Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
5 min — há 6 anos — Atualizado em: 5/29/2018, 8:08:50 PM
Um jornalista comentou que não estamos na Idade Média, mas na “Idade da Mídia”. Estamos realmente numa era em que as mídias sociais têm um poder extraordinário e pode até derrubar governos. Aliás, foi o que aconteceu com Dilma Roussef: as grandes manifestações que levaram ao seu impeachment foram convocadas pelos aplicativos de celular como o Watsapp. Do mesmo modo aconteceu na atual paralisação dos caminhoneiros.
O governo parece não ter-se dado conta do risco que corria com a política de preços dos combustíveis criada pela Petrobras em meados do ano passado.
Durante algum tempo, o governo Dilma segurou o preço dos combustíveis sem levar em consideração nem sequer o índice de inflação, uma medida própria de governos populistas de esquerda. Isto provocou um desequilíbrio nas contas da estatal, sem contar ainda o desfalque provocado pela roubalheira que o PT vinha fazendo em vários setores do governo.
Para tentar cobrir o rombo da Petrobrás, o governo resolveu atrelar o preço do combustível ao dólar e ao preço internacional do barril de petróleo. Assim, o seu preço variava como uma bolsa de valores. Os reajustes têm acontecido quase diariamente. Na semana que antecedeu a greve dos caminhoneiros, por exemplo, foram cinco reajustes. No total, o aumento foi de 6,98% no preço da gasolina e 5,98 no do diesel.
O diesel não é usado só nos caminhões, mas também nas máquinas e implementos agrícolas e seu preço alto gera um custo adicional para os produtores rurais e aumento do preço final para o consumidor, com reflexo na taxa de inflação.
O preço dos combustíveis teve um reajuste de 8%, enquanto a inflação média do ano foi de 0,92% no mesmo período, segundo o IBGE. As grandes empresas de transporte conseguem, de alguma forma, repassar esse aumento no preço final do frete. Os caminhoneiros autônomos, entretanto, não conseguem fazer isso, e estão com um grande prejuízo.
Desde julho do ano passado, quando a Petrobrás adotou a nova política de preços, a gasolina acumula uma alta de 58,76% e o diesel de 59,32 %, segundo informações da Petrobrás. Para justificar o aumento dos combustíveis, a empresa informou que os derivados de combustíveis são commodities e que os preços estão atrelados ao mercado internacional. Soma-se a isto a pesada carga tributária que, no caso do diesel, chega a 46% e da gasolina, a mais de 50%.
Com essa política desastrosa, a situação se tornou insuportável. Entretanto, só o governo não a via – ou não queria ver –, apesar de ter sido alertado várias vezes pelos próprios caminhoneiros. E isto resultou num movimento espontâneo em todo o Brasil, o qual vem contando com o apoio da população semelhante ao ocorrido nas manifestações pelo Impeachment da ex-presidente Dilma Roussef. Em diversos pontos do País pessoas levaram alimentos, água e cobertores aos caminhoneiros, que tinham o apoio de empresas de alimentação e recebiam o incentivo da população através das mídias sociais. Rafael Cortez, cientista político e sócio da empresa Tendências Consultoria, observou que “a população enxerga no conflito entre os caminhoneiros e o governo uma reivindicação que também é sua: a de redução de tributos”.
O governo quis minimizar a importância do movimento. Na quarta-feira, os ministros disseram que os efeitos da greve não eram tão profundos. À tarde, os ministros Eliseu Padilha, (Casa Civil), Carlos Marun (Secretaria do Governo) e Valter Casimiro (Transportes) receberam delegados de organizações que se diziam representantes do movimento dos caminhoneiros. Por instrução do presidente Temer eles propuseram uma trégua, a qual não foi aceita.
À noite, contudo, o presidente da Petrobrás, Pedro Parente, anunciou que a empresa faria uma redução de 10% no preço do óleo diesel e que manteria esse preço por duas semanas. Ele esperava uma atitude de “boa vontade” dos manifestantes. Mas uma questão dessa importância não se resolve com “boa vontade” nem com promessas evasivas.
Finalmente, na quinta-feira, o governo fez um acordo com entidades sindicais no qual se reduziria a zero a alíquota da CID e 10 % no valor do diesel pelos próximos 30 dias e outros pontos menos importantes. O acordo foi assinado por algumas entidades sindicais. O problema, entretanto, é que o movimento dos caminhoneiros não reconheceu essas entidades como seus legítimos representantes e, enquanto o acordo era celebrado, seus líderes passavam mensagens pelo whatsapp sugerindo a todos os motoristas a intensificar os bloqueios em todo o território nacional.
O presidente Temer ficou satisfeito com o acordo e achou que o problema da paralisação dos caminhoneiros estivesse resolvido. Disse que foi dormir tranquilo e quando acordou no outro dia viu que o Brasil “estava pegando fogo”. E chamou de “minoria radical” aqueles que não aceitaram o acordo.
No entanto, parece que ele “dormia” antes e depois do acordo. Agora, entretanto, acordou para uma realidade que não queria ver. Diante disso, resolveu convocar as forças de segurança nacional para conter essa “minoria radical” que mantinha mais de mil pontos de bloqueios em todo o País.
O governo não percebeu – ou não quer perceber – que tal acordo não resolve a questão do aumento dos combustíveis e que o problema está em sua política equivocada de preços, decorrente da herança maldita dos 13 anos de governo do PT, o verdadeiro responsável por essa paralisação dos caminhoneiros.
Napoleão dizia que é fácil construir um trono com baionetas. Difícil, entretanto, é sentar-se sobre ele. A greve dos motoristas pode acabar devido à repressão das forças de segurança, mas ficará um mal-estar que poderá explodir futuramente, talvez não daqui a muito tempo, com efeitos que poderão ser imprevisíveis.
Seja o primeiro a comentar!