Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
6 min — há 6 anos — Atualizado em: 10/9/2018, 9:43:54 PM
As tendências vêm mudando há séculos. Na moda, nos costumes, na linguagem, e até no pensamento. Sempre num mesmo sentido, apontado pela Revolução gnóstica e igualitária, cujo início foi a Revolução Protestante, seguida pela Revolução Francesa laica e igualitária, e continuada pela Revolução Comunista, requintada pelo anarquismo gramsciano e sorboniano. Quem não as acompanha pode até ficar complexado, sentir-se diminuído, pois é sempre rotulado de “atrasado”.
Para surpresa de muitos, certas tendências estão sendo invertidas atualmente. Na medida em que essa rotação ocorre, ela atinge o homem inteiro, pois no seu cerne está a Igreja Católica. Tal inversão nas tendências acaba de ser analisada por Henri Tincq [foto ao lado] em entrevista para a revista “Le Point”.1 Colaborador regular do “Slate” e do “Le Monde des Religions”, Tincq é um dos grandes bardos do “catolicismo progressista” (atual vanguarda do comunismo) e estudioso de outras religiões. Ele acaba de publicar o livro La Grande Peur des Catholiques de France – O grande medo dos católicos franceses (Grasset, Paris, 208 pp).
Coerentemente com sua posição doutrinária, nessa obra ele lança um gemido de alerta contra “a tentação conservadora, leia-se reacionária” que vê espalhar-se na Igreja Católica, cuja extensão o leva a “não mais reconhecer minha igreja” (a progressista, socialista, sindicalista e contestatária). O catolicismo revolucionário de Tincq foi responsável pela mais formidável mudança de paradigma ocorrida na história da Igreja, gerando na França políticos e sindicalistas de esquerda. Seu equivalente brasileiro se acha articulado na CNBB e no PT.
Mudança de paradigma é um termo acadêmico, aplicado com toda propriedade aos abalos religiosos registrados desde 1965. Poderíamos também falar de Revolução Cultural, por seu paralelismo com a revolução de maio de 68, ou com a revolução de Mao Tsé-Tung para apagar o passado cultural chinês. Não falta quem a identifique com a estratégia postulada pelo doutrinador comunista Antonio Gramsci.
Henri Tincq lamenta que a França se mova hoje num sentido que leva os jovens a abandonar o mundo laicista democratizado e procurar na Igreja Católica os valores seguros da Fé. Procuram-na em sua autenticidade, na Igreja dita “conservadora” e/ou “tradicionalista”. Mesmo em relação a esta, apresentam algumas restrições, pois não escondem certa simpatia pela Fé que impregnava o homem medieval.
Os jovens observados por Tincq não engrossam CEBs ou movimentos equivalentes. Eles participam de manifestações contrárias ao aborto e ao “casamento” homossexual. E o deixam por isso acabrunhado, pois a Conferência Episcopal Francesa — juntamente com a maioria de seu “moderno” clero acima dos 75 anos e seus seminários vazios ou sendo fechados — não ousa contradizer tal reviravolta. A realidade francesa mudou: atentados terroristas islâmicos, ingresso assustador de imigrantes, perda da identidade cultural e religiosa, soberania nacional ameaçada pela União Europeia. Tudo isso, entretanto, vem sendo substituído por uma recusa da hegemonia cultural e moral da esquerda, iniciada em maio de 1968, bem como do laicismo militante contrário aos símbolos católicos.
Certamente Tincq teria ficado ainda mais deprimido, se tivesse lido no site da Unisinos o pranto progressista pelo aumento no Brasil dos inadequadamente rotulados de “catolibãs”.2 Ou ainda a reportagem “Os jovens que não gostam do Papa Francisco”, onde consta esta afirmação de um bispo brasileiro: “Não conheço um único seminarista que goste dele [do Papa]”.3 O autor da reportagem sublinha que “o catolicismo audaz e progressista do Papa” está cada vez mais “cortado dessa parte da Igreja”.
As vocações monásticas tradicionais se multiplicam, o movimento de retorno às liturgias “extraordinárias” (anteriores ao Concílio) cresce, as devoções tradicionais são retomadas. O Brasil caminha na mesma direção. Procurei numa livraria católica de São Paulo o livro Diário de Santa Faustina. Em décadas recentes esse tipo de literatura não seria encontrado naquele local. Enquanto a atendente me oferecia com simpatia a 41ª edição, observei uma imensa variedade de terços nas vitrines, sinal de que a procura é grande. Lembrei-me de que muitos anos atrás eu havia tentado comprar um, mas achei algo digno.
Uma das preocupações de Tincq é saber se a mudança de paradigma do Papa Francisco seria um fenômeno isolado de popularidade midiática dentro da Igreja. Talvez possamos dar-lhe a resposta com o depoimento do jornalista Paulo Germano, no citado artigo da Unisinos, onde registra que quase teve “um ataque cardíaco” ao ouvir de um sacerdote progressista, especializado em juventude, que a rejeição à mudança de paradigma cresce não só entre os sacerdotes, mas “também nos movimentos jovens, com leigos indignados com a recepção de Francisco aos divorciados e homossexuais”. E acrescenta: “Ele é muito respeitado em setores mais laicos da sociedade. Dentro da Igreja, a popularidade é maior entre os mais velhos. Os jovens […] lideram a retaguarda, o atraso, o anacronismo”.
Em Roma, cardeais militam pelo fim da “desordem” criada pela mudança de paradigma e anseiam pelo retorno às leis e doutrinas claras. Tincq teme que o atual pontificado “acabe virando um fogo de palha, um parêntese na história da Igreja moderna. Os católicos não escondem mais que estão aguardando que vire a página”. Mas parece que clama no deserto, quando indaga: “Onde estão as grandes vozes episcopais, os intelectuais católicos de renome [obviamente progressistas ou subversivos] que outrora davam o tom na mídia e no cenário político?”. Trata-se, é claro, de ativistas revolucionários franceses que estiveram na moda, equivalentes europeus de bispos “vermelhos” como D. Helder Câmara, D. Pedro Casaldáliga ou o Cardeal D. Paulo Evaristo Arns; e de ativistas leigos como os que fundaram e dirigiram o PT, muitos dos quais estão hoje presos ou processados por corrupção.
O jornalista e vaticanista francês sabe que tais ativistas não mais atraem boa parcela da juventude. Melhor ainda, se alguém tentar falar no mesmo sentido, não encontrará eco entre os fiéis. O que nos leva a acreditar numa profunda mudança, com vistas a preparar uma parte da opinião pública para receber graças vinculadas às promessas de Nossa Senhora na Cova da Iria: o reinado do Imaculado Coração de Maria.
Notas:
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