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Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo

Entre lá e cá, muita diferença há

Por Péricles Capanema

6 minhá 7 anos — Atualizado em: 2/14/2018, 4:51:34 PM


Em fins de 2017, Malcom Turnbull, primeiro-ministro da Austrália, denunciou o óbvio, calado pela imensa maioria dos dirigentes contemporâneos. Dos políticos brasileiros no governo, então, nenhuma exceção, o silêncio é total sobre matéria que tem por dever tomar posição. Preocupa ainda o mutismo de setores com responsabilidade institucional relativa à independência e segurança nacionais.

Aliás, já tratei desse óbvio algumas vezes, a primeira em 15 de dezembro de 2015 (Desnacionalização suicida); versava sobre a expansão imperialista da China comunista, no Brasil, em especial pela compra de amazônicos ativos por estatais chinesas. Naquela ocasião, observei:

“Na década de 70 foi usual a palavra finlandização.

A Finlândia havia perdido mais de 10% de seu território para a Rússia, quase 20% de seu parque industrial e, pelo temor do vizinho ameaçador e poderoso, acertava sempre o passo com Moscou, não importava o que fizessem os tiranos comunistas. Aquele antigo e civilizado país, formalmente soberano, de fato padecia uma forma larvada de protetorado.

[…] Com a enorme e cada vez maior presença econômica do Estado chinês entre nós, chegará o dia em que o país, em numerosos assuntos internos, vai ter diante de si potência mundial imperialista. […] Está em curso entre nós um processo que vai levar à perda efetiva da soberania nacional. No fundo do horizonte, terrível perspectiva, nos espera o protetorado envergonhado, mesmo que cuidadosamente disfarçado”.

Agora tenho companhia para gritar comigo, uma delas, a maior autoridade de um dos grandes países do mundo. Que sua advertência sirva de exemplo para nós aqui no Brasil e alhures. Tinham endereço certo as palavras do político australiano sobre “tentativas sem precedentes e crescentemente sofisticadas para influenciar o processo político”.

Referiu-se ainda a “inquietadores informes sobre a influência chinesa”. Estava claro, os relatórios preocupantes tinham origem nos serviços de inteligência do País. Não espanta, pois, que Feng, professor de estudos chineses em Sidney, tenha constatado, mais de 90% das dezenas de grupos da comunidade chinesa no país são controlados por Pequim.

No Japão, Michael Danby, deputado no Parlamento australiano, ecoou as advertências de Tornbull. Fez duro discurso contra o perigo chinês não apenas na Austrália, mas em todo o Sudeste asiático e no Pacífico em geral. Acusou a China de estar agindo como um novo Komintern (a antiga internacional comunista), com presença crescente na economia e na política.

Afirmou ainda que tais esforços são parte da estratégia do PC chinês de “competir com os Estados Unidos globalmente”. Nesse contexto, políticos no Parlamento da Down Under trabalham para aprovar legislação que dificulte a ação imperialista da China na Austrália.

Não é diferente a situação na Nova Zelândia. Cresce ali a consciência do perigo, mas, de outro lado, é generalizada a impressão, o governo já não tem liberdade inteira para agir em defesa dos interesses do País diante da presença intimidante e (vamos usar a palavra precisa) chantageadora da China.

A professora Anne-Maria Brady da Universidade de Canterbury, das mais ativas na denúncia da ameaça chinesa, julga que o governo já concordou, quando nada tacitamente, na aplicação de uma política comum que ela intitula “de não surpresas”. Eventuais advertências sobre a ingerência chinesa serão sempre expressas privadamente.

Exemplo desse fato, nos últimos meses os serviços de inteligência da Austrália e da Nova Zelândia advertiram os dois governos sobre a crescente e preocupante intromissão chinesa nos assuntos internos dos dois países.

A ASIO (Australian Security Intelligence Organisation, em português, Organização Australiana de Inteligência de Segurança) colocou em seu relatório anual destinado ao Parlamento que governos estrangeiros tentam influir abusivamente no país representando “ameaça para nossa soberania, integridade das instituições nacionais e exercício dos direitos dos cidadãos”.

Em outubro último, Duncan Lewis, chefe da ASIO, advertiu parlamentares australianos que é necessário estar “muito consciente das possibilidades de interferência estrangeira em nossas universidades”.

Um dado revelador, a Dollars and Democracy Database da Escola de Direito de Melbourne pesquisou, 80% das doações na Austrália para campanhas políticas dos dois grandes partidos provenientes do exterior entre 2000 e 2016 tiveram como origem a China comunista.

Relatórios cobrindo a imprensa, o mundo dos negócios e as universidades constatam a mesma busca de predomínio. Setores na Austrália se alarmam e gritam. Na Nova Zelândia, com situação semelhante, mutismo total na classe política. Não parecem ser os primeiros sintomas do que chamei acima “protetorado envergonhado, mesmo que cuidadosamente disfarçado”? Finlandização.

A situação da Nova Zelândia levanta gravíssimo problema para a segurança do Ocidente. Cinco países de língua inglesa, aliados especialmente próximos, Estados Unidos, Inglaterra, Canadá, Austrália e Nova Zelândia compartilham dados de seus serviços de inteligência (a chamada Five Eyes Intelligence). Se a Nova Zelândia permitir a crescente ingerência chinesa em alto nível, poderá ser impelida a compartilhar dados sensíveis com a China, parte dos quais recebidos dos outros quatro.

Transformar-se-á no que em inglês se chama o soft belly (ventre mole). A carapaça cobre todo o jacaré, menos o ventre, vulnerável às flechas. Por ali é facilmente morto. Continuará a existir a confiança entre os cinco? Ou a prudência daqui a pouco comandará atitude diversa?

Poderia continuar indefinidamente historiando fatos na Nova Zelândia e Austrália que reverberam no Congresso dos Estados Unidos e provocam faíscas na Inglaterra e até na Alemanha. Mas preciso parar, falta espaço.

E é claro, a respeito de tudo isso, a China comunista ataca, atribuindo as reações à paranoia, ao macartismo e ao racismo. Dispõe de cartas importantes na manga: é o maior parceiro comercial da Austrália, o maior parceiro de bens com a Nova Zelândia e o segundo de serviços. Aliás, o mesmo vale para o Brasil.

Contudo, ainda transcrevo pequena parte do há pouco divulgado estudo feito pelo Eurasia Group para 2018 (está na rede), em geral considerado o mais importante instituto de análise de riscos.

Assinala: “O modelo político da China agora está tão vigoroso como nunca antes — numa ocasião em que o modelo político dos Estados Unidos está enfraquecido”. Continua: “A China está assinando cheques e criando uma estrutura global de poder, enquanto outros estão pensando bilateralmente ou localmente.

O modelo gera interesse e imitadores, com governos na Ásia, África, Oriente Médio, América Latina, atendendo mais as preferências de Pequim. Desde 2008, observamos uma erosão gradual da percepção global sobre a capacidade de atrair das democracias liberais do Ocidente. Agora existe uma alternativa viável. Aqui está o maior risco de 2018”.

Lá. No geral, a Austrália toma medidas sérias, são feitas reuniões no Congresso dos Estados Unidos para tratar do assunto. Um dos mais importantes institutos de análises de riscos coloca a ascensão da China como o maior risco de 2018.

Cá. No Brasil, muitos gabarão os investimentos chineses (mutismo sobre o comando deles por governo e Partido Comunista chinês). Serão comuns hosanas à habilidade de nossos diplomatas, governo e empresários no fortalecimento dos laços comerciais com a China. Nada ou quase nada se encontrará sobre a cautela que toma a Ásia, setores da Alemanha e dos Estados Unidos.

As muitas diferenças entre lá e cá não nos lisonjeiam. Na cara, sintomas de despertar. Na coroa, superficialidade, cegueira e desleixo; deixo de lado cumplicidades eventuais.

Há mais. Terminava o artigo, abri o jornal “O Estado de S. Paulo”. À página dois, Sérgio Amaral, embaixador em Washington, “em caráter pessoal”, trata da volta do mundo bipolar — agora Estados Unidos versus China. Fecha o artigo assim: “Em seguida [a China] expandiu-se pela África e agora avança pela América Latina, como ilustra a magnitude dos investimentos chineses na região”.

Grande passo. Tomara o nosso embaixador, na principal capital do mundo, por fim, enxergue o óbvio.

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Péricles Capanema

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Analista político e colaborador do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira

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