Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
6 min — há 7 anos — Atualizado em: 2/8/2018, 9:40:20 PM
“O Estado de São Paulo, de 30 de janeiro, seção econômica, relata a situação quase desesperadora da OAS, empreiteira baiana atingida pela Lava Jato e em recuperação judicial (a antiga concordata) desde 2015. Antes da Lava Jato, a empresa tinha em carteira 19,4 bilhões; depois da Lava Jato, 5,1 bilhões de reais. Antes da tempestade, faturava 8 bilhões; consegue de momento 3 bilhões de reais por ano. Tinha 120 mil funcionários; agora, 20 mil. Está ameaçada de falência.
Por onde enveredaram os dirigentes buscando a saída do túnel? Procuraram parceria com grandes empresas de engenharia do Exterior, para disputar licitações aqui e em países da América Latina. A OAS entra com a expertise e a execução. A estrangeira põe o dinheiro. Por aí se salvariam a empresa, os empregos,um know-how conquistado com esforço ao longo de décadas. E, via e regra, o controle do negócio fica nas mãos da estrangeira.
Começa o problema. Quais empresas de fora foram escolhidas ou toparam se associar? Norte-americanas? Inglesas? Francesas? Negativo. Todas chinesas. A OAS já assinou contratos em condições favoráveis com a XCMG, fabricante de equipamentos para a construção civil. A XCMG é estatal chinesa (OESP, eufemisticamente, escreve investidores estrangeiros, nem uma vez esclarece que é dirigida pelo governo e PC da China).
Vamos às outras empresas que se associarão à OAS para participar em grandes licitações de obras públicas ou privadas: China Communications Construction Company (CCCC), China Railway Construction Corporation (CRCC) e China Road and Bridge Corporation (CRBC). As três são estatais chinesas. A ampla matéria em nenhum momento traz este fato fundamental, as quatro empresas gigantes com as quais a OAS pretende se associar são estatais chinesas.
Noticia ainda a matéria, outras empreiteiras brasileiras estão interessadas nas parcerias com “os investidores chineses”. Em linguagem crua, por trás, com o Partido Comunista da China e o governo da República Popular da China. Escarrapachando a realidade, são gigantescos trabalhos em comum que — somados a outras iniciativas econômicas ou de natureza diversa do Partido Comunista Chinês — representarão passos importantes no caminhar do Brasil rumo à situação de protetorado efetivo, ainda que não confessado, da China comunista.
Desde o governo FHC, importantes passos iniciais, deslizamos para a tragédia que quase ninguém parece ver com clareza e tem a coragem de denunciar. A situação se agravou nos períodos Lula e Dilma (são irmãos ideológicos dos donos da China e sempre os favoreceram) e continua a piorar no governo Temer. Tomem nota: os que hoje dizem que a situação não apresenta perigo, quando a ameaça virar realidade, dirão que não tem mais jeito, é preciso se conformar.
Coloco um porém em maiúsculas. Pela primeira vez, repentinamente, uma voz poderosíssima deu um basta. Tomara que à voz, coerentemente, se sigam medidas eficazes. Sobre ela falo depois.
Algumas outras pauladas recentes que agridem a soberania e a independência nacionais. Em 2017, a China investiu no Brasil 20,9 bilhões de dólares, o maior valor desde 2010. Esse valor não inclui acordos de empresas privadas chinesas que muitas vezes nem são anunciados. E nem eu estou especialmente preocupado com elas. Minha ênfase é investimento de estatais, dinheiro aplicado aqui, em última análise, por determinação do Partido Comunista Chinês, para aos poucos ir tornando viáveis seus objetivos imperialistas.
Mais uma. Como sabemos, desde 2009, a China é o maior parceiro comercial do Brasil. Trabalha afincadamente para manter tal situação. Em 2017 foi constituído um fundo de 20 bilhões de dólares, do qual participam bancos estatais chineses e empresas brasileiras. Roberto Dumas Damas, professor do INSPER, explica que com o encolhimento do BNDES, os bancos chineses assumiram o papel de financiadores de projetos tocados por empresas da China no Brasil. Vai além na análise e em visão de conjunto constata com frieza que a nação asiática “dá passos largos na direção do posto de nova nação hegemônica do planeta”.
Poderia continuar na mesma direção, mas paro por aqui. Quero logo comentar fato de enorme importância que pode mudar da água (ou do ácido sulfúrico) para o vinho a situação toda. Oficialmente, pela primeira vez, os Estados Unidos, pela voz de Rex W. Tillerson [foto ao lado], secretário de Estado, fizeram advertência duríssima a respeito. Em 1º de fevereiro, Tillerson, na véspera de viagem à América Latina, em discurso lido na Universidade do Texas, Austin, enunciou a política dos Estados Unidos para a região.
Sobre a presença da China começou assim: “Instituições fortes e governos que precisam prestar contas ao povo também garantem sua soberania contra atores predadores que agora estão aparecendo na região”. O secretário de Estado vai direto ao ponto: a soberania nacional está ameaçada porque na região atua gigantesco predador — tubarão, hiena ou harpia, por exemplo.
Continuou o secretário de Estado: “A China, como faz com mercados emergentes no mundo inteiro, em geral com investimentos dirigidos pelo Estado chinês, oferece a aparência de um caminho atrativo para o desenvolvimento”. É resposta direta ao discurso de Xi Ping no 19º Congresso do PC chinês em que afirmou, a China está mostrando com fulgor “um novo caminho para outras nações em desenvolvimento”.
Adverte o chanceler dos Estados Unidos, o caminho chinês troca “ganhos de curto prazo por dependência no longo prazo”. É o segundo golpe seríssimo, (o primeiro, perda da soberania), esse caminho trará dependência. Dependência significa finlandização, satelitização, protetorado.
Avisa ainda o secretário de Estado; “Hoje, a China está ganhando posições na América Latina. Usa seu poderio econômico para arrastar a América Latina para sua órbita”. Órbita lembra planetas e satélites, as palavras são claras, tal política lançará os países da região na condição de Estados satélites, só formalmente soberanos.
Termina o ministro do Exterior com a constatação de que o plano vai mar alto: “A China é hoje o maior parceiro comercial do Chile, Argentina, Brasil e Peru. A América Latina não precisa de novos poderes imperiais. O modelo chinês de desenvolvimento, estatista, é um restolho do passado”.
O discurso foi bem pensado. O que está em jogo hoje na América Latina é soberania, Estados satélites e sociedades com governos estatistas que ameaçarão todas as liberdades, religiosa, política, de empreender, de ir e vir.
E é coisa séria. Repito, pela primeira vez, os Estados Unidos, de forma oficial, denunciam ameaça para o futuro da região e tomam posição. Que consequências advirão das palavras de Rex Tillerson? Não sei. Ninguém sabe. Dependem inclusive da própria seriedade do governo dos Estados Unidos.
Falta explicar o título. Escalafobético, esquisito, extravagante, escangalhado. Lideranças da iniciativa privada e setores do governo ainda se entusiasmam com a ação chinesa no Brasil. Mas o governo de país estrangeiro, a maior potência mundial, está preocupado e adverte gravemente. Estamos diante de traição? Irreflexão? Imediatismo? Patetice? Não é esquisito, extravagante, escangalhado? Circuncisfláutico. Misterioso, obscuro, triste, sorumbático, pretensioso. Padecemos situação misteriosa, de desfecho obscuro, nos galarins vemos gente pretensiosa e sem rumo. É triste, pressagia desastres.
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