Em 1958, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira escreveu em Catolicismo, na seção “Ambientes. Costumes, Civilização”, o artigo “Na era dos avós-meninos”.[i] À primeira vista, parecia apenas uma caricatura sobre os costumes daquela época. Hoje, porém, soa como uma profecia. Ele descreveu uma cena familiar diante da televisão: adultos e crianças, igualmente hipnotizados pelas imagens, sem raciocínio nem energia de vontade. Apenas um menino que gostava de ler destoava do conjunto familiar — e era tratado como “esquisito”.

Mais de sessenta anos depois, a cena se repete em escala ainda maior. A televisão deu lugar às redes sociais e aos celulares, mas a lógica é a mesma: adultos infantilizados, crianças adultizadas. A inversão de valores tornou-se regra em nossa sociedade.
Crianças sem infância
A adultização infantil é hoje um fenômeno alarmante. Meninas e meninos são expostos desde cedo a padrões de sensualização e costumes próprios a adultos. O recente debate sobre a exposição de crianças em plataformas digitais mostrou como a inocência vem sendo sistematicamente atacada.
Adultos sem maturidade

No outro extremo, assistimos à infantilização dos adultos. Avós e pais, que deveriam ser exemplos e modelos parecem competir com os jovens em frivolidade. Antes era a cena ridícula dos “mocinhos de sessenta anos” dançando em boates; hoje, são os influenciadores digitais explorando crianças com danças sensuais e até pornografia.
Duas faces da mesma crise
Adultização infantil e infantilização dos adultos são, na verdade, duas faces de um mesmo problema: a recusa da verdadeira maturidade. Crianças são forçadas a pular etapas, enquanto adultos fogem das responsabilidades próprias da idade. O resultado é uma sociedade com valores invertidos.
O caminho para a restauração
A única saída está em revalorizar a ordem natural e cristã: que cada idade viva a sua vocação, que os mais velhos sejam verdadeiros modelos morais e que as crianças sejam preservadas. Só assim se reconstrói a civilização cristã, e só assim se impede que a sociedade inteira se torne uma multidão de “bebês de sensações”, incapazes de pensar, de agir e de se elevar às grandezas do espírito
Contra essa revolução cultural, é urgente resgatar a ordem natural e cristã:
- Proteger a infância da erotização e da exploração midiática.
- Valorizar a maturidade, devolvendo aos mais velhos a função de modelos e exemplos morais.
- Fortalecer a instituição da família com princípios católicos, tornando-a capaz de resistir à pressão dessa revolução cultural.
A velhice, que deveria simbolizar sabedoria e autoridade, muitas vezes abdica de seu posto. Como lembra a Sagrada Escritura: “Ai da terra cujo rei é um menino” (Ecl 10,16). Se já era grave quando governantes agiam como crianças, quanto maior a desgraça de uma sociedade inteira de avós-meninos.
Dr. Plinio já advertia: “Hoje há poucos Reis. Mas temos avós-meninos. E a desgraça parece muito maior…”
De fato, hoje a desgraça é muito maior: além de avós-meninos, temos crianças-adultas — e o mais grave dessa adultização é a erotização infantil, tema tratado com descaso no atual debate público.
[i] https://www.pliniocorreadeoliveira.info/ACC_1958_085_Na_era_dos_avos_meninos.htm