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Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo

Etanol, questão de soberania nacional

Por Helio Brambilla

8 minhá 5 anos — Atualizado em: 8/28/2019, 5:40:24 PM


Num momento histórico em que, sob o pretexto de preservar, assistir religiosa e socialmente os cerca de 20 milhões de habitantes da Amazônia, a ONU, ONGs e o Vaticano na realidade trabalham para internacionalizar esse imenso território, saindo o Brasil como o maior perdedor, por deter a maior parte dessa área. O chamado corredor “Triplo A” (Andes, Amazonas e Atlântico) é um exemplo da ameaça que paira sobre territórios de seis países, surripiando cerca de dois milhões de km quadrados [mapa acima].

Com a nossa soberania ameaçada, um dospilares da nossa independência são os combustíveis. Plinio Corrêa de Oliveirasempre defendeu a produção de um combustível alternativo no Brasil. Quandoainda menino, com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, ele sentiu na pele comtoda a sua família e a sociedade brasileira o fato de não termos independênciaem relação aos combustíveis.

Situação não muito diferente ocorreu deforma mais acentuada durante a II Guerra, pois a frota nacional havia aumentadomuito, nossas fontes de abastecimento ficavam todas no além-mar, e ospetroleiros corriam o risco de ser bombardeados.

Com o surgimento da Petrobras na década de1950 a situação não mudou muito, pois ela foi plasmada pelo monopólioestatista, tão em voga no comunismo e no nazismo, e, em vez de confiar nainiciativa privada como, por exemplo, nos Estados Unidos, em que o Estado sóentrava como regulador do mercado, o Estado brasileiro quis monopolizar aprodução e o refino de seu petróleo.

Com as guerras árabo-israelense de 1967 e1973, quase fomos a pique, pois o petróleo subiu assustadoramente, aumentandode forma desenfreada nossa dívida externa. Não sendo economista, Plinio Corrêade Oliveira analisava a situação sob outros pontos de vista. O mais sensível,contudo, era a soberania nacional, refletida nos dois pilares: alimentação emobilidade. A defesa, sem dúvida, é pilar importantíssimo, mas sem comida esem combustível ficaria seriamente neutralizada.

No início da década de 90 — portanto, logodepois de a nova Constituição dita cidadã ter aberto as portas para a esquerdasocialista, colocando inúmeras restrições à iniciativa privada —, conversandocom o saudoso Prof. Plinio num dos intervalos de suas atividades, o assuntoversou sobre os combustíveis e a capacidade de o Brasil se tornar independentenesta matéria tão crucial. Lembro-me que ele arrematou a conversa afirmando queestava disposto a fazer uma campanha da TFP para defender o álcool combustível,posteriormente designado de etanol.

A mentalidade socialista dos governantesda época, com seus tabelamentos e condicionantes, tentava sufocar a indústriasucroalcooleira para favorecer a Petrobras… E havia razão suficiente para fazeremisso! Nos governos petistas apareceu um “tabelamento branco” de combustíveiscom fins populares, mas com a roubalheira escancarada que se comprovou maistarde, o maior prejudicado foi o setor sucroalcooleiro, uma vez que o “tabelamentoda gasolina” afundou boa parte das usinas produtoras de álcool, levando ¼ delasà falência.

Estamos focando tão-só a questão dos combustíveis, pois os 13 milhões de desempregados que ainda vagueiam pelo país o dizem. Agora, parece que as coisas começaram a mudar. No último Congresso sobre Etanol, realizado nos dias 17 e 18 de junho no Centro Fecomércio, de São Paulo, organizado pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar, com mais de 1.500 participantes, o panorama descortinado apresentou desafios, mas a situação é totalmente outra [foto ao lado].

Foram dois dias de painéis, debates e projetos, e com a presença do governador, de vários ministros, senadores, deputados federais e estaduais. Apesar do preço baixo do açúcar no mercado internacional, em virtude dos subsídios de até 20% dados por produtores da Índia e da Tailândia, o Brasil já vem tomando providências junto à Organização Mundial do Comércio para enfrentar esta situação.

Com isto a produção foi direcionada doaçúcar para o etanol, quando atingiremos um recorde de produção, garantindopreço estável da gasolina e quase 50% abaixo no preço do etanol. Por isso,quase metade de nossa frota de 50 milhões de veículos é abastecida com ocombustível pouco poluente renovável e competidor.

Conhecemos um avanço enorme na quantidadee na qualidade da produção de álcool, uma vez que as tecnologias mudaram tantoque hoje produzimos mais de 35 bilhões de litros, ou seja, mais do equivalentea 500 mil barris de petróleo/dia de álcool.

Entraram em atividade duas plantas de usinas, uma em Alagoas e outra em São Paulo, para produzir o etanol de segunda geração, ou seja, extraído do bagaço da cana, do qual se extrai o álcool celulósico, ademais de aproveitar os resíduos usados para aquecer as caldeiras e produzir eletricidade.

A capacidade instalada gera mais energiado que a usina hidrelétrica de Itaipu… Do vinhoto se retira o gás inflamávelpara cozinha, granjas etc. e o resíduo é bombeado como adubo nos canaviais.

Também já são quase dez usinas que estãoextraindo álcool do milho nas regiões da fronteira agrícola, onde a grandeprodução da segunda safra (safrinha) torna competidora a extração. E dosresíduos se fabrica a ração para animais e, em breve, teremos mais três bilhõesde litros de etanol de milho adicionados ao mercado.

A grande novidade, sobretudo, com ofracionamento das passagens aéreas, que fez com que as viagens de ônibus aumentassem20%, foi a apresentação do modelo de automóvel da Toyota com tecnologiahíbrida, ou seja, etanol e elétrica.

O modelo apresentado e testado no anopassado era o Prius, que viajou deSão Paulo a Brasília com êxito total, mas como a plataforma é semelhante à doCorolla, já fabricado no Brasil em larga escala, a tecnologia está sendoaparelhada para a produção em série já em outubro de 2019.

Como já deve ser do conhecimento doleitor, a energia do motor vem de uma bateria alimentada por um ponto externode recarga (tomada), bem como por um gerador interno de combustão, no casomovido a etanol e gasolina, não precisa parar para abastecer, mas numa parada anegócio ou pernoite ela é carregada na tomada.

Na estrada ele gastaria, em média, umlitro de etanol por cada 30 km. Se tomarmos o preço do etanol hoje em São Paulo(R$ 2,39 / litro), um percurso como Rio de Janeiro-Salvador, 1.567 km, seriafeito com apenas 52 litros de etanol, o que corresponde a R$ 124,28. Bastacomparar com uma passagem de ônibus para o mesmotrecho, que custa mais de R$ 300 por pessoa; ou ainda de avião, a partir de R$1.500,00 por pessoa. No caso de um carro com quatro pessoas, pouco mais de30,00 reais por pessoa.

Até a derrocada da Venezuela, a gasolina naquele país era distribuída de graça aos venezuelanos, em razão de suas grandes reservas de petróleo, mas hoje eles precisam ficar até um dia inteiro na fila para abastecer o veículo, em razão do racionamento de gasolina imposto ao país.

Caso não queiram enfrentar a fila têm depagar até U$ 20 no mercado paralelo por 60 litros de gasolina, só que o saláriomínimo deles hoje não chega a U$ 8. E mais. Apenas 40% dos postos estãooperando, pois a manutenção de um carro é muito dispendiosa, uma pessoa precisatrabalhar cinco anos (ganhando o salário mínimo) para pagar uma bateriaelétrica para o veículo (Cfr. “Revista Época”, 10-6-19, págs. 64 a 66).

Na Cuba comunista não é diferente, pois demaior produtora de açúcar do mundo no início do século XX, com oito milhões detoneladas, neste ano só produzirá cerca de um milhão de toneladas, enquanto oBrasil produz mais de 30 milhões de toneladas, e todos os seus produtos jáespecificados.

Enquanto isso, a Petrobras se arrasta paraconseguir sair do “buraco negro” em que foi jogado pelos governos socialistasde FHC, Lula e, sobretudo, Dilma, com um “tabelamento branco” sobre oscombustíveis que somado à roubalheira quase destruiu a petroleira e levou 100usinas de açúcar e álcool à falência.

Na Venezuela, em Cuba e no Brasillulodilmista a história se repetiu. O comunismo e o socialismo levam qualquerpaís à miséria, ou, como bem dizia Margaret Thatcher: “O socialismo dura até acabar o dinheiro dos outros”.

Coincidentemente, enquanto fechava este artigo,saiu notícia relevante sobre as tristemente famosas “campeãs nacionais”, ouseja, as empresas multinacionais brasileiras financiadas pelo BNDS (leia-sedinheiro meu e seu). A Odebrecht pediu recuperação judicial, pois sua dívidaestá em torno de R$ 100 bilhões; a Petrobras melhorou um pouco e deve quase R$300 bilhões, enquanto a JBS deve quase R$ 50 milhões. O PT pensou que com suaexperiência em gerenciar uma lojinha de 1,99 em Porto Alegre — a qual, aliás,faliu —, Dilma seria capaz de governar o Brasil.

*   *   *

De outro lado, todas as previsões são desafra recorde de 238,9 milhões de toneladas (Cfr. “O Estado de S. Paulo”, 12-6-19).Apesar do clima que prejudicou a safra de verão, fazendo que experimentasse até30% de quebra em Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul, a segunda safra,sobretudo a de milho, superou todas as previsões e passou de 100 milhões detoneladas. Com isso no cômputo geral vamos ter os recordes de produção degrãos.

Agradeçamos a Deus e à Padroeira NossaSenhora Aparecida, que nos deram um País de dimensões continentais, com muitaterra agricultável, através da qual o empreendedor rural assegura a soberanianacional com alimentos baratos e abundantes que nutrem mais de um bilhão depessoas mundo afora e geram mais de 30 milhões de empregos, sendo também responsávelpela produção de combustíveis que suprem com folga a demanda,e por mais de US$ 100 bilhões em exportações, preservando 65% da vegetaçãonativa encontrada aqui por Pedro Álvares Cabral há mais de 500 anos.

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Helio Brambilla

Helio Brambilla

38 artigos

Diretor de Paz no Campo e colaborador do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira. É autor de diversos artigos sobre a questão agrária, quilombola e propriedade privada no Brasil.

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