Norte fez seu quinto teste nuclear, o maior deles. Os três mísseis lançados caíram na zona econômica exclusiva do Japão, o que foi sentido pelos japoneses como ameaça direta para a segurança do país. Zona econômica exclusiva é a faixa situada além das águas territoriais, com cerca de 370 quilômetros. As águas territoriais têm aproximadamente 22 quilômetros. Ou seja, os três mísseis caíram a menos de 400 quilômetros das costas nipônicas.
Poucos dias antes, num comício em Des Moines, Donald Trump, o candidato republicano, repetiu o que já vem garantindo em várias ocasiões: “Vocês sabem, temos um tratado com o Japão. Quando o Japão for atacado, somos obrigados a usar todo o poder e força dos Estados Unidos. Se nós formos atacados, o Japão não precisa fazer nada. Os japoneses podem ficar sentados em casa vendo TV Sony. Certo?”. E foi adiante: “Disseram-me que o Japão paga 50% do custo das tropas norte-americanas lá. Por que não fazê-lo pagar 100%?”
Trump já havia trombeteado a respeito da presença militar dos Estados Unidos no Japão: “Não estou disposto a continuar perdendo essa dinheirama. Francamente, é o caso, eles que se protejam contra a Coreia do Norte”. De momento, os Estados Unidos mantêm 54 mil soldados no Japão e 28 mil na Coreia do Sul.
Inquirido a respeito, Shinzo Abe [foto], o prestigiado primeiro-ministro nipônico, comentou diplomaticamente: “Não importa quem seja o próximo presidente dos Estados Unidos, a aliança nipo-norte-americana continuará a ser a pedra fundamental da diplomacia japonesa”.
O quadro fica mais carregado com as recentíssimas declarações do Rodrigo Duterte, presidente das Filipinas, em visita oficial a Pequim: “Anuncio minha separação dos Estados Unidos, tanto a militar quanto a econômica. Os Estados Unidos perderam. E talvez eu vá à Rússia falar com Putin. São três contra o mundo: China, Rússia e Filipinas”. Aliada histórica e próxima dos Estados Unidos, a República das Filipinas tem por volta de 100 milhões de habitantes e mais de 12 milhões de filipinos vivem no Exterior.
A política norte-americana do pós-guerra teve dois pilares fortíssimos, até agora intocados: no Oriente, aliança com o Japão; no Ocidente, aliança com a Alemanha. Os dois países renunciaram a parte essencial de sua defesa, deixando-a nas mãos da mais poderosa nação da Terra, compelidas, num primeiro momento, pela derrota; depois, confiadamente. Recordo um fato simbólico. Na Berlim dividida pelo Muro e ameaçada pelo Pacto de Varsóvia, em 26 de junho de 1963, diante da multidão que o aclamava, John Kennedy pronunciou o mais retumbante discurso da Guerra Fria: “Há dois mil anos não havia frase que se dissesse com mais orgulho do que civis romanus sum. Hoje, no mundo da liberdade, não há frase que se diga com mais orgulho: ich bin ein Berliner.” E prometeu, louvando o espírito batalhador de Berlim Ocidental, de voltar sempre que necessário. Nunca iria deixar amigos na chuva. Era assim que os Estados Unidos entendiam seus compromissos com as duas nações.
Mais de 50 anos depois, pensemos agora no japonês que foi criado sob o espírito da aliança sino-norte-americana e escutou desnorteado o que Donald Trump disse repetidas vezes com aplauso de correligionários e silêncio em amplos setores democratas. É claro, sente fratura grave no “pacta sunt servanda”. Outro título para o artigo: vire-se.
Escrevo a menos de vinte dias da eleição nos Estados Unidos. Ainda haveria tempo para que os dois candidatos à presidência e os futuramente eleitos para as duas Casas do Congresso reafirmassem princípios da política exterior norte-americana em relação ao Oriente. Tenho lá minhas dúvidas.
É inevitável que no espírito do imaginado japonês do parágrafo acima irrompa torrencial: “Ainda somos os antigos amigos? Até quando os Estados Unidos caminharão conosco? Até onde os Estados Unidos nos apoiarão? Qual o futuro de nossa aliança? Temos diante de nós, com bomba atômica na mão, um inimigo potencial gigantesco, a China. E dirigido por um amalucado recalcado, também com bomba atômica na mão, ameaça-nos um nanico enfurecido, a Coreia do Norte. Em relação a qualquer um deles, teremos um dia de escolher entre a derrota ou a destruição”.
A crescente sensação de insegurança no Japão (observando a China e a Coreia do Norte, além de mirar com suspicácia seu antigo aliado, as Filipinas) tornará mais influentes os que defendem a mudança imediata do artigo 9 da Constituição, o que permitiria enorme aumento de sua força militar, participação em ações militares no Exterior e fazer frente à ameaça nuclear. Muitos japoneses vão achar (já estão achando) que chegou a hora de se defenderem com as próprias mãos e de ter também a bomba atômica para defesa própria, já que as mãos fortes que até agora os defendiam podem abaixar. Em resumo, o Extremo Oriente balança. Confiança é como copo de cristal. Trincado, fica difícil recompor.
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